No prego
 
 
 
Ruth e Daniel resolveram passar as férias viajando pelas belas praias do nordeste.  Os dois estão na chamada melhor idade – para quem acha isso, outros, discordam desse termo. Daniel era o condutor e D. Ruth era a responsável pelo mapa. Não gostavam de GPS, essas coisas modernas poderiam dar problema e estragar a viagem. Por segurança preferiam o mapa. Além disso, seu celular era um modelo pouco avançado, não gostava de ficar trocando de aparelho, menos ainda mudar de marca, pois teria que aprender tudo de novo.
 
Passaram pelas lindas praias de Barra Grande e Luís Correia no Piauí; deram uma esticadinha e foram conhecer Camocim e Jericoacoara no Ceará. Depois, foi a vez dos Lençóis Maranhenses. Daniel ainda fez questão de retornar à Pedra Caída, um lugar do qual guarda boas lembranças - quando ainda não era conhecida pelos turistas -, lá nos idos dos anos 80.

D. Ruth queria conhecer a Serra das Confusões e visitar o Museu do Homem Americano, mas Daniel insistiu que não se mistura praia com múmias e pinturas rupestres, assim, seguiram viagem (na verdade ele tem medo de alma penada mais que da morte).

Foram para a Paraíba conhecer o São João de Campina Grande. No dia seguinte seguiram viagem. O amigo Paraguassu tinha indicado que fossem conhecer uma praia interessante em Tambaba. Disse-lhe que era muito parecida com as praias do Piauí, que se lembrava  de quando a visitou, há uns 40 anos, e que a areia era tão limpa quanto as do Piauí.  Piauiense como só ele consegue ser, não podia deixar de conhecer algo assim.

Quando chegaram a Tambaba, tinha uma placa bem grande dizendo: “proibido usar biquíni nessa praia!”. Daniel ficou tentando entender o significado. D. Ruth - grande profissional das letras - respondeu-lhe que era porque todos deveriam usar roupas decentes como short ou maiô. Devia ser uma dessas praias familiares e conservadoras. Daniel, ressabiado, diante de tantas outras placas, resolveu perguntar  a um moço que passava.

- Moço, essa praia tem várias placas indicando como se deve comportar. Você pode me explicar o que significa?

O moço olhando para os dois e vendo o físico atlético de ambos, mas já sofridos com a inexorabilidade do tempo imaginou que o casal realmente não tinha a menor noção de onde estava.

-Senhor, essa praia é de nudismo. Só pode entrar nu.
 
Os dois  saíram sorrindo. Só então entenderam o que significava a placa que dizia que se alguém ficasse “assanhadinho” seria expulso.  Daniel pensou consigo mesmo que na sua idade ficar "assanhado" era motivo de orgulho e não de expulsão. Mas, precisava definir qual meio usaria para matar Paraguassu, se lento ou doloroso.
 
 Seguiram viagem.
 
Enquanto passeavam à beira de uma linda  praia  em Alagoas,  cujo mar estava um pouco revoltado,  D. Ruth deixou a lente cair no mar. Daniel tentou ajudá-la. Enquanto procuravam a lente - que estava mais difícil que achar agulha no palheiro-, veio uma forte onda  e  derrubou os dois. Conseguiram se levantar, mas os óculos de Daniel sumiram. Um pescador da região disse-lhes  que esperassem que na próxima lua cheia o mar devolveria o óculos  no mesmo lugar. Era lua nova, ainda e o cara era pescador, né!
 
Ruth  insistiu que deveriam procurar logo um jeito de fazer outros óculos, mas Daniel,  além de cego era teimoso feito uma mula.  Assim, seguiram viagem para a região do Rio Grande do Norte.
 
Inicialmente, Daniel ainda conseguiu dirigir direitinho, mas à medida que o sol se fazia em pino a visão foi ficando turva. Até que chegaram numa encruzilhada e eles não sabiam para onde seguir. Ruth pegou o mapa, mas não conseguia lê o que estava escrito. As placas  pareciam um quadro negro sem letras.
 
Ficaram parados esperando que alguém passasse para perguntar a direção. Mas, não passou uma alma viva. E nem morta! Então, seguiram numa direção qualquer.

Finalmente, chegaram num local onde uma senhora vendia lanches para os viajantes. Pedira-lhe que olhasse o mapa, infelizmente ela não sabia lê, via o mapa, mas nada entendia. Para resolver o problema, indicou um orelhão onde eles poderiam ligar para alguém.


Contudo, perceberam que não viam nada dos números no orelhão. Mas, Daniel tinha memória fotográfica, aproveitou-se dessa sua habilidade para relembrar onde ficava cada número do aparelho até que conseguiu ligar para sua filha.

- Querida, precisamos que você olhe o mapa para mim e sua mãe.
- Painho, onde vocês estão?
- É isso que queremos saber! 
- Minha filha, estamos no “prego”.

 
A ligação estava muito ruim, uma chiadeira que parecia ter um boi na linha.  
 
- Como assim no prego?  Furou o pneu? Precisam de um reboque?
-Sim. Acione o seguro e peça para mandar um reboque.  
 
Duas horas depois o reboque chegou ao local.
 
- Senhor, não entendo qual o problema do seu carro. Sua filha disse que estavam no prego. Mas, seu carro não tem defeito algum.
- O carro não, mas eu tenho. Estamos no prego de leitura meu amigo.

 



Dedicado a um amigo que muito me honra com sua amizade. A vida não seria a mesma sem tê-lo a discordar de mim, fazendo-me rever meus próprios conceitos ou aprimorá-los. E dedico, em especial, a sua amada esposa que é a prova  viva que o amor tudo suporta kkk.



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