ECORDAÇRÃO
Vestiu-se, chamou seu belo cavalo e, assobiando uma melodia antiga, selou o animal se dispondo a voltar à venda do português para saber as novidades, e também tentar rever a fogosa Juversina, que tanto o tinha impressionado e a quem devia uma aposta que pensava seriamente em cumprir, pois não era homem de faltar a compromissos firmados. Quando entrou no povoado, desta vez depois de dar uma volta muito maior e vir de novo pelo outro lado, notou que tinha alguma coisa errada, não sabia o que era
TROVULINO 05
Antes de entrar na venda descobriu, notando o movimento de crianças na rua, isto por ser sábado e não ter aula e mesmo quem trabalhava nas lavouras neste dia sempre dava um jeitinho de enrolar e não fazer nada. Era uma maneira de o povo dizer que era dono do próprio nariz e se bastar com pouco, pois, não tinha qualquer ajuda ou incentivo dos governantes que sempre deixavam grandes latifúndios nas mãos dos coronéis que detinham as terras mais férteis por gerações incontáveis sem produzirem nada, apenas para dizerem: - “Em qualquer direção que a vista alcançar você estará olhando para as minhas terras”.
Ao entrar encontrou o português lavando os copos, e como se diz: “o bom lenhador sabe o mato que tira lenha”, fez questão de cumprimentar o moço com um bom dia mais cordial, mostrando uma cara de satisfação, mesmo sendo mais falsa que o beijo do Judas. O pistoleiro fez de conta que não notou, conhecia o suficiente das pessoas para saber que se o tal vendeiro tivesse coragem, daria cabo dele. Assim não teria que dividir a mulher e era exatamente o que o português estava pensando.
Para espicaçá-lo S. R. S. resolveu contar as peripécias vividas à noite com a Juversina. Começou pedindo café e um pão sovado, logo que foi servido falou entre um gole e outro de café: - Esta mulher tem mesmo fogo na rachulina, ela é da pá virada. O vendeiro ficou interessado, mas... Respondeu apenas um, pois-pois e o rapaz continuou: - Você acredita que ela fez o marido dela segurar a lamparina para se atracar comigo? Aí o português abriu a boca e xingou um palavrão (ai Jisuis, cadela).
O rapaz riu gostosamente com o efeito que causara e continuou: - Ela sabe o macho que encontrou, por isto não teve medo e ainda fez à maior gemeção enquanto o marido chifrudo ficava segurando a lamparina bem alta para alumiar a metengüencia. Tão espantado quanto zangado, o português só repetia: - Cadela, ora, pois – pois, cadela, o sujeito ria e ai foi contando os detalhes escabrosos da aventura, sabendo que logo todo o povoado iria saber do ocorrido, menos o excelentíssimo marido corneado, sempre o ultimo a saber dos galhos.
Desta vez o destino não estava muito disposto a ser traçado conforme as vontades do pistoleiro, que sempre fazia seus caminhos curvar-se na direção que ele determinasse. Dois garotos filhos do povoado, que eram apadrinhados por um saci - pererê ou pelo menos as peraltices eram iguais às do moleque perneta, estavam atrás da porta. Primeiro apenas querendo saber quem era o cavaleiro que parecia rico e de repente eles poderiam arranjar algumas balas doces com ele em troca de algum favor como cuidar do cavalo ou outra coisa que ele precisasse, mas, depois que ouviram as primeiras palavras do narrador, ficaram quietos.
