"DESEJO 02"

MIRO

( REQUERDO)

O capanga designado para o serviço era um cafuzo de quarenta anos chamado de Jeromi, ficou espreitando e quando viu uma boa oportunidade, ele agarrou à mulher e tapando-lhe a boca carregou-a para o mato. Yasaní se debatia, mas fraca não teve forças para lutar com o musculoso e atarracado individuo

DESEJO 02

Se ele a tivesse matado, naquele momento, teria cumprido bem sua missão, mas a mulher apesar dos três filhos tinha apenas vinte e um anos e era muito bonita, de porte alto. “Magro, mas sem ser ossuda”. Jeromi nunca tinha se deitado com uma mulher branca e achou que antes de matá-la poderia se divertir e depois acabaria com sua vida. Foi o que tentou fazer, mas neste instante entrou em cena outro personagem desta história... João Moreno que era filho de um branco com uma negra, sua mãe era nagô e considerada de traços finos e bonitos, com nariz bem feito e o corpo nas proporções certas. O dono das terras a tomou como amante e até lhe deu boa vida tendo um filho com ela, não reconheceu o filho e vendeu os dois para outra fazenda.

A sina da sua mãe era servir de pasto para os brancos e novamente virou amante de outro português, O garoto crescia rápido e logo era um moço sadio e forte trabalhando com gado e deixando Teodoro, “o português” satisfeito a ponto de nomeá-lo chefe de todos os escravos. João se enrabichou por uma escurinha e os dois passaram a viver juntos num casebre cedido pelo patrão. Só que um dia o português que vivia cobiçando Maróca como se chamava a mulher de João, numa das viagens do rapaz que saiu em comitiva levando uma partida de gado para vender em São Paulo, Teodoro foi até o casebre e estuprou Maróca, ela estava esperando um filho já com três meses de gravidez.

A mulher ficou desesperada, amava seu homem e agora ela pensava que ele simplesmente não iria querê-la mais. Antes de João voltar, ela subiu num penhasco de mais de cinquenta metros de altura e se atirou de lá. Os patrões eram sempre vigiados pelos escravos, e se não podiam se livrar das mazelas que eles lhes infligiam, pelo menos ficava sabendo do que eles eram capazes. Duas mulheres viram quando o patrão entrou na casa de Maróca, mas fazer o que? Não apenas os patrões, mas os capangas brancos as pegavam quando dessem na telha, era raro uma que não perdesse a virgindade a força com um branco, geralmente quando começava a puberdade ou até mais novinhas.

Depois do enterro da garota, feito num recanto perto de uma capoeira destinada apenas a escravos, os comentários se espalharam em cochichos abafados, entre os mais de quarenta escravos da fazenda. Quando João chegou e soube do ocorrido, ele chorou sua desgraça. Fingindo com grande dificuldade, ele foi até a casa grande para acertar as contas com o assassino de sua mulher e filho. Triste, mas com uma raiva surda dentro dele, evitava até olhar o patrão que descaradamente ainda lhe deu os pesares pela morte da mulher. As contas de João eram sempre certas e nem iam ao escritório, estavam na grande mesa da cozinha com a patroa dona Gertrudes, e os onze filhos de Teodoro. João Moreno abafou o ódio e continuou a trabalhar disfarçando o que sabia.

Até que um dia o patrão foi procurá-lo numa invernada onde ele cuidava de uma novilha bernenta e ficava bastante afastado dos demais vaqueiros. Quando ele viu o patrão vindo em sua direção, desenrolou o laço e como se fosse prender a novilha aguardou, Teodoro falou com ele sorridente, pode se preparar e separe mais trinta cabeças que você vai de novo a São Paulo, João respondeu: - esta certo! Montou a cavalo dando a volta por trás do fazendeiro e num rápido movimento laçou o pescoço de Teodoro que não teve tempo para nada, Foi puxado com violência e atirado ao chão, João tocou seu cavalo a galope pelos pastos até que não ouviu mais os gritos do homem. Desmontou e com a faca cortou a garganta de Teodoro, que nem sentiu tal fora o estrago causado pelo arrasto entre paus e pedras.

Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 26/12/2018
Reeditado em 26/12/2018
Código do texto: T6535909
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