"DESEJO 05"
RECORDAÇÃO DA ÚLTIMA POSTAGEM
O velho senhor, por sinal primo da sua esposa chorou de alegria e por sua vez contou que os filhos dela trabalhavam ali para sobreviver, depois da morte do Barão Jacinto, a fazenda estava às moscas, já havia dois anos que não vendiam café e os colonos plantavam tudo o que podiam comer: arroz, feijão, e milho de péssima qualidade, pois, usavam sementes da própria safra.
"DESEJO 05"
Das vinte famílias que se estabeleceram ali, algumas tinham partido e restaram apenas os parentes de Yasaní e mais uma família que não era parente deles. Ao todo apenas seis famílias num total de quarenta e seis pessoas entre adulto e crianças e quinze escravos capacitados a trabalhar, o restante tinham sido vendidos para manter a fazenda, dos vinte capangas do barão só ficou um que era o capataz. Alexandre pediu sigilo ao velho senhor, mas ao mesmo tempo pediu que ele reunisse as famílias italianas e transmitisse-lhes uma proposta dele, “para todos”. A proposta é que eles deixassem a fazenda e fossem com ele para Pernambuco explicando também que já tinha um navio esperando por eles no porto de Santos e urgia resolverem logo a questão. Depois de ouvirem a proposta, disseram, que iriam de bom grado, mas tinham o problema das dividas com a viúva baronesa agora proprietária da fazenda. Alexandre foi conversar com a mulher que não colocou obstáculos desde que pagassem as dividas e deixasse as lavouras, uma injustiça, já que estava na hora da colheita.
Os empregados quiseram protestar, mas Alexandre os fez ver que não teria importância, pois, eles não precisariam. Depois explicou ter adquirido mais uma grande fazenda que teria trabalho para todos e na implantação eles receberiam viveres, remédios e salários iniciais. Acertou as dividas exageradas dos colonos, não que fosse muito dinheiro, mas o que eles deviam não valia nem um quarto do que tinham consumido em sal remédios e ferramentas. Tudo acertado iniciou-se o êxodo das pessoas em direção ao porto de santos aonde chegaram oito dias depois, o dobro do que a comitiva gastara na ida devido às crianças e mulheres, algumas velhas e outras esperando bebê. Alexandre antes do embarque comprou roupas para todas as pessoas, e mais peças de tecidos suficientes para confeccionarem muitas outras. Comprou botas e remédios que eles disseram estarem precisando, embarcou todos no navio e como a equipe que havia ido a S. Paulo já tinha regressado, partiram.
'Doze dias depois desembarcaram em Pernambuco e Yasaní chorou e abençoou aquele homem que não apenas a salvara, mas dava-lhe a certeza de amá-la como ninguém mais o faria. Os filhos foram morar com a mãe e os irmãos que não conheciam, mas apesar de rudes, eram mansos e cordatos logo conquistando a todos na casa. Esta primeira geração da família de Judite viveu com riquezas e conforto, na segunda geração começou a decadência. O velho Alexandre se foi aos sessenta e dois anos, sua querida Yasaní viveu mais seis meses apenas, “dizem que ela perdeu o gosto pela vida”, depois da partida do homem a quem tanto amou. Os herdeiros alguns até formados em universidades na Europa. Voltaram cheios de sonhos de grandeza. Metendo-se a comprarem usinas de produção de açúcar em grande escala comprando caríssimos equipamentos e enfrentaram à concorrência de Cuba e outras ilhas do Caribe que conseguiam produzir mais barato e tendo a vantagem da distância para os principais compradores. O resultado é que a terceira geração já perdeu quase toda a pompa e riqueza deixada por Alexandre e Yasaní.
A quarta geração, “esta última a de Judite”; Viviam agora em propriedades próprias, mas pequenas e sem muita importância, mesmo assim considerados classe média alta da época. O ano era mil novecentos e vinte e oito e Lampião assolava o nordeste sendo constante noticia no país. Apesar de sempre existir o medo de que ele resolvesse entrar em Pernambuco, as coisas andavam calmas e a vida seguia em frente. Judite era casada com Antonio Jesuíno de Carvalho Meneses, “um homem bonitão e famoso por seu tirocínio nos negócios e empreendimentos”, por isto mesmo vivia em constantes viagens de negócios no Brasil e no exterior. Judite vivia na pequena, mas bela fazenda! Tinham alguns empregados, dos quais Marcelo um amigo da sua família e compadre sendo ela e o marido padrinhos dos dois filhos dele e da esposa, “sua melhor amiga”.
