Luz negra
Akiva Segalowitch havia vindo visitar seu primo Jorah Feinstein em Boryslaw, na Galícia austríaca, buscando subsídios para salvar seu próprio negócio de extração de petróleo, ameaçado pela queda generalizada de preços no mercado internacional. Feinstein, que havia começado com um investimento modesto, agora era um dos principais empresários do ramo petrolífero na região.
- O preço do óleo caiu muito, por conta da concorrência internacional - advertiu-o Feinstein. - Não é mais possível entrar nesse negócio sem um bom aporte de capital e investimento em máquinas.
- Mas a sua empresa continua tendo um bom faturamento e não me consta que você tenha feito tais aportes - ponderou Segalowitch. - Qual é o segredo?
O primo passou um braço em torno dos ombros do visitante e admitiu, sorrindo:
- Não é bem um segredo. Mudei de petróleo para ozocerita. É mais fácil de extrair, os veios ficam próximos à superfície e exigem apenas trabalho manual.
- Ozocerita? - Repetiu Segalowitch.
- Cera mineral - explicou Feinstein. - Os preços do óleo estão caindo, mas praticamente não há concorrência para a ozocerita. E onde você imagina que estão localizadas as principais minas?
- Em Boryslaw, suponho - respondeu Segalowitch.
- Suposição correta. Enquanto o preço se mantiver alto no mercado internacional, o lucro é garantido.
- Você sugere então que eu invista em ozocerita? - Segalowitch estava decepcionado.
- Esta seria uma boa opção, mas como eu disse, as principais minas estão aqui, em Boryslaw. E estas, já têm dono. Você teria que prospectar em outras regiões, e isso talvez não seja tão fácil...
- Imagino que você não esteja precisando de um sócio - insinuou Segalowitch.
- Não mesmo. Mas se veio pelos conselhos, não vou cobrar por eles... - gracejou Feinstein.
- Quer saber? Acho que vou permanecer no ramo do óleo... - decidiu-se Segalowitch. - Mas não aqui, na Galícia. Vou prospectar em outro lugar, como você sugeriu.
- Onde, exatamente? - Interessou-se o primo.
- Nos Estados Unidos, claro. Há muitos judeus da Galícia emigrando para lá. E não me parece que os americanos façam restrições à força de trabalho por conta de sua religião ou nacionalidade.
- Mas a cera mineral está em grande demanda e esta nós temos aqui em quantidade - insistiu Feinstein.
- Analisando o que você me disse, creio que com meus conhecimentos técnicos, posso prosperar nos EUA. O querosene está substituindo com sucesso o óleo de baleia na iluminação, e iluminação pública é algo em que as cidades americanas estão investindo. Quando eu olho para a Galícia sob o Império Austro-Húngaro, vejo a Idade Média. Os EUA, por outro lado, são o futuro.
Apertou a mão do primo, e antes de retirar-se, complementou:
- Agradeço pelos seus conselhos gratuitos, mas não acho que investir em fabricação de velas de cera continuará lucrativo por muito tempo. Lâmpada elétrica incandescente, já ouviu falar?
- [16-11-2018]