O Caso dos Vistanis Desaparecidos - Parte VIII - A Verdade Sobre Blondie

Assim que chegamos a Blackburn Crossing, Vareen e o capitão se concentraram para tentar encontrar os restos de Jane O´Neal e descobriram que não tínhamos forças o suficiente pra passar pelas Brumas e sair da cidade.

Enquanto Vareen e o capitão discutiam asperamente sobre quem entraria no rio pra procurar os restos mortais, Nikolai, Caleb e eu fomos a cidade em busca de pistas a respeito de Jane O´Neal.

Na praça principal, encontramos doze anciões que esperavam ansiosos por uma conversa com qualquer um que parasse.

Os anciões não nos decepcionaram e no meio de variadas conversas, descobrimos coisas muito importantes.

Jane O´Neal era bastante cortejada pelos homens e era uma taberneira bastante respeitada na região por seu caráter inatacável.

Mesmo assim, havia histórias mais picantes sobre alguns viajantes que faziam, digamos, “bagunças” na cama e outros relatos sobre brigas que ocorriam na taberna por alguns bêbados mais exaltados que eram mandados embora pela própria Jane na educação ou na grosseria.

No entanto, um dos anciões deu-me uma informação crucial a respeito do que aconteceu com Jane O´Neal.

Tudo começou quando o pai de Blondie passou uma semana na taberna aguardando a recuperação dela e cortejando Jane O´Neal.

Ele tinha feito a barganha com o demônio para não só trazer a filha de volta como também queria criar uma nova família se casando com a taberneira que correspondia o amor dele.

No dia seguinte, contudo, o homem havia partido abruptamente da taberna deixando a pobre O´Neal de coração partido e sem saber o que aconteceu.

Ela foi atrás dele na zona portuária para que explicasse o motivo de sua partida tão repentina e declarou seu amor pelo pai de Blondie.

Contudo, ela foi colhida pelo demônio em uma cilada mortal usando o próprio pai como isca. Sem perceber, foi atacada pelas costas e esfaqueada na garganta pela menina. Ela pediu então ao seu pai que ajudasse a colocar o sangue em um frasco e para ninguém suspeitar de nada, jogaram o corpo no rio. Depois disso, o pai de Blondie foi morto por ela num ataque de raiva, como já sabemos.

E desde então seguiu ininterruptamente sua coleta de sangue e almas.

Caleb usou seus poderes para procurar os restos mortais e nada encontrou. Já Nikolai teve um pouco mais de sorte com a ajuda de Strahd que começou a correr em círculos e a latir feito louco.

Ele tinha achado o ponto exato onde o corpo de Jane caiu.

Caleb e Vareen então bolaram outra de suas ideias malucas. O plano era amarrar o capitão e jogá-lo no rio para que tentasse encontrar os restos mortais.

Mesmo com Nikolai e eu protestando fortemente sobre esse plano perigoso e irresponsável, eles amarraram o capitão William e jogaram-no na água com armadura e tudo.

Provavelmente Ezra o protegeu naquela hora. Devido ao peso da armadura, a corda quase se partiu e como por milagre, William submergiu a tempo de evitar o pior.

Assim que pisou em terra firme, o capitão passou uma carraspana nos dois por sua atitude temerária e imprudente.

Mas aqueles dois eram teimosos ao extremo e tentaram outra vez agora com Vareen se amarrando na corda e quase se afogando no rio.

Mesmo com tudo isso, o plano acabou dando certo e o clérigo encontrou o que sobrou da mão de Jane O´Neal.

Caleb, por sua vez, usou novamente seus poderes para tentar localizar o resto do corpo e teve sorte.

O restante do corpo estava na parte rasa do rio e o paladino não teve dificuldades em buscá-lo e em seguida coloca-lo em um saco.

Assim que isso foi feito, uma velha figura havia retornado.

Era novamente a banshee.

* * *

Depois de ela aparecer, entreguei o saco a Vareen para que ele começasse o ritual de destruição dos ossos.

Durante o rito, o clérigo ouviu um barulho de choro e teve uma horrível visão de corpos de Vistanis espalhados pelo chão, sangue e uma casa enorme.

Em seu desespero, a banshee gritava para irmos embora, mas Caleb em um último esforço conseguiu desintegrar os ossos e o capitão leu o ritual de Ezra para dar paz ao espírito de Jane O´Neal, que se desfez.

Ela estava livre de todos seus tormentos.

Naquele instante, uma névoa nos encobriu.

As Brumas estavam nos levando a outro lugar.

Será que a casa que Vareen viu não seria a Casa da Colina do Grifo?

* * *

Minhas indagações foram logo respondidas.

Na verdade, havíamos de fato voltado para lá e o capitão não conseguiu entrar após várias tentativas de abrir o portão.

Para cumprirmos nossa missão, seria necessário preparar um ritual para trancar o demônio de uma vez por todas buscando ingredientes como pó de ferro e pó de prata.

Fui buscar o pó de prata e o local estava bastante agitado com as pessoas muito mais tensas do que o normal.

Era Dia das Bruxas em Mordent e uma lua enorme iluminava o ambiente.

