Só pode ter sido a Filó
Sou a Filó e me considero uma gatinha com muita sorte, na verdade eu e meu irmão Faísca, pois fomos adotados por uma família humana que nos trata bem e nos dá muito carinho. Tá certo que nossos humanos relutaram um pouco em ficar conosco, acharam que seriam muitos felinos dentro de casa, já que aqui vivem o Kiko-Deim e o tal Alcides (gato cheio das manhas e se achando estrela), mas conquistamos seus corações com nosso jeitinho meigo de ser – nós gatos somos muito espertos.
Gosto muito de caçar todo tipo de bichinhos. Aprendi que muitos têm proteínas e nada é mais delicioso que um passarinho fresquinho. Minha humana e a tia Lucia fazem o maior fiasco quando se deparam com restinho de corpos ou penas dentro de casa, não sei por quê! Além de caçar gosto de brincar de esconder. Como não tenho parcerias, pois os três machos são uns chatos que só querem saber de dormir, me escondo e me acho sozinha entrando por debaixo das mantas dos sofás ou das colchas das camas. Só que na última brincadeira me dei mal, aliás, muito mal. A tia Lúcia, que cuida de nós e da casa, arrumou a cama dos meus humanos, que estavam viajando, com todo o cuidado. Não resisti aquela cama toda esticadinha e, por um descuido dela, entrei no quarto e “vupt” me enfiei debaixo da colcha.
Só não contava com o peso da coberta e a coisa começou a me deixar preocupada, tentava sair e não conseguia, sabia que não adiantava miar alto, pois ninguém me acharia naquele mega esconderijo. A escuridão parecia aumentar e tive a impressão de ouvir risadas de felinos-fantasmas, tipo o gato preto da bruxa má. Que situação! Então, a preocupação passou ao desespero e não teve jeito, tive que usar as armas mais poderosas dos felinos – as garras e os dentes. Ufa, consegui sair e a tia Lúcia nem viu, melhor ainda, fui pra minha cadeira e tratei de dormir.
Chegando da viagem, os humanos nos encheram de carinhos e, com a muvuca própria dos humanos quando chegam de viagem, nem perceberam que a colcha não estava tão alinhada. Mas quando foram dormir, ouvi minha dona impressionada com o lençol rasgado e mordido. Quando, pela manhã, a tia Lúcia chegou foi aquele estardalhaço: - mas como pode, se o lençol estava inteirinho quando arrumei a cama, disse ela. Foi um diz-que-diz só. Na conversa toda, surgiu o veredito – só pode ter sido a Filó.
Pronto me descobriram, mas não fiquei preocupada, pois sei que meus humanos não são de punir seus bichinhos. Eles até que entendem um pouco do nosso jeito de agir, mas fiquei tristinha porque toda a conversa sobre - quem foi quem não foi -, rolou em torno da perda do lençol. Ninguém pensou no meu sofrimento, na minha angústia, no pavor que me levou a tomar uma atitude tão drástica pra sair do sufoco.
Ah queridos humanos pensem, pensem... pensem como nós, animaizinhos, nem que seja de vez em quando!