TROVULINO 01 RECORDANDO
Quando passou pela morena de pele aveludada, bundinha arrebitada, já encontrou o olhar dela praticamente tirando toda a roupa dele, e deixando o bonitão pelado pronto para ser comido. Quando ela sentiu o olhar do pistoleiro em cima dela, levantou-se da pedra. Manteve os cabelos passando por cima do ombro, seguros com uma mão, enquanto a outra manejava o pente, ao mesmo tempo armava um semblante na carinha safada fingindo estar envergonhada, mas sem desviar nenhum instante o olhar do sacana. O rapaz, “perfeito cafajeste”. Já se sentindo dono da situação, deu o golpe de misericórdia quando, como o mais perfeito cavalheiro, segurou a aba do chapéu inclinando a cabeça num gesto estudado, até na tonalidade da voz que era grave, mas clara, e não feria os ouvidos, quase que hipnotizando o ouvinte. – “Bom dia, jovem e linda senhorita.” - Isto era um convite a uma resposta, e ele sabia que ela viria. Conhecia muito bem as mulheres, tendo sido criado no meio de prostitutas e amigas de sua mãe que era dona de um bordel, cedo ele já aprendera a conhecer as manhas femininas e treinar qual a melhor maneira de tirar delas tudo o que precisava ou tudo que ele queria.
A vida na cidade média, com mais de três mil habitantes e com grande movimentação de cacau, lidando com todas as espécies de freqüentadores da zona de meretrícios, que sempre recebem nome engraçado como esta que se chamava: “Fogo na Tarraquêta”, deu a Serafim a malandragem e coragem para ser um fora da lei, cometendo seu primeiro assassinato aos treze anos de idade, para roubar um bêbado que ele seguira quando viu a boa quantia de notas que o sujeito transportava. Bom conhecedor dos meandros das ruas, na esquina de uma rua estreita permaneceu de atalaia e enfiou um punhal de dez polegadas nas costas do individuo, que morreu sem nem gritar quando a lamina perfurou seu coração. Desta data em diante foi se aperfeiçoando, e logo atingiu a marca de dezoito mortes, que o tornava um bom pistoleiro com fama de seguro, corajoso e confiável e que não falhava nunca.
TROVULINO 02
Ouviu a resposta dela: - Bom dia, mas, eu não sou senhorita moço, eu sou casada.- e quase dizendo para o homem, sou casada, mas dou, emendou: - Meu marido está trabalhando longe e só volta à noite. O cínico como se fosse o dono já daquele monte de pecado, olhou, sorriu o rizinho do diabo que era anjo, mas que caiu do céu e como foi por descuido da sogra virou capeta, falou – É casada, mas não morreu ou já?”- Ela muito safada respondeu – Ô chente, é claro que morri não, mas cuidado que o português está olhando. – Certo, como podemos conversar, ele perguntou novamente? Ela riu e disse: - Mais tarde eu vou lavar roupa na ponte do rio, se aparecer lá, a gente pode conversar, mas só se não tiver ninguém mais por perto. Ele disse: - me espere, - tocou de novo na aba do chapéu e entrou na venda.
O português que estivera esticando o pescoço para ouvir a conversa e não estava gostando nada do rumo que as coisas tomaram, cumprimentou o freguês: – Ora, pois-pois, o que vai querer o moço? – Me disseram que o vendeiro tem aqui uma cachaça muito boa, pois se é verdade me coloca uma dose, quero experimentar. – Pá, é das melhores, é uma cachaça que me vem lá das Minas Gerais.
Colocou uma boa dose no copo esmaltado verde com florzinhas vermelhas e bordas brancas, muito usado na época, como quase todos os vasilhames de custo mais acessível, como xícaras para café, bules e até pratos. O pistoleiro como todo bom bebedor, jogou um gole para o santo, fez o pelo sinal usando a própria mão que segurava o copo, ou seja, a mão direita. Tomou tudo numa talagada só e depois de engolir fez a costumeira careta, estalou a língua no céu da boca e depois de mais duas caretas, mandou repetir a dose pensando na morena sedutora.