Uma noite perfeita para um demônio fazer estragos.

Enquanto preparava as balas de ferro, Caleb sentou-se numa cadeira e contou piadinhas sarcásticas a respeito dos jovens fazerem o trabalho enquanto os velhos descansam.

Fiquei irritado não pelas piadinhas em si, mas sua leniência em não ajudar-me um pouco com seus poderes para terminarmos os preparativos mais depressa visando o plano de Vareen.

Assim, fomos rapidamente a mansão Van Richten, encontramos o doutor Max e relatamos a ele tudo o que aconteceu até agora.

Ele prontamente entregou um dos seus frascos de pó de ouro que estava em sua mesa a Vareen.

A noite caiu e todos os preparativos foram feitos.

Tentamos adormecer, mas fomos acordados de sobressalto por um urro terrível.

Era Nikolai. E estava a ponto de enlouquecer.

Por sorte, Vareen deu uma bebida a ele que logo se acalmou e dormiu um pouco.

No entanto, Strahd latiu para a rua e ficamos estupefatos com o que vimos.

Uma criança loira começou a passar sangue pelas paredes.

Era Blondie, ou melhor, era o demônio.

Tinha começado seu ritual.

E selou a porta para nos impedir de sair da mansão.

* * *

O tempo estava se esgotando e a porta continuava trancada. Apesar do seu esforço, Caleb errou o pontapé e quase deu de cara no chão.

Seria bem divertido se não fosse tão trágico.

Havia crianças na rua e aquele maldito demônio nos isolou no tempo e espaço impedindo de salvá-las.

Enquanto estávamos lutando desesperadamente para abrir a porta, uma das crianças na rua se cansou e caiu doente após vomitar vermes.

Não tínhamos mais tempo para bolar um plano e Heather e as crianças estavam correndo grave perigo.

E graças aos esforços do capitão, a porta se abriu e fomos rapidamente para a Casa da Colina do Grifo na tentativa de acabar com essa loucura de uma vez por todas.

Chegando lá, descobrimos que a porta de entrada ainda estava trancada. Vareen usou suas invocações na tentativa de deter o demônio que acabou recuando e fez a porta da mansão se abrir.

Assim que entramos na casa, algo nos chocou.

Eram estranhos símbolos e pedaços de carne espalhados pelo chão.

Provavelmente restos mortais dos Vistanis mortos pelo demônio.

Caleb e Vareen rapidamente espalharam sal por todo o chão em uma tentativa de isolar o demônio e logo se reuniram com Nikolai, o capitão e eu para irmos ao porão.

Vimos uma cena horripilante.

Encontramos Blondie riscando o sangue dos Vistanis mortos na parede.

E revelando finalmente sua verdadeira intenção ao cortar seus pulsos e o restante do corpo.

Criou um monstro muito forte para protegê-la dos nossos ataques.

Enquanto isso, o demônio tentava nos intimidar com suas provocações e ameaças com nenhum de nós se assustando com suas bravatas a não ser o capitão que temia pela segurança de sua família.

Já estava com minhas pistolas prontas para atirar e Caleb já havia sacado a granada de prata para trancá-lo.

Era chegado o momento.

De vencer ou morrer tentando.

* * *

O ritual tinha se iniciado, mas o monstro usou suas forças para tentar atacar Caleb que esquivou-se de forma magnifica.

A mão esquerda e a parte inferior do monstro já haviam sido seladas pelo ritual de Vareen, mas ainda assim o monstro tentou atacar Caleb pela segunda vez usando o punho da sua mão direita e deixando o peito exposto para um tiro bem dado.

Não pensei duas vezes e atirei no monstro fazendo-o explodir em pedaços e uma fumaça saiu de dentro dele.

Era a chance de Caleb terminar o ritual e trancar o demônio com a granada de prata.

Foi exatamente o que fez.

A garotinha que foi anteriormente Blondie fechou os olhos e partiu de vez deste mundo.

Era hora de sairmos rapidamente da casa antes que o espírito de Godefroy aparecesse para nos apavorar ainda mais.

Assim que chegamos ao pátio da mansão, Vareen teve um pressentimento e pediu que Nikolai e eu investigássemos os arredores.

Encontramos ali o espírito de um homem idêntico ao capitão que nos pediu para queimar o corpo de Blondie o mais rápido possível.

E o corpo da garotinha acabou queimado.

Ainda assim, o espírito da filha aproximou-se para despedir de seu pai.

Foi uma das cenas mais comoventes que já vi e não deixei de lembrar minha irmã covardemente assassinada pelo calhorda do Leclerc.

Descansamos em uma taberna próxima e Vareen teve um sonho com lobos, goblins e corpos espalhados por toda parte.

No meio do sonho, Vareen nos disse ter chegado a casa de um certo Daegon e lido uma estranha frase:

“Um feiticeiro irá renascer, a vida e a morte vão esmorecer”.

Ficamos a princípio intrigados com tudo aquilo e na manhã seguinte, partimos rumo a Mordentshire com o caso resolvido.

E com o demônio selado.