07 - UM CORAÇÃO EM PORTUGAL
Um Coração em Portugal
Portugal, terra de reis e rainhas, desbravadores e histórias épicas, sempre foi um lugar de encantamento para mim. O lar dos meus ídolos literários: Fernando Pessoa, Luís de Camões e, minha querida Florbela Espanca.
Jamais imaginei que um dia voaria tão longe para alcançar essas terras fascinantes. Nasci em uma cidade do interior, cercada por plantações agrícolas. Cresci, casei e me mudei para a cidade grande. Mas uma fatalidade, um divórcio, transformou minha vida. Aceitar a mudança foi difícil, mas parecia que Deus tinha outros planos para mim.
Então surgiu uma oportunidade de viajar, e agarrei-a com todas as minhas forças. Conheci alguém muito especial, um português alto e loiro, de olhos azuis e fala mansa. Compartilhamos o mesmo gosto por música e poesia. Ele me mostrou que mudar de ares era a solução. A vida, que parecia amarga e sem sabor, revelou-se maravilhosa, pronta para ser vivida.
Lisboa tornou-se o cenário ideal para essa transformação. No centro da Lisboa antiga, maravilhei-me com a magnificência de suas construções. Era fascinante, fazia meus olhos brilharem de felicidade. Em uma de suas ruas estreitas, parei! Explorando cada detalhe, sem acreditar no que via. Era um sonho? Me perguntava.
Senti-me nas nuvens, em um mundo totalmente diferente. Castelos, muralhas, igrejas, tudo me encantava. Senti-me rainha em muitos desses momentos. O castelo que criei em minha mente, com príncipe encantado, havia sido demolido e eu precisava construir um novo. Embarquei nessa aventura feliz.
Apaixonei-me por Castelo de Vide. Chorei emocionada, sentindo-me em casa, como se tivesse voltado a uma vida passada. Seguimos para o Castelo de Marvão, uma edificação muçulmana de beleza singular, com um pôr do sol extraordinário. Conheci muitas aldeias e vilas nos distritos de Portalegre, parte do Alentejo português, uma região verdejante com grandes pastos de ovelhas. Foi uma jornada feliz e gratificante.
Conhecer Setúbal foi uma experiência à parte. Uma linda cidade com um castelo no alto da serra. Nas tascas, degustei a culinária portuguesa, minha preferida: sardinhas e pimentos assados. Tudo era novidade para mim. Atravessar o rio Sado para desfrutar das praias da península de Troia foi inimaginável. Pela primeira vez, vi cegonhas! Lembrei-me das histórias delas trazerem os bebês. Elas voltavam aos ninhos para reprodução. Meus olhos lacrimejaram ao ver tão linda natureza, abençoada por Deus.
Passando por Sintra, vi aquele castelo imponente, no alto da serra, onde viveram reis e rainhas. Tantas histórias ouvidas em sala de aula. Estaria eu sonhando? Não. Era tudo real. Eu estava ali, tocando-me para ter certeza, mas ainda não queria acreditar. Tudo era surpreendente, lindo e maravilhoso. No retorno, fui presenteada com mais um lindo cenário: Cabo da Roca, onde o céu encontra-se com o mar, o infinito condiz com seu verdadeiro significado. Um horizonte banhado por um mar calmo e um céu límpido de azul.
Além das belezas naturais e arquitetônicas, vivi momentos inesquecíveis com a cultura local. Lembro-me de um festival tradicional em Évora, onde pude experimentar danças folclóricas e músicas típicas que ressoavam pela praça. Os sons dos tambores e guitarras portuguesas ecoavam pela noite, e as pessoas dançavam em harmonia, celebrando suas raízes. A alegria era contagiante, e eu me senti parte daquela celebração, como se estivesse redescobrindo uma parte de mim mesma.
Em Porto, conheci as famosas caves de vinho do Porto. Foi uma experiência enológica que aguçou todos os meus sentidos. O aroma doce do vinho envelhecido em barris de carvalho, o sabor robusto e complexo de cada taça, e as histórias contadas pelos guias sobre a tradição vinícola da região. Cada gole era uma viagem no tempo, uma conexão com a terra e sua gente.
Também visitei Fátima, um lugar de profunda espiritualidade e devoção. A atmosfera serena e os cânticos suaves dos peregrinos criaram um ambiente de paz e reflexão. A capela das aparições, onde dizem que a Virgem Maria apareceu, foi um lugar de oração e esperança. A fé dos devotos era palpável, e eu senti uma conexão espiritual intensa, algo que nunca havia experimentado antes.
Um dos momentos mais marcantes da minha viagem foi a visita ao Mosteiro de Alcobaça, um majestoso monumento que guarda a história trágica e comovente de Pedro e Inês de Castro. A lenda de Inês de Castro, a rainha póstuma de Portugal, é uma das mais românticas e trágicas histórias de amor. Inês, dama de companhia da esposa de Dom Pedro, tornou-se sua amante. Após a morte da esposa, Pedro e Inês viveram juntos, mas o pai de Pedro, o rei, não aprovava a união e ordenou a execução de Inês. Quando Pedro se tornou rei, vingou a morte de sua amada e, dizem, coroou seu cadáver como rainha. Os túmulos de Pedro e Inês, de frente um para o outro no mosteiro, simbolizam que os amantes estarão juntos até o fim dos tempos. A beleza e a tristeza dessa história tocaram profundamente meu coração.
Voltei para casa, para minha terra natal, saudosa de tudo que vi e vivi. Minha alma agora tem metade portuguesa. Essa transformação me ensinou que as mudanças, mesmo as mais dolorosas, podem abrir portas para novas experiências e uma felicidade inesperada. Portugal, com suas histórias, cultura e belezas, marcou minha vida de maneira indelével, e parte de mim sempre estará conectada a essa terra encantadora.
Essa foi minha primeira ida a Portugal. Voltei outras vezes, mas essas são outras histórias a contar.
Neide Rodrigues, 08/08/2018.