Desta vez ficou rodando o copo devagar em cima do balcão enquanto parecia estudar o ambiente, encarando o vendeiro, resolveu quebrar o silêncio que se seguira. – Boa pinga, quando eu for embora vou levar dois litros, e agora me diga, esta mulher morena dos olhos pretos quem é?
Manuel, o português, aproveitou para falar do que estava já a arreliar seus brios. – Esta morena é meio sem juízo, pois o marido é um homem valente de família muito brava e ela age sem pensar, qualquer hora provoca uma desgraça acá no povoado, se o seu marido ficar sabendo, com certeza acaba com a vida dela e daquele que se atrever com ela. O pistoleiro retrucou deixando o Manuel pouco a vontade: -
Para mim, quanto mais bravo é o touro mais gosto de aumentar-lhe os chifres, se este cabra quer viver em paz, é só não me aperrear e você português, fique calado, por que boca fechada não entra moscas. - tomou a pinga, pegou uma bexiga de mortadela que estava em cima do balcão e cortou uma boa fatia.
Enquanto comia, perguntou o preço e o português nervoso cobrou as duas pingas e disse que a mortadela era de graça, o rapaz não aceitou e cortou mais uma grossa fatia e mandou-o somar tudo junto à conta. Manuel nem quis discutir, falou quanto era e o sujeito pagou, disse até mais tarde e saiu deixando o português com a boca seca, sinal do medo que tinha passado.
O rapaz tinha visto à morena sair com a bacia de roupa suja na cabeça, e se dirigir na direção que ele viera e onde ficava o rio. Para não dar muito na vista, ele pegou a direção que atravessava o povoado e, após sair do outro lado, deu uma longa volta e retornou margeando o rio, que naquela época estava com pouca água sendo fácil atravessá-lo em qualquer lugar. Do local onde seu cavalo andava a passo lento entre a vegetação bem batida pelos cabritos, ele avistava facilmente a outra margem onde, em menos de quinze minutos avistou a morena.
Antes de se aproximar deu uma boa olhada nas redondezas, mas ali não havia ninguém, a maioria dos garotos àquela hora estava na única escola do povoado, ou estava nas lavouras ajudando os pais nos afazeres, que exigiam sempre a ajuda dos filhos para conseguirem sobreviver.
Quando passou pela morena de pele aveludada, bundinha arrebitada, já encontrou o olhar dela praticamente tirando toda a roupa dele, e deixando o bonitão pelado pronto para ser comido. Quando ela sentiu o olhar do pistoleiro em cima dela, levantou-se da pedra. Manteve os cabelos passando por cima do ombro, seguros com uma mão, enquanto a outra manejava o pente, ao mesmo tempo armava um semblante na carinha safada fingindo estar envergonhada, mas sem desviar nenhum instante o olhar do sacana. O rapaz, “perfeito cafajeste”. Já se sentindo dono da situação, deu o golpe de misericórdia quando, como o mais perfeito cavalheiro, segurou a aba do chapéu inclinando a cabeça num gesto estudado, até na tonalidade da voz que era grave, mas clara, e não feria os ouvidos, quase que hipnotizando o ouvinte. – “Bom dia, jovem e linda senhorita.” - Isto era um convite a uma resposta, e ele sabia que ela viria. Conhecia muito bem as mulheres, tendo sido criado no meio de prostitutas e amigas de sua mãe que era dona de um bordel, cedo ele já aprendera a conhecer as manhas femininas e treinar qual a melhor maneira de tirar delas tudo o que precisava ou tudo que ele queria.
A vida na cidade média, com mais de três mil habitantes e com grande movimentação de cacau, lidando com todas as espécies de freqüentadores da zona de meretrícios, que sempre recebem nome engraçado como esta que se chamava: “Fogo na Tarraquêta”, deu a Serafim a malandragem e coragem para ser um fora da lei, cometendo seu primeiro assassinato aos treze anos de idade, para roubar um bêbado que ele seguira quando viu a boa quantia de notas que o sujeito transportava. Bom conhecedor dos meandros das ruas, na esquina de uma rua estreita permaneceu de atalaia e enfiou um punhal de dez polegadas nas costas do individuo, que morreu sem nem gritar quando a lamina perfurou seu coração. Desta data em diante foi se aperfeiçoando, e logo atingiu a marca de dezoito mortes, que o tornava um bom pistoleiro com fama de seguro, corajoso e confiável e que não falhava nunca.