Do local em que se achavam puderam acompanhar todo o relato, que era um prato cheio para dois garotos infernais como eles. Mal o rapaz acabou de contar o caso eles saíram para procurar outros garotos e armarem as estripulias como diversões. Depois de ver a Juversina chegar à janela e fazer um sinal que ia para o rio, o garboso pistoleiro pensou logo em safadeza e riu cinicamente,
S. R. S Acertou sua despesa e saiu cumprindo o mesmo ritual do dia anterior indo para dentro do povoado e depois atravessando o rio e voltando pela outra margem. A mulher não estava no mesmo lugar e ele a avistou trezentos metros rio abaixo e um pouco distante da margem, onde a mata ciliar era espessa, logo que percebeu que ele a tinha visto, entrou na mata e seguindo uma trilha sombreada foi sair na beirada da água. Alguns minutos depois chegou o rapaz, com fome de sexo, nem se deram ao trabalho de cumprimentarem-se. Já partiram para “o pode vir que eu to querendo”. Só depois de satisfazerem os selvagens instintos é que iniciaram a conversa que começou com as gozações da aventura na noite anterior, enquanto entravam na água para se banharem e refrescarem-se do calor que já começava a fazer o efeito de costume, comum no nordeste.
Enquanto isto Trovulino que tinha ido à lavoura terminar a capina de um eito, retornara trazendo um balaio na cabeça com raízes de mandioca. Deixou a carga em cima da pedra e caminhou em direção à venda do português na intenção de tomar uma cachaça, pois: chifrudos também são gente de carne e osso e bebem pinga. Nisto um bando de garotos, com idade entre onze e sete anos, surgiram próximos à venda começaram a gritar em direção a Trovulino, hei sua lamparina de quenga, ô lamparina de quenga e antes que houvesse uma reação do homem, saíram correndo em direção ao povoado fazendo uma tremenda algazarra.
Não houve reação nenhuma de Trovulino, mesmo por que não tinha entendido nada, sempre era respeitado por todos inclusive as crianças, que só agiam assim por que um homem que faz o que ele fez não merecia na concepção das crianças mais nenhum respeito, ainda estranhando entrou na venda e comentou com o português, - que meninada besta, me chamando de lamparina de quenga e tem dois sobrinhos meu no meio, se eu pegar eu capo eles, onde já se viu me colocar apelido e sair zoando? Esta molecada de hoje não tem respeito.
O português chegou a tremer os bigodes só de pensar que o homem poderia vir a saber do acontecido. Por mais pacato que o bom homem fosse, neste caso, ele viraria um leão e faria o que se chamava no nordeste daqueles tempos de uma desgraceira, onde corria tanto sangue que urubu ficaria rondando por meses o local da chacina. Serviu a cachaça para Trovulino, que tomou de um trago e mandou repetir a dose e encher o copo. Mentalmente ele sentia que os meninos sabiam de alguma coisa que ele nem imaginava, mas que estava fazendo seu coração bater bem mais forte dentro do peito. Ao longe ele avistou seu irmão com os dois sobrinhos sendo puxados pelas orelhas, vindos em direção à venda e o coração bateu mais afoito adivinhando que alguma coisa não estava certa.
Falou para o português sem olhar a cara deste, olhe la, num falei? Meu irmão já vem trazendo os dois, ele não tinha falado nada daquilo, mas entre surpreso e até contente ele viu o irmão se aproximar e já pensou que os meninos iriam ser punidos pelo agravo. Se quando ele mostrou ao português a cena, ele tivesse olhado para sua cara, teria visto como ela estava verde de tanto medo que o português sentia. O irmão do Trovulino entrou na venda empurrando os dois garotos e nervoso disse para eles repetirem o que tinham lhe falado.
O vendeiro vendo que o caldo ia engrossar para o lado dele. Tentou escapulir caminhando para o lado da porta no que foi contido pela voz do que havia chegado - corre não que eu lhe mato. O português parou de chofre, quando ele olhou para o homem este empunhava uma peixeira de quinze polegadas e disse fique encostado no balcão do lado de dentro.
O homem tremia que nem vara verde, aí foi à vez de trovulino perguntar ao irmão. – Ô chente o que se assucede Zequinha? José seu irmão respondeu: - (ocê viu os mininos chamano ocê de lamparina de quenga? Pois foi o que eles escuitô de um cabra que tava contando pro purtuguêis que tava cumeno sua muié e ocê tava sigurano a lamparina pra eles ficá na safadeza de noite lá no quintá de ocêis nos pé de amora.) Terminou de falar e ficou aguardando a reação do irmão, que ficou por um longo período digerindo a conversa e tentando entender o que tinha acontecido.