Judite era formada como professora e ministrava aulas para adultos durante a noite recebendo para isto o suficiente para ter seu dinheiro e gastar com enfeites ou alguma coisa de moda que queria usar. Não que precisasse: seu marido sempre viajando para a Europa, lhe trazia presentes caros e jóias de muito valor que ela preferia guardar e só usava quando saía com Antonio. Judite sabia que o marido tinha fama de garanhão e entre cochichos de empregados e às vezes até uma mulher a fim de atrapalhar a vida do casal, veio lhe contar que a fulana, a tal fulana era outra fofoqueira viu seu marido bebendo com aquela francesa recém-chegada à cidade. Judite já ouvira falar da tal francesa que fazia misérias na cama com os homens, simplesmente respondeu para a fofoqueira: - eu o deixei ir e caiu na gargalhada, a mulher ainda quis dizer mais alguma coisa, mas ela ouviu de Judite – ainda esta aqui? A mulher nunca mais se aproximou dela. Judite sabia que seu marido bonitão estava sempre atrás de um rabo de saias, mas nunca lhe deixava faltar carinho, sempre que chegava ia procurá-la para uma ou duas noites de sexo de melhor qualidade, aí conforme o tempo que ficava em casa, ele alternava ficando às vezes até três dias sem procurá-la, quando isto acontecia, ela já esperava que ele fosse viajar em breve. Fingia que não desconfiava de nada, mas até pensava que um dia também faria uma viagem para alguma cidade mais distante e ia meter nele um bom par de chifres, só para empatar um pouquinho a coisa.
Seu compadre Marcelo do qual ela era madrinha do casal de gêmeos já com cinco anos, vivia tirando a roupa dela com os olhos, sempre que seu marido viajava, lá vinha ele solícito perguntar se ela não estava precisando de algo e dava um jeitinho de espichar a conversa, ela o tratava com seriedade, mas por dentro ria das pretensões do seu compadre, nunca dava chances para ele levar a conversa para um terreno de intimidades. Só que com o tempo, ele começou a demonstrar seu interesse libidinoso por ela de maneira mais clara. Desta vez com um elogio na sua voz inconfundível de mineiro: - (aí cumadi, o cumpadi Antoin é besta di laigá ocê susinha aqui i vivê viajanu, ocê ta uma muié bunita pur dimais uai). Ela aceitou como brincadeira retrucando: - é compadre, você é que não pode ficar viajando muito, porque a comadre é um mulherão! Ele ficou meio sem graça, mas mesmo assim aproveitou para dizer: - (é, num é feia não, mais a cumadi da di deiz nela). Com esta Judite deu-lhe as costas e entrou em casa gritando um: - já vou Maria, “esta era sua empregada”, mas não tinha chamado, foi o pretexto que Judite encontrou para sair às pressas deixando Marcelo na porta.
Ela sabia que isto não iria frear um ímpeto do seu compadre, não achava que ele estava errado e que não deveria tentar trair a esposa com sua melhor amiga, isto é coisa de macho, de quase todas as espécies, mas mulher é espécie pensante, dominante cheia de manhas desde tempos imemoriais! Um dia ela iria dar o troco no marido. Só que se ela fizesse cem listas, Marcelo estaria fora de todas elas. Ele era até bonitão, másculo, alto e de porte atlético sem ser exagerado. Pelo que sabia da própria amiga, quando se juntavam para jogar conversa fora: era dono de uma ferramenta e tanto, mas mesmo ela avaliando-o como um macho que agradaria a qualquer mulher, o carinho e a amizade por sua comadre a fazia mandar a periquita sossegar o grelinho e nem admitia, que ela batesse palminhas quando o compadre a olhava com aquele olhar de jaguar faminto querendo pular em cima da presa. Esta foi a primeira vez que ele ousara assediá-la claramente, mas sabia que se ele chegara a este ponto é porque tinha vencido todos os seus receios e o desejo é que estava comandando suas ações. Teria que pensar em alguma coisa para dar-lhe uma lição que o fizesse desistir desta ideia, mesmo que ele a odiasse depois. Seu marido tinha viajado há apenas uma semana e provavelmente iria demorar no mínimo dois meses e meio para voltar.