A águia sobre o junípero

O capitão dos dragões Valentin Proca adentrou a pequena sala de operações táticas do castelo Mondragon, mobiliado basicamente com uma grande mesa de madeira coberta de mapas da Europa Central, e meia dúzia de cadeiras. A um canto, sob uma janela ogival, havia uma mesinha ostentando um telefone preto; da parede oposta, pendia uma bandeira tricolor do Principado da Valáquia, a estranha "Aquila Valahica" em negro no seu centro, segurando no bico uma cruz ortodoxa russa, dourada, com uma estrela vermelha de seis pontas sob ela. O único ocupante do aposento, o major Sanda Morariu, sentado à mesa de frente para a porta, ergueu os olhos dos papéis que manuseava quando o subalterno colocou-se em posição de sentido e prestou continência.

- Senhor, o exército alemão está cruzando a fronteira polonesa neste exato momento... Varsóvia está solicitando a nossa ajuda.

Morariu cruzou os dedos sobre os mapas, e balançou a cabeça em desgosto.

- Pobres diabos... não há nada que possamos fazer para ajudá-los. Talvez os ingleses ou os franceses, mas não nós - avaliou com tristeza. - Quando os alemães passarem por cima da Polônia, virão atrás de nós com gosto de sangue na boca. Ou talvez os soviéticos, já que acabaram de firmar um pacto de não-agressão com os nazistas... mas os soviéticos sabem precisamente do que somos capazes e não creio que nos importunarão.

- Temos um tratado de defesa mútua com a Polônia, senhor - lembrou o capitão. - Acredita mesmo que Bucareste irá se recusar a enviar tropas para a defesa do território invadido?

- Bucareste está ciente da nossa capacidade de resposta, capitão... - retrucou Morariu. - Defender a Polônia contra a invasão de Hitler está além da nossa capacidade; temos que nos concentrar agora em salvar a nossa própria pele, lamentando a dos vizinhos.

E abrindo as mãos num gesto de desculpas:

- Claro, Bucareste provavelmente irá enviar uma ou duas companhias de infantaria para escoltar de volta os civis valaquianos que estejam em Varsóvia, e talvez meia dúzia de aeroplanos de observação, para acompanhar o avanço dos nazistas. Mais do que isso, seria uma estupidez e desperdício de vidas.

Perante a expressão angustiada do capitão, o major indagou:

- Você tem parentes lá, Proca? Se tiver, posso conseguir que seja designado para comandar uma das companhias... partindo do princípio de que o hospodar realmente vai prestar algum socorro aos poloneses.

- Minha irmã caçula, senhor... está cursando medicina em Varsóvia - declarou finalmente Proca, mortificado.

- Compreendo - redarguiu o major, muito sério. - Mas, lembre-se: além dos nazistas, o exército polonês talvez não fique muito satisfeito ao saber que só estaremos entrando em seu território para resgatar o nosso pessoal. Será uma incursão extremamente perigosa, e você terá que entrar e sair rapidamente. Se for capturado pelos alemães, pode ter certeza de que será torturado até a morte para revelar o que sabe sobre nossas defesas.

- Eu estou disposto a correr o risco, major - afirmou Proca. - E prefiro morrer a cair nas mãos dos nazistas.

- É bom que esteja com isto bem claro na mente - retrucou Morariu, erguendo-se e retirando o fone do gancho. Discou um número de três dígitos e após alguns segundos, pronunciou com voz pausada:

- Telefonista, ligue-me com o Palácio Golescu... general Tugurlan. Sim, eu aguardo.

Alguns minutos depois, a ligação foi completada em Bucareste.

- General... a guerra aproxima-se de nossas fronteiras - declarou Morariu, sem meias-palavras.

[Continua em "O Coração da Valáquia"]

- [02-03-2019]