O Caso dos Vistanis Desaparecidos - Prólogo - Quem Sou Eu
Aqueles que porventura encontrarem este diário, certamente saberão de onde venho e quem sou eu.
Perdoem minha descortesia. Permita-me que eu me apresente a todos os domínios conhecidos de Ravenloft.
Meu nome é Jean Capela e venho de Dementlieu, um domínio famoso pela cultura e pela sua imagem progressista, mas infelizmente também é marcado pelas brutalidades contra os menos favorecidos, o que abomino completamente.
Tenho motivos para isso. Eu era uma criança como tantas outras e como todo bom dementliano que se preze, aprendi a ler e a escrever nos meus primeiros anos de vida.
Vivi idilicamente com minha família até chegar o fatídico dia que mudou minha vida para sempre.
Estava no pátio contando histórias do domínio para minha irmã, quando vi dois pistoleiros que entraram atirando. Tentei avisar meus pais, mas era tarde.
Foi horrível ver meu pai ensanguentado e minha mãe com uma marca de bala na testa. Assim que me virei na tentativa desesperada de salvar minha irmã dos assassinos, acabei vendo-a caída de bruços e com a cabeça arrebentada por um tiro.
Ali perto, em uma carruagem, avistei o responsável com um sorriso de hiena em seu rosto.
François Leclerc. O filho da puta que desgraçou minha vida e que fez-me tornar o que sou hoje.
Imagine para vocês que lerem este diário o tão traumático que se tornou para um garoto de oito anos que tinha tudo e acabou ficando sem chão, sem nada nem ninguém.
Com isso, fui para as ruas e os becos de Port-a-Lucine aprender a sobreviver como um ladrãozinho de merda que roubava dos ricos e brigava com os outros ladrões pelo espólio. As vezes levava o roubo e outras levava uma bela surra.
Um belo dia, algo saiu do meu controle. Não queria machucar ninguém, mas alguém me denunciou por um crime que não cometi e a guarda dementliana me perseguiu até a um beco onde cercaram-me e provavelmente me matariam ali mesmo. No entanto, saquei a pistola e arrebentei a cabeça de um dos guardas.
Acabei preso e jogado numa das cadeias mais imundas de Dementlieu esperando o dia de ser executado sem nenhum pedido de clemência.
No entanto, vi minha sorte mudar. Numa das suas visitas as celas de Port-a-Lucine, o lorde Dominic em pessoa veio a minha cela e decidiu poupar minha vida provavelmente impressionado com meu potencial.
Levou-me imediatamente aos tutores dos seus filhos para aperfeiçoar minhas habilidades de luta, de tiro e também culturais.
Depois de anos de treinamento, tornei-me um dos melhores pistoleiros de Dementlieu e um razoável espadachim.
Ainda fui um matador de aluguel e fiz incontáveis serviços ao lorde Dominic mantendo a fidelidade a ele acima de tudo assim como meu pai fez.
Havia um problema, entretanto.
E tinha nome e sobrenome.
François Leclerc.
Ele era um dos conselheiros mais próximos ao lorde, quase como um braço-direito, embora Dominic nem suspeite de que está sendo traído ignominiosamente.
Se eu matasse Leclerc, cairia em desgraça com o lorde pelo resto da vida. Contudo, de alguma forma, Dominic protegia-me de meu próprio ódio.
Pedi a ele que me dispensasse dos serviços e que expulsasse-me de Dementlieu por qualquer motivo.
Dominic concordou com a ideia embora eu acredite que sempre teve esse desejo de me mandar embora com o intuito de me ajudar. Antes disso, porém, me pediu para fazer um último serviço que era de ir a Mordent como guarda-costas de James Mounsel.
O garoto era um verdadeiro prodígio e aos 18 anos iria para a escola de medicina de Mordent, sendo um dos melhores da nova geração de sábios dementlianos.
Poucos dias antes de partir, em uma das minhas visitas a biblioteca da cidade, acabei sabendo o motivo de meu pai ter sido brutalmente assassinado.
Dias antes deste triste incidente, meu pai descobriu que Leclerc desviava dinheiro dos cofres do domínio para formar um exército de mercenários trazidos da Falkovnia e roubava armamentos pesados com o claro objetivo de depor e assassinar o lorde Dominic para tomar o poder em Dementlieu, ser o novo lorde negro e romper com o pacto das quatro torres feito com os domínios vizinhos na tentativa de reprimir qualquer ataque falkovniano a cada um deles.
Já tinha conseguido o apoio de nobres descontentes com Dominic, considerando-o como um lorde fraco e benevolente demais com o povo.
Meu pai havia descoberto a conspiração e denunciou tudo ao lorde que rapidamente esmagou a tentativa de golpe prendendo quase todos os conspiradores e executando alguns para servir de exemplo.
Leclerc conseguiu escapar e voltou ao castelo chantageando e ameaçando Dominic de morte e chegando até mesmo a usar uma mulher ardilosa para ativar sua maldição contra ele.
A de nunca apaixonar-se.
Foi assim que aquele desgraçado do Leclerc acabou com minha família.
E juro por Ezra que acabarei com esse miserável traidor mais cedo ou mais tarde.
Mas por ora, tinha que ir a Mordent escoltando Mounsel.
E adquirir mais forças.
Bem como conseguir qualquer aliado disposto a me ajudar nesta vingança.