Isso é problema seu
- Tenente Erwin Rommel apresentando-se, senhor!
O capitão Oskar Amstutz retribuiu a continência que lhe havia sido prestada pelo jovem oficial alemão.
- Rommel! Eu o estava aguardando... me acompanhe até o posto de observação.
Os dois homens seguiram por uma escadaria que levava até uma torre de vigilância numa das extremidades da fortaleza austro-húngara a cavaleiro do rio Isonzo.
- Do outro lado ficam as linhas inimigas... - indicou o capitão. - Como pode ver, não é muito difícil defender esta posição; começamos a construir estas fortalezas nos Alpes Julianos muito antes dos italianos entrarem na guerra, em 1915.
Rommel observou a paisagem amortalhada de neve à sua frente, mão em pala sobre os olhos.
- Foram onze tentativas de romper as defesas nos últimos anos? - Indagou por fim.
- Onze tentativas infrutíferas - anuiu Amstutz. - Perdemos dezenas de milhares de homens resistindo aos ataques, mas eles perderam talvez o dobro ou o triplo das nossas baixas - sem conseguir avançar sequer uma milha rumo à Trieste, seu objetivo final.
- Posso ver o porquê - ponderou Rommel. - Se os italianos conseguirem atravessar o rio, estarão expostos ao fogo das metralhadoras da fortaleza. E precisam fazer isso para tentar neutralizar a fortaleza.
- E acabam morrendo como moscas nesse processo. Os atacantes que sobrevivem ao fogo de metralhadora, dão de cara com nossas cercas de arame farpado e lança-chamas - sem contar os atiradores, mais acima nas montanhas - acrescentou Amstutz. - O marechal Cadorna é um estúpido, se acha que insistir em mandar suas tropas tentar romper nossas defesas no Isonzo dará algum resultado.
- Provavelmente, continuará apenas obtendo mais do mesmo com essa tática obtusa - aquiesceu Rommel. - Mas nós, alemães, estamos aqui para pôr um fim neste ciclo. Se os italianos não avançam, está mais do que na hora de correr com eles daqui.
Amstutz esfregou as mãos enluvadas.
- Precisávamos da ajuda de vocês para fazer isto - admitiu.
- Primeiro, faremos um bombardeio com difosgênio, na madrugada - explanou Rommel. - Os italianos terão que recuar, pois suas máscaras antigás não resistirão mais do que duas horas nestas condições... em seguida, farei um ataque relâmpago com a minha companhia através das linhas inimigas, aproveitando a confusão que certamente ocorrerá após o ataque com gás. Na sequência, as suas tropas nos seguem.
Amstutz balançou a cabeça em concordância.
- Seu plano é realmente muito bom, tenente Rommel, e até acredito que irá funcionar. Mas, algo me preocupa, devo lhe confessar...
- Uma mudança na direção do vento, talvez, jogando o gás venenoso em nossa direção? - Indagou Rommel.
- Não. Os italianos são tão descuidados, que até transmitem seus informes meteorológicos pelo rádio... e sem utilizar qualquer código. É uma outra coisa...
Parou um momento, deixando a vista correr pelas montanhas nevadas ao seu redor.
- Se os italianos se retirarem, temos a obrigação de persegui-los... o problema é que não tenho nem tropas nem suprimentos suficientes para manter essa perseguição por muito tempo.
Rommel encarou o outro oficial com simpatia.
- Lamento, capitão, mas acho que terá lidar com isso depois. No momento, vou me preparar para cumprir a minha parte no trato.
E assim o fez.
- [10-10-2018]