TROVULINO 02
Ouviu a resposta dela: - Bom dia, mas, eu não sou senhorita moço, eu sou casada.- e quase dizendo para o homem, sou casada, mas dou, emendou: - Meu marido está trabalhando longe e só volta à noite. O cínico como se fosse o dono já daquele monte de pecado, olhou, sorriu o rizinho do diabo que era anjo, mas que caiu do céu e como foi por descuido da sogra virou capeta, falou – É casada, mas não morreu ou já?”- Ela muito safada respondeu – Ô chente, é claro que morri não, mas cuidado que o português está olhando. – Certo, como podemos conversar, ele perguntou novamente? Ela riu e disse: - Mais tarde eu vou lavar roupa na ponte do rio, se aparecer lá, a gente pode conversar, mas só se não tiver ninguém mais por perto. Ele disse: - me espere, - tocou de novo na aba do chapéu e entrou na venda.
O português que estivera esticando o pescoço para ouvir a conversa e não estava gostando nada do rumo que as coisas tomaram, cumprimentou o freguês: – Ora, pois-pois, o que vai querer o moço? – Me disseram que o vendeiro tem aqui uma cachaça muito boa, pois se é verdade me coloca uma dose, quero experimentar. – Pá, é das melhores, é uma cachaça que me vem lá das Minas Gerais.
Colocou uma boa dose no copo esmaltado verde com florzinhas vermelhas e bordas brancas, muito usado na época, como quase todos os vasilhames de custo mais acessível, como xícaras para café, bules e até pratos. O pistoleiro como todo bom bebedor, jogou um gole para o santo, fez o pelo sinal usando a própria mão que segurava o copo, ou seja, a mão direita. Tomou tudo numa talagada só e depois de engolir fez a costumeira careta, estalou a língua no céu da boca e depois de mais duas caretas, mandou repetir a dose pensando na morena sedutora.
Desta vez ficou rodando o copo devagar em cima do balcão enquanto parecia estudar o ambiente, encarando o vendeiro, resolveu quebrar o silêncio que se seguira. – Boa pinga, quando eu for embora vou levar dois litros, e agora me diga, esta mulher morena dos olhos pretos quem é?
Manuel, o português, aproveitou para falar do que estava já a arreliar seus brios. – Esta morena é meio sem juízo, pois o marido é um homem valente de família muito brava e ela age sem pensar, qualquer hora provoca uma desgraça acá no povoado, se o seu marido ficar sabendo, com certeza acaba com a vida dela e daquele que se atrever com ela. O pistoleiro retrucou deixando o Manuel pouco a vontade: -
Para mim, quanto mais bravo é o touro mais gosto de aumentar-lhe os chifres, se este cabra quer viver em paz, é só não me aperrear e você português, fique calado, por que boca fechada não entra moscas. - tomou a pinga, pegou uma bexiga de mortadela que estava em cima do balcão e cortou uma boa fatia.
Enquanto comia, perguntou o preço e o português nervoso cobrou as duas pingas e disse que a mortadela era de graça, o rapaz não aceitou e cortou mais uma grossa fatia e mandou-o somar tudo junto à conta. Manuel nem quis discutir, falou quanto era e o sujeito pagou, disse até mais tarde e saiu deixando o português com a boca seca, sinal do medo que tinha passado.
O rapaz tinha visto à morena sair com a bacia de roupa suja na cabeça, e se dirigir na direção que ele viera e onde ficava o rio. Para não dar muito na vista, ele pegou a direção que atravessava o povoado e, após sair do outro lado, deu uma longa volta e retornou margeando o rio, que naquela época estava com pouca água sendo fácil atravessá-lo em qualquer lugar. Do local onde seu cavalo andava a passo lento entre a vegetação bem batida pelos cabritos, ele avistava facilmente a outra margem onde, em menos de quinze minutos avistou a morena.
Antes de se aproximar deu uma boa olhada nas redondezas, mas ali não havia ninguém, a maioria dos garotos àquela hora estava na única escola do povoado, ou estava nas lavouras ajudando os pais nos afazeres, que exigiam sempre a ajuda dos filhos para conseguirem sobreviver.