A MINEIRINHA 13

Capítulo VI

     Sonhou que viajava entre bosques frondosos sobre um caminho largo e atapetado com as flores de mil cores que as árvores deixavam cair para saudar a sua passagem. O caminho era reto como num túnel e no final tinha uma luz. Esta luz era formada pelo brilho de gemas preciosas com uma miríade de raios multicores que lhe davam as boas vindas para um mundo novo, onde ela como princesa, reinaria sobre súditos fiéis que a amariam e cantariam louvores à sua beleza, fazendo-a ficar conhecida pelos quatros cantos da terra. Sorria, pois pássaros de penas lindas que brilhavam como lâmpadas incandescentes queriam que ela parasse a carruagem para dançar com eles.

     De repente, na frente dos cavalos da sua carruagem, saltou uma figura atlética e fez os animais pararem de chofre. Era um homem alto de seus trinta e três anos mais ou menos, que anunciou apontando um arco armado com uma flecha em direção à janela da carruagem, gritando: - É um assalto e quero mil beijos da princesa que está na carruagem ou chamarei a bruxa Irene para transformar a carruagem em abóboras, os cavalos em ratinhos e o cocheiro num gato preto malvado, que comerá os ratinhos e levará a princesa para o castelo do bruxo Epaminondas que se disfarça de porteiro do castelo.

     Ela desceu da carruagem e estava já fazendo um biquinho para pagar o preço exigido, quando de repente um novo personagem entrou na história. Outro homem atlético com porte de rei surgiu num lindo cavalo branco e ameaçando com sua espada brilhante fez recuar o homem com o arco de flechas que parecia amedrontado diante do poder e força do antagonista que se mostrava como um poderoso senhor. Acompanhado de um séqüito de criados fortes e que pareciam dispostos a dar a vida pelo rei, o assaltante desencorajado só ganhou um beijo e fugiu, prometendo que voltaria para um novo assalto e desta vez, a princesa ficaria a sua mercê.

     Quando o meliante fugiu, a princesa se preparou para agradecer ao rei, mas o viu através de uma nuvem cercada de estrelas fulgurantes partindo para longe. Sem outra opção, entrou na carruagem e mandou o cocheiro tocar os cavalos em direção à saída do túnel exclamando em alto e bom som: - Seu rei de merda, empata f.... Ouviu os estalos do chicote e acordou com raiva do rei e ao abrir os olhos viu Irene que batia palmas e com um sorriso grande na cara dizia: - Acorda bela adormecida, já são onze horas, Jorge foi para o Maracanã e nós vamos hoje almoçar na praia e ver os pilotos de asa delta, surfistas e todos os gatos do Rio que gostam mais de mulher que de futebol. Riu um riso de diabinha que no fundo só tinha diploma de anjo e dos que rezam por milagres e acreditam que eles acontecem.

     Marcela deu um pulo da cama e gritou: - Bom dia tia! Riu e disse: - Desculpe dona Irene, acho que andei sonhando e acabei dormindo mais do que devia. Irene disse: - Não se desculpe tanto, ponha aquele biquíni de laços que compramos na semana passada e vamos preparar um bom café. Hoje vamos voltar da praia só quando o ultimo raio de sol for embora. Marcela entusiasmada disse: - É para já patroa! Riu, fez sua higiene matinal rapidamente e saiu para preparar o café, enquanto Irene foi tomar banho, a imaginação da adolescente logo achou um significado para o banho um pouco demorado. Era devido aos embates amorosos da patroa com o marido bonitão, coitadinha... Mostrou que não sabia nada da vida dos casados.

     Na verdade, Irene estava tomando banho e lembrando-se da festa, sabia que seu casamento estava precisando de uma dose urgente de alguma coisa nova que desse ânimo aquela relação que, embora estável, podia desandar por falta de bases sólidas, como um filho, por exemplo. Sabia também que o marido tinha relações extraconjugais, e não se importava muito. Era inteligente e quando era mais jovem sentiu ciúmes, mas depois aceitou numa boa as escapadas do maridão, em contra partida, também ela já tinha pulado a cerca, principalmente quando o seu Jorge saia de férias e ia pescar com os amigos no Pantanal, de onde só voltava no final das férias.

     Nestas ocasiões, ela, uma madame classe média alta, emergente à classe rica, usava seu carro e desfilava até encontrar alguém que lhe agradava, e gastava um pouco das suas economias na farra, sem remorso, já que sabia que estava apenas devolvendo os chifres e ainda fazendo jus a aura da cidade maravilhosa onde todo compromisso é sério e toda traição conjugal já está incluída no pacote do casamento (*). Ultimamente não estava se dando a estes prazeres, e em dias como aquele entregava-se às lembranças dos momentos de luxúria junto com os homens mais completos de sua vida. Isto era um lenitivo e funcionava como um afrodisíaco para que ela se enveredasse pelos caminhos libidinosos que, entre suspiros e ais abafados, descortinava o véu da prudência e se entregava a busca do néctar que quando jorrava, trazia um terremoto de emoções sempre em doses desiguais e surpresas às vezes compensatórias, outras... quase um desastre.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 09/10/2018
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