A MINEIRINHA 03

DO LIVRO BARRIGA DE ALUGUEL EDITADO EM 2007



     Passeou pela bela capital de ruas arborizadas ,enquanto aguardava à hora do embarque, comeu salgadinhos e tomou refrigerante. Demonstrava segurança e perfeito domínio da situação. Quando embarcou, sentou-se na poltrona ao lado da janela e dentro em pouco se sentou ao seu lado uma mulher aparentando pouco mais de trinta anos, seria sua companheira de viagem e iria daí por diante ajudá-la a escrever mais um capitulo no livro da sua jovem vida, se para bem ou para o mal, só com o tempo iremos saber.

     Enquanto o ônibus rodava em direção à saída para o Rio subindo a Avenida Amazonas, ela permaneceu olhando para fora e procurando não pensar no dia de amanhã, a mulher ao lado puxou conversa e logo as duas se entenderam e se apresentaram: - “Eu sou Marcela e estou de mudança para o Rio”, a outra respondeu: - “Eu sou Irene e moro lá desde criança, mas tenho parentes aqui e estava passando uns dias com eles”. Logo estavam contando suas vidas uma para a outra como velhas amigas.

     Marcela contou os motivos de sua ida para o Rio de Janeiro0 e Irene se prontificou a ajudá-la, a moça muito esperta, viu ali a chance de ter um início mais fácil na nova localidade. Entre um comentário e outro, ela disse que gostaria de trabalhar de empregada doméstica, pois assim teria onde morar e comer. O que Irene não contou, é que tinha ido a Minas Gerais justamente para tentar trazer uma mulher que trabalhasse sem carteira assinada, e demorasse pelo menos três anos até que ficasse esperta e se associasse a algum sindicato da classe.

     Não demorou em se acertarem, até as condições de salário e da moradia no emprego foram aceitas por Marcela que, agradecendo disse: - “Deus está me ajudando, foi uma sorte grande encontrar a senhora logo agora que estou mais precisada”. O restante da viagem foi de muita conversa entre as duas, e a cada frase, Marcela procurava falar acentuando o sotaque mineiro, se Irene iria ser sua patroa era bom que pensasse que ela era uma caipira bem atrasada, assim ganharia sua confiança. Como Irene não perguntou, ela não disse a idade, e como era de porte alto, Irene deve ter imaginado que ela era mais velha. Isto lhe convinha.

     Logo que chegaram à rodoviária do Rio, Irene falou para que ela guardasse suas economias, pois suas despesas daí em diante seriam pagas por conta do emprego. Marcela não discutiu, na verdade, isto era tudo o que ela queria. Foram de táxi até o apartamento de Irene, um edifício antigo, mas muito bem cuidado, rodaram margeando algumas praias e Marcela fingiu surpresa com a vista do mar, exclamava as besteiras de sempre: -“Nossa, como é grande!” - Irene ria, e prometeu que em breve a levaria à praia. Mal sabia ela que sua cidade era quase na divisa com o Espírito Santo, e que todo ano o pai a levava com a mãe por uma semana as belas praias de Vitória, onde aprendera a arte de fazer-se atraente para os homens.

     Quando subiram ao décimo segundo andar, e Irene abriu o apartamento, Marcela ficou maravilhada com o tamanho, as cores e a beleza dos móveis, tinha certeza de que ia gostar de morar lá, ficou ainda mais alegre quando ocupou seu quarto que tinha banheiro, cama macia e guarda roupa. Irene disse para ela arrumar as suas roupas, o apartamento estava limpo e ela podia descansar, só iria trabalhar a partir do dia seguinte, pois era o dia primeiro do mês de setembro, e assim, seria mais fácil o acerto do pagamento. Ao olhar pela janela do seu quarto, avistou a lagoa Rodrigo de Freitas, perguntou para Irene se era o mar, Irene sorrindo, mais uma vez explicou com bom humor o que era.

     Para Marcela estava bom começar no outro dia, mesmo assim, quando dona Irene foi fazer o almoço, ela se prontificou a ajudar, e valeram as aulas de cozinha que recebera da mãe, depois não deixou a patroa limpar a cozinha, fez tudo e mostrou que seria a empregada perfeita para atender as exigências da casa. Irene foi para o seu quarto e dormiu até às dezesseis horas, acordou e encontrou Marcela vendo televisão. Marcela pediu desculpas por ter ligado a televisão sem permissão, mas Irene a tranqüilizou, disse-lhe que ela sempre poderia ver televisão desde que tivesse feito o serviço da casa.
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 27/09/2018
Reeditado em 01/10/2018
Código do texto: T6461157
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