"DESEJO 07"
Ela guardou uma raiva surda e engoliu em seco, mas nada disse. Já estava começando a achar que seria capaz de ameaçá-lo com uma arma, sabia que isto poderia açular mais ainda os instintos de macho do seu compadre e continuou calada, pensou em seu marido Antonio Jesuino, riu ao lembrar que seu marido não gostava do primeiro nome.
DESEJO 07
“Antonio”, por causa da birra da religião católica, sempre se referia a ele mesmo como Jesuino e todos o tratavam assim, mas se era para se referir a ele sem a sua presença todos faziam questão de chamá-lo pelo nome do santo que ele não gostava e os amigos sabiam que era por motivos religiosos, “sendo na região nordeste predominante o catolicismo” e era também de pirraça que se referiam a ele no primeiro nome. Se o chamassem de Antonio, ele chamava a atenção da pessoa e perguntava sisudo: desde quando eu lhe dou esta liberdade, se quer ter meu respeito me trate como eu me apresentei para o senhor e vou repetir para que não se esqueça, eu me chamo: “Jesuíno”! Já havia feito inimigos por causa disto, como era figura importante na sua frente todos o chamavam assim. Ela às vezes quando ficava de picuinha com ele o chamava de Antonio e ele ficava em silêncio engolindo o sapo, se retrucasse ela ficaria de cara amarrada vários dias, pois sempre tinha razão nas suas zangas. Mas se estava em paz com ele, ela o chamava de querido, meu amor e mais algumas palavras carinhosas. Ele sempre a chamava de bem!
Marcelo já tinha subido pelo outro lado da charrete e tomando às rédeas fazendo os movimentos e mudando as palavras para o cavalo andar. Depois de cinco minutos já na estrada, passaram às margens do grande açude cercado com arame farpado colocados com oito fios e considerado um desafio, já que o máximo normal são quatro fios, “acima disto é considerado acinte” Marcelo viu dois fios cortados na parte inferior da cerca, sabia que era ação de pescadores e soltou uma imprecação. Seu patrão mantinha ali peixes de várias espécies e só permitia pescarem lá, ele seu compadre e as esposas e de vez em quando trazia pessoas de importância como convidados e nestas ocasiões criava um roteiro completo terminando em churrasco muita bebida e as rodadas de biscas ou trucos... “jogos de baralho”. Nem os empregados mais antigos tinham esta permissão, de vez em quando alguns vagabundos entravam a noite e deixava os arames cortados para espicaçar o dono. O capataz parou desceu e foi amarrar os fios, voltando com cara de poucos amigos e aproveitando para conversar com Judite: - (Um dia ieu vô pegar um safado dessis e vou inforcá o marditu nu gaio da figuera e laigá apudrecenu lá)! Judite disse, nunca vai saber quem é, agora ficam vários meses sem aparecer. –(É mais um dia nas rondas qui ieu façu di noite ieu dô sorti i pegu um. O cumpadi vai ficá brizundunga condi subé). Ele continuou falando, e fez algumas perguntas sobre se ela tinha ouvido determinada noticia, mas sem passar ao terreno que estava doido para entrar. Chegaram à cidade e ela foi para o banco enquanto ele aguardava com a charrete próxima ao local tendo amarrado o cabresto do cavalo no varal ao lado do prédio e colocado ali apenas para este fim.
Ela demorou lá dentro menos de meia hora e com o dinheiro na bolsa saiu, tomando antes o cuidado de se mostrar na porta do banco sem descer os quatro lances de escada do moderno edifício do banco do Brasil. Marcelo atento, desamarrava o animal e o puxava até encostar-se à escada e de onde não precisava ajudar Judite a subir, pois, ela aproveitava o ultimo degrau e ficava fácil alcançar o assento do coche, um alivio para ela e um desagrado para o compadre sempre a fim de se encostar-se a ela nem que fosse só por obrigação. Mandou que ele fosse à loja de miudezas e quando a charrete encostou, um dos funcionários trouxe um banquinho para ela descer, este era um serviço grátis fornecidos à bons clientes ou seja: os que pagavam a vista suas compras. Escolheu vários tipos de linhas para bordar e algumas novidades vindas da Europa, principalmente da frança, pois, Paris sempre é quem ditou à moda no mundo e o que vinha de lá, quem podia comprava e Judite podia se dar ao luxo. Foi ao armazém geral, nossa versão de, “General story americana” Comprou a farinha de trigo que Maria encomendara comprou uma garrafa de champanha francesa e mais algumas garrafas de vinho português de melhor marca decidida a tomar um pileque qualquer noite que estivesse se sentindo muito sozinha em casa. Resolvido tudo se dispôs a retornar, queria almoçar a comida de costume de sua boa Maria que a estaria esperando, mesmo sabendo que no campo o almoço de todos era às dez horas, isto na sede da fazenda, os empregado no mais tardar nove horas já teriam almoçado, perfeitamente explicável, pois começavam a lide antes do nascer do dia, quinze horas jantavam e à noite faziam a ceia. Sabendo que ficaria faminta antes de chegar, ela comprara algumas brevidades, uma espécie de biscoito muito gostoso e que desmanchava ao ser colocado na boca, era uma das coisas que não abria mão sempre que ia à cidade. Pois, Maria não gostava de fazer, mas gostava de comer, por isto Judite embrulhava separados alguns pedaços e levava para ela, um mimo que emocionava Maria, deixando-a com lágrimas nos olhos.
Logo que saiu da cidade, ela abriu a sacola retirou um biscoito para ela e ofereceu ao seu compadre, ele pediu a ela que tirasse porque sua mão estava suja e preferia não enfiá-la no saco de papel. Ela o fez e entregou a ele, repetindo o feito. Quando ele terminou de comer o primeiro, e assim até acabarem os biscoitos, quatro para cada um. Quando terminaram, talvez acreditando que este gesto tenha aberto o caminho para a petição, sim porque em Minas Gerais neste tempo “pedir para uma mulher era equivalente a cantar uma fêmea” e Marcelo não ia deixar em branco esta oportunidade, só que em vez de ele pedir simplesmente a moda mineira clássica exemplo: - (aqui cumadi Juduti, eu tô querenu fazê é um trem bão cocê boba e faiz tempo cô tô de zói nas suas partes de agradu dus homis)! Não, que isto? Não o Marcelo! Ele estava apaixonado e tinha que pedir para valer e com elegância, por isto ele partiu para a imploração completa. Judite o viu guiar a carroça para a sombra de um grande pé de moringa. “Árvore, considerada milagrosa no nordeste por ter a propriedade de limpar água, o liquido amarelo dos poços quase secos em tempos de estiada era colocado num vasilhame, e misturado colocava-se alguns galhos desta planta, duas horas depois toda a sujeira saia agarrada aos galhos e folhas, o processo é usado até nos dias de hoje” Quando a charrete ficou completamente na sombra, ele disse uma palavra de ordem e o animal estacou.
Quando eu puder eu posto mais um pouco, desculpem não estar comentando ninguém, mas quem sabe em breve eu volte a fazê-lo? Um abraço galera.