Quando assimilou a sua desgraça, não precisou da confirmação das crianças, sabia que eles estavam falando a verdade. Pediu ao irmão para sair com os filhos e ir para casa, o irmão pensou em protestar, mas a cara de Trovulino não dava lugar a dúvidas. Apenas foi saindo, com os meninos seguros pelos braços e foi-se embora procurar os outros dois irmãos por que a desgraceira estava pronta, só restava agora seguir o curso dos acontecimentos.
Ao entrar encontrou o português lavando os copos, e como se diz: “o bom lenhador sabe o mato que tira lenha”, fez questão de cumprimentar o moço com um bom dia mais cordial, mostrando uma cara de satisfação, mesmo sendo mais falsa que o beijo do Judas. O pistoleiro fez de conta que não notou, conhecia o suficiente das pessoas para saber que se o tal vendeiro tivesse coragem, daria cabo dele. Assim não teria que dividir a mulher e era exatamente o que o português estava pensando.
Para espicaçá-lo S. R. S. resolveu contar as peripécias vividas à noite com a Juversina. Começou pedindo café e um pão sovado, logo que foi servido falou entre um gole e outro de café: - Esta mulher tem mesmo fogo na rachulina, ela é da pá virada. O vendeiro ficou interessado, mas... Respondeu apenas um, pois-pois e o rapaz continuou: - Você acredita que ela fez o marido dela segurar a lamparina para se atracar comigo? Aí o português abriu a boca e xingou um palavrão (ai Jisuis, cadela).
O rapaz riu gostosamente com o efeito que causara e continuou: - Ela sabe o macho que encontrou, por isto não teve medo e ainda fez à maior gemeção enquanto o marido chifrudo ficava segurando a lamparina bem alta para alumiar a metengüencia. Tão espantado quanto zangado, o português só repetia: - Cadela, ora, pois – pois, cadela, o sujeito ria e ai foi contando os detalhes escabrosos da aventura, sabendo que logo todo o povoado iria saber do ocorrido, menos o excelentíssimo marido corneado, sempre o ultimo a saber dos galhos.
Desta vez o destino não estava muito disposto a ser traçado conforme as vontades do pistoleiro, que sempre fazia seus caminhos curvar-se na direção que ele determinasse. Dois garotos filhos do povoado, que eram apadrinhados por um saci - pererê ou pelo menos as peraltices eram iguais às do moleque perneta, estavam atrás da porta. Primeiro apenas querendo saber quem era o cavaleiro que parecia rico e de repente eles poderiam arranjar algumas balas doces com ele em troca de algum favor como cuidar do cavalo ou outra coisa que ele precisasse, mas, depois que ouviram as primeiras palavras do narrador, ficaram quietos.
Do local em que se achavam puderam acompanhar todo o relato, que era um prato cheio para dois garotos infernais como eles. Mal o rapaz acabou de contar o caso eles saíram para procurar outros garotos e armarem as estripulias como diversões. Depois de ver a Juversina chegar à janela e fazer um sinal que ia para o rio, o garboso pistoleiro pensou logo em safadeza e riu cinicamente,
S. R. S Acertou sua despesa e saiu cumprindo o mesmo ritual do dia anterior indo para dentro do povoado e depois atravessando o rio e voltando pela outra margem. A mulher não estava no mesmo lugar e ele a avistou trezentos metros rio abaixo e um pouco distante da margem, onde a mata ciliar era espessa, logo que percebeu que ele a tinha visto, entrou na mata e seguindo uma trilha sombreada foi sair na beirada da água. Alguns minutos depois chegou o rapaz, com fome de sexo, nem se deram ao trabalho de cumprimentarem-se. Já partiram para “o pode vir que eu to querendo”. Só depois de satisfazerem os selvagens instintos é que iniciaram a conversa que começou com as gozações da aventura na noite anterior, enquanto entravam na água para se banharem e refrescarem-se do calor que já começava a fazer o efeito de costume, comum no nordeste.
