TROVULINO 03


Recordação


          Para não dar muito na vista, ele pegou a direção que atravessava o povoado e após sair do outro lado, deu uma longa volta e retornou margeando o rio que naquela época estava com pouca água sendo fácil atravessá-lo em qualquer lugar. Do local onde seu cavalo andava a passo lento entre a vegetação bem batida pelos cabritos, ele avistava facilmente a outra margem onde, em menos de quinze minutos avistou a morena. Antes de se aproximar deu uma boa olhada nas redondezas, mas ali não havia ninguém, a maioria dos garotos àquela hora estava na única escola do povoado, ou estava nas lavouras ajudando os pais nos afazeres, que exigiam sempre a ajuda dos filhos para conseguirem sobreviver.
 
TROVOLINO

     Atravessou o rio devagar e foi se aproximando da mulher, que vinha acompanhando seus movimentos desde que o avistara. Sem pressa, apeou da montaria e amarrou o cavalo em um arbusto por trás de uma moita mais espessa, para que ele não fosse visto por quem passasse na estrada. Depois se sentou numa das muitas pedras da margem e quebrou uma haste de capim. Colocou entre os lábios e ficou olhando a morena surrando a roupa e mostrando um belo par de coxas, enquanto movia todo o corpo no ritmo das batidas da roupa na pedra e exagerando no rebolado do traseiro. Batia e aumentava a força à medida que se sentia admirada, e olhava o pedaço de mau caminho, aumentava o tesão redobrava as cacetadas com a calça na pedra, se fosse uma coisa viva já estaria sobrando só o couro e em tiras, ficaram neste jogo por um bom tempo provocando os nervos.

     O predador deixou a vítima ir até onde ele sentiu que a adrenalina já estava quase fazendo a morena explodir em êxtase. Levantou-se e chamou a mulher, que só esperava por um sinal e simplesmente jogou a calça em cima das outras roupas na bacia e caminhou em direção ao garboso demônio que riu cinicamente envolto nas chamas de desejo. Para ela era só o que existia e o que importava naquele instante. Atirou-se nos braços da luxuria e como uma suçuarana no cio urrava e tentava arrancar as vestes que atrapalhavam o contato da sua pele com o fogo que ela queria que a queimasse. Ele, perfeito conhecedor destes ataques histéricos agarrou seus braços e com uma bofetada seca a fez entender quem mandava. Logo a seguir colou seus lábios nos dela, num beijo daqueles de tirar o fôlego e sem tirar-lhe toda a roupa, mostrou para ela apenas que era um macho ansioso por uma fêmea, aplicando seus conhecimentos de anos de estudo.

     Após o primeiro embate, onde o garanhão banhou por duas vezes as entranhas da morena, sucessora da Madalena antes do arrependimento. Ele se dispôs a conversar e quando ela perguntou seu nome ele deu-lhe só as iniciais, parodiando os costumes dos vaqueiros do sul que sempre frisavam esta espécie de apresentação cantada em toadas sertanejas em todo o país. Este era um charme a mais e ela sabendo das muitas razões que tem um pistoleiro para não revelar sua identidade não insistiu. S-R-S eram as iniciais de Serafim Ribanceira Silva, que ele não gostava de falar pelo fato de não gostar do nome escolhido pela mãe, que por não saber quem era o pai colocou o nome do seu avô no registro de nascimento. Raro para as pessoas pobres que às vezes morriam sem ter este tipo de documento por serem os cartórios, existentes só em cidades comarcas.

     Ficaram no sobe e desce, toma lá devolve cá, pelo menos até o sol estar já bastante baixo no horizonte. Ela disse que tinha que ir para casa, pois o marido logo regressaria da lavoura. O rapaz para provocá-la perguntou se estava com medo. Ela riu gostosamente e depois chasqueou: - E eu lá sou mulher de ter medo de marido cabra? Marido comigo leva chifre e se eu cismar, ainda faço-o segurar a lamparina e iluminar a metengüencia. Isto foi à tônica para que o rapaz sempre a procura de desafios, retrucasse que duvidava que ela tivesse coragem para realizar uma empreitada assim. Ela perguntou: - Quer apostar? – ele respondeu na hora: - Quero. – Pois então esta será a aposta: se eu não tiver coragem, você pode fazer comigo o que desejar, até matar ou me fazer de escrava para trabalhar na zona para você. Se eu fizer você me dará dinheiro para ir embora para a capital e que dê para me sustentar um ano. Cabra sem medo, abusado, topou a parada.

     Ela falou: - Reparou que no fundo da minha casa tem uma porção de pés de amoras? Pois se não lhe faltar à coragem, hoje ainda, lá pelas dez horas da noite me espere lá que eu vou dar para você e o corno ainda vai alumiar. – Pois vou estar lá não me faça de besta, se me fizer de trouxa acabo com sua vida. - Eles se atracaram mais uma vez e, depois de uns dengos ela foi-se embora sem culpa e cantando feliz, com a bacia de roupa sem terminar de lavar na cabeça ela caminhou de regresso a sua casa. Ao chegar o português estava olhando com um ar de reprovação. Ela só para machucar o brio do amante deu um sorriso descarado em sua direção, fez um biquinho, mandou-lhe um beijo, explodindo depois numa gargalhada que repercutiu por toda a rua e o obrigou a entrar na venda. Com medo agora, até de ela contar para o outro amante, ela era gostosa, mas tinham outras sem tantos riscos.

S. R. S voltou pelo mesmo caminho que fizera antes, e depois de reentrar no povoado, foi direto para a venda onde, depois de entrar, pediu um pinga e após os rituais, emborcou o copo e pediu outra, desta vez pedindo ao vendeiro para arrumar-lhe comida. Após dizer-lhe o que poderia conseguir, o português foi preparar o prato acertado, que se constituía de lingüiça frita, ovos estrelados e farinha de mandioca, mais uma boa porção de arroz e feijão preto acompanhado de mais algumas doses de cachaça.

     Enquanto comia observava os movimentos na casa de Juversina, vendo quando o Trovulino, grande corno satisfeito, entrou na choupana arrastando-se com ar cansado e de quem trabalhara durante todo o dia, depois disso viu a morena chegar mais duas vezes à janela antes da noite cair. As lamparinas na casa foram acesas. Na venda, o português mais sofisticado tinha acendido dois lampiões e logo começou a chegar algumas pessoas o rapaz que não tinha interesse em conhecer ninguém, pagou sua despesa e saiu sem dar qualquer satisfação.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 06/12/2018
Reeditado em 06/12/2018
Código do texto: T6520336
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