UMA DUCHA FRIA

     Marcela se levantou, não tinha medo, sabia dançar qualquer ritmo, aprendera com suas amigas e namorados nas furrupas realizadas em sua cidade “furrupas: danças realizadas em casas de família - sarau na casa de ricos, furrupas em casas modestas”. Marcos desceu do palco e atravessou o salão em direção à moça, que abriu o seu sorriso mais lindo para recebê-lo, ele, um gentleman, primeiro a cumprimentou, pegando delicadamente sua mão e dando um beijo, apenas roçando seus lábios na pele macia de Marcela, que sentiu um arrepio de tesão por aquele homem que mais parecia um Deus, e representava o mundo que ela gostaria de fazer parte, ela agora era uma princesa, depois da meia-noite voltaria a ser perereca... Sem mágoas

Capítulo IV

     Quando a orquestra terminou a valsa, o milionário não mostrava sinal de cansaço e a acompanhou até a mesa do casal. Cumprimentou efusivamente Jorge e Irene e elogiou a performance de Marcela para dançar fazendo-a prometer que dançaria novamente com ele, ela aceitou e após mais algum tempo de conversa fútil, ele se retirou com o pretexto de dar atenção aos outros convidados, antes falando para Marcela: - Aproveite para dançar com os bonitões que você quiser, porque depois é comigo e eu não me canso fácil - riu do próprio comentário e ouviu de Marcela: - Então vamos dançar a noite toda, eu também não me canso.

     Quando ele se foi, as garotas vieram logo perguntar pela dança com o maior partido da festa, ela riu e disse - Eu nem sabia que ele estava disponível ao que Ana retrucou – Ele está solteiro, e é a primeira vez que dança com alguém que ele conheceu no mesmo dia. Marcela riu seu riso cristalino, e apenas respondeu que ele só quis ser educado, agora quem riu foram as duas garotas fechando o diálogo com um: – isto vai dar casamento. Marcela mostrando a que veio disse: – Eu sou solteira e topo qualquer parada, desde que seja abençoada pelo padre e o Juiz. Irene e Jorge que tinham ouvido a conversa riram também, mas Jorge não deixou de ter uma pontinha de ciúmes. O páreo seria duro, embora ele estivesse com a vantagem.

     Júlia e Ana a apresentaram a vários rapazes que começaram a disputar o direito de dançar com ela. Marcela estava feliz e transmitindo esta felicidade com sorrisos brejeiros, tentando agradar a gregos e troianos, festa de rico, o homem e a mulher mais feios se tornam tão elegantes e belos como se a beleza de uma pessoa estivesse na roupa e na forma afetada de se comportar ao falar, caminhar, rir e até mesmo no olhar. Talvez por isto o jeito simples, a beleza e a juventude da mineirinha estivessem agradando a todos

     Jorge e Irene se aproximaram dançando dela e do seu par, um rapaz alto e simpático com um terno moderno de corte italiano e cabelos claros e lisos e muito falante, que tentava jogar mais charme do que tinha para cima da moça, se tornando um pouco desagradável, pois falava de muito perto e tinha hálito de peixe morto temperado com Whisky.

     Irene percebeu o constrangimento da garota e falou com Jorge, combinaram de separar os dois, aproximaram-se e Jorge praticamente intimou o rapaz a deixá-lo dançar com a garota, enquanto sua esposa dançaria com ele. O moço ainda jovem, todo solícito, não se opôs, sabia que o empresário era figurão e Irene era uma bela mulher. Depois dançaria de novo com a garota! Jorge aproveitou para falar quase sem abrir a boca, o suficiente para ela entender. – Quero você e não importa quanto terei de pagar por isto, segunda-feira Irene vai recomeçar a trabalhar e vou dar um jeito de ir em casa para ficarmos sozinhos, tudo bem para você? - Marcela demorou um pouquinho para responder, e quando o fez, Jorge ficou até vermelho, porém não perdeu a pose.

- “Sr. Jorge, vou ser o mais objetiva possível. Não sou tão ingênua como pareço, sei tudo sobre sexo embora nunca o tenha praticado, acho que este lance de virgindade é apenas fazer sexo a primeira vez. Eu não vou ser hipócrita negando que também não me sinto atraída pelo senhor, é um homem bonito e na idade que encanta qualquer mulher, mesmo as jovens sem nenhuma experiência como eu. Claro que o sonho de qualquer garota é que o primeiro homem da sua vida seja aquele que faça sua primeira vez ser lembrada pelo resto da vida, mas o senhor é um homem casado com uma mulher que está me tratando melhor até do que minha mãe e mesmo tendo os mesmos desejos que o senhor, eu tenho que pensar nas conseqüências dos meus atos. Se o senhor quiser ir lá, é sua casa e eu não iria ter a pretensão de dizer-lhe para não ir. Mas, fique claro isto, não faremos nada que venha atrapalhar seu casamento com dona Irene, e nem desgraçar minha vida com um ato impensado.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 04/10/2018
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