Enquanto isto Trovulino que tinha ido à lavoura terminar a capina de um eito, retornara trazendo um balaio na cabeça com raízes de mandioca. Deixou a carga em cima da pedra e caminhou em direção à venda do português na intenção de tomar uma cachaça, pois: chifrudos também são gente de carne e osso e bebem pinga. Nisto um bando de garotos, com idade entre onze e sete anos, surgiram próximos à venda começaram a gritar em direção a Trovulino, hei sua lamparina de quenga, ô lamparina de quenga e antes que houvesse uma reação do homem, saíram correndo em direção ao povoado fazendo uma tremenda algazarra.
Não houve reação nenhuma de Trovulino, mesmo por que não tinha entendido nada, sempre era respeitado por todos inclusive as crianças, que só agiam assim por que um homem que faz o que ele fez não merecia na concepção das crianças mais nenhum respeito, ainda estranhando entrou na venda e comentou com o português, - que meninada besta, me chamando de lamparina de quenga e tem dois sobrinhos meu no meio, se eu pegar eu capo eles, onde já se viu me colocar apelido e sair zoando? Esta molecada de hoje não tem respeito.
O português chegou a tremer os bigodes só de pensar que o homem poderia vir a saber do acontecido. Por mais pacato que o bom homem fosse, neste caso, ele viraria um leão e faria o que se chamava no nordeste daqueles tempos de uma desgraceira, onde corria tanto sangue que urubu ficaria rondando por meses o local da chacina. Serviu a cachaça para Trovulino, que tomou de um trago e mandou repetir a dose e encher o copo. Mentalmente ele sentia que os meninos sabiam de alguma coisa que ele nem imaginava, mas que estava fazendo seu coração bater bem mais forte dentro do peito. Ao longe ele avistou seu irmão com os dois sobrinhos sendo puxados pelas orelhas, vindos em direção à venda e o coração bateu mais afoito adivinhando que alguma coisa não estava certa.
Falou para o português sem olhar a cara deste, olhe la, num falei? Meu irmão já vem trazendo os dois, ele não tinha falado nada daquilo, mas entre surpreso e até contente ele viu o irmão se aproximar e já pensou que os meninos iriam ser punidos pelo agravo. Se quando ele mostrou ao português a cena, ele tivesse olhado para sua cara, teria visto como ela estava verde de tanto medo que o português sentia. O irmão do Trovulino entrou na venda empurrando os dois garotos e nervoso disse para eles repetirem o que tinham lhe falado.
O vendeiro vendo que o caldo ia engrossar para o lado dele. Tentou escapulir caminhando para o lado da porta no que foi contido pela voz do que havia chegado - corre não que eu lhe mato. O português parou de chofre, quando ele olhou para o homem este empunhava uma peixeira de quinze polegadas e disse fique encostado no balcão do lado de dentro.
O homem tremia que nem vara verde, aí foi à vez de trovulino perguntar ao irmão. – Ô chente o que se assucede Zequinha? José seu irmão respondeu: - (ocê viu os mininos chamano ocê de lamparina de quenga? Pois foi o que eles escuitô de um cabra que tava contando pro purtuguêis que tava cumeno sua muié e ocê tava sigurano a lamparina pra eles ficá na safadeza de noite lá no quintá de ocêis nos pé de amora.) Terminou de falar e ficou aguardando a reação do irmão, que ficou por um longo período digerindo a conversa e tentando entender o que tinha acontecido.
Quando assimilou a sua desgraça, não precisou da confirmação das crianças, sabia que eles estavam falando a verdade. Pediu ao irmão para sair com os filhos e ir para casa, o irmão pensou em protestar, mas a cara de Trovulino não dava lugar a dúvidas. Apenas foi saindo, com os meninos seguros pelos braços e foi-se embora procurar os outros dois irmãos por que a desgraceira estava pronta, só restava agora seguir o curso dos acontecimentos.