Procura-se! Boa recompensa.
Escurecia quando localizaram a filha de Yuri. Segundo um dos bombeiros que a resgatou, o cachorro Tobe esteve com ela o tempo todo. Isso foi essencial para sua sobrevivência, pois ele usou seu pelo para protegê-la durante a noite, evitando assim, que morresse por hipotermia. Foi um verdadeiro milagre ela ter sobrevivido por quase uma semana perdida na selva. Adriane tinha apenas três anos de idade.
Yuri, após a aflição e da longa espera, sentia se mais tranquilo. Enfim, sua filha estava salva. Enquanto aguardava que ela acordasse da sedação, seus pensamentos voltaram a sua antiga casa, quando tinha dez anos de idade. No dia que seu cachorro “Tutti”, um "Chow Chow" desapareceu.
- Tutti... Tutti - Frutti! tu não me pega! - Seu cachorro bola de pelo venha me pegar. Enquanto Yuri corria com o cachorro, D. Laura brigava para que ele parasse de brincar dentro de casa com o cachorro porque iriam quebrar alguma coisa. Não adiantava. Os dois eram carne e unha. O dia mal amanhecia já estavam correndo pela casa ou quintal.
Era uma quinta - feira. Estava quase escurecendo quando a campainha tocou. Era o entregador de gás. Logo após a entrega D. Laura foi pra cozinha, enquanto Yuri foi tomar banho resmungando.
Em algum momento ela estranhou não ter barulho de cachorro na casa. Chamou o filho para vir jantar. Ele desceu as escadas correndo, já chamando o cachorro. Nesse momento perceberam que Tutti tinha sumido. Procuraram na casa toda, até dentro dos armários - às vezes, ele entrava nos guardas – roupas -, por ser pequeno poderia ter ficado trancado.
A mãe estava apreensiva, mas não queria alarmar o filho que já chorava copiosamente.
No dia seguinte colocaram anúncios no jornal, no rádio e na internet: Cachorro desaparecido: boa recompensa. Começaram uma busca para encontrar Tutti.
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De repente, Tutti viu o portão se abrir. Ao longe viu uma cachorrinha que passeava com sua dona. Era muito mimosa, resolveu dar uma olhadinha na rua e na cadela... Mas, mal saiu do portão se viu dentro de algo escuro e estranho, não conseguia identificar o que era aquilo, estava sendo chacoalhado de um lado pro outro, já sentia vertigem, parecia estar de cabeça para baixo.
Tempo depois, foi tirado de dentro do saco.
Estava num lugar estranho. Haviam homens bebendo, jogando baralho, muitas garotas bonitas e arrumadas, ao fundo ouvia latidos de cachorros, gatos. Não entendia o que fazia ali. Procurou D. Laura, seu Alfredo e Yuri; até por “Mingau” - o gato de D. Laura -, ele queria encontrar. Porém, não via nenhum deles. Onde estavam? Não gostava dali.
- Seu Frederico, quanto o senhor me dar por esse cachorro? Disse Juvenal, caindo de bêbado.
- Não dou nada. Não é o tipo de cachorro que queremos aqui. Isso é cachorro de Madame. Só quero cachorro valente pra proteger o lugar.
- Veja, ele pode servir de comida pros outros cachorros. Pode ser um mascote pro senhor.
- Não. Ele não duraria um minuto.
Nesse momento, alguns dos frequentadores que faziam apostas, começaram a gritar:
- Seu Frederico, pegue o cachorro de Madame e coloque com o Bertoldo - esse, era um cachorro Pastor Alemão treinado pra brigar-. Eu aposto que ele não dura dois minutos para ser estraçalhado. Disse um dos apostadores.
Apesar de achar aquilo uma idiotice, Frederico não queria desagradar sues clientes. Pois seu forte ali era briga de galo. Essa sim dava dinheiro. Cachorro era uma vez ou outra que colocava pra brigar só pra animar o ambiente. Mas, naquele caso, era colocar pra matar. Resolveu dar uma garrafa de pinga pelo cachorro.
Trouxeram Bertoldo, um cachorro muito grande e valente. Como proteção havia uma grade separando as pessoas dos bichos.
Tutti olhou aquele cachorro, não entendia o que estava acontecendo. Nunca tinha visto um cachorro tão grande! Sentiu medo. Suas pernas tremiam. Nem precisava das grades, suas pernas não lhe obedeciam. Ficou encolhido num canto. A sua volta pessoas gritavam e sorriam. Começou a latir para que Yuri viesse tirá-lo dali.
Mas, devia estar rouco porque ninguém aparecia.
Bertoldo deu um rosnado ao ser instigado pelos apostadores, que o cutucava com ferro para que fosse pra cima do cachorrinho. Tentavam também empurrar Tutti pra perto de Bertoldo, mas esse nem se mexia encolhido num canto levando as cutucadas.
Outra vez, sem que percebesse Tutti estava num saco escuro. Foi tudo tão rápido que não viu quando alguém pulou a grade de proteção e o colocou num saco. Estava sendo sacolejado de novo. Mas por algum motivo dessa vez estava gostando. Queria era ficar longe daquele cachorro!
Ouvia a voz de uma mulher dizendo, fique quietinho. Não faça barulho. Estamos quase conseguindo.
Aline trabalhava como acompanhante. Apesar da clientela ser selecionada. Pensava em mudar de vida. Detestava apostas com animais. Todas as quintas-feiras tinham apostas clandestinas com briga de galos. Não gostava de galos, mas, cachorros era sua fraqueza. Apesar de morar num cubículo, já cuidava de cinco cachorros que encontrou abandonados na rua. Do dinheiro que ganhava, boa parte ia pra manutenção deles. Eram mais bem tratados que a dona.
Naquela noite estava acompanhando um senhor que era conselheiro de alguma coisa. Foi recomendada que tratasse o cara bem porque era figura importante. Fez tudo direitinho, mas quando viu que o cachorro iria matar o outro, não resistiu. Não sabe como conseguiu pular as grades, agarrar o cachorro e sair correndo sem perder o salto.
Foi um ato insano porque não poderia voltar mais lá. Ouviu ao longe a voz de Frederico dizendo:
-Volte aqui sua “vadia”.
Depois de tanto correria, Aline finalmente pôde respirar. Olhou para Tutti. Viu que tinha uma coleira com o nome dele. Pensou que em algum lugar uma criança deveria está sentido sua falta. Lembrou-se de sua mãe que também devia sentir sua falta.
Chegando à casa colocou ração para o cachorro e depois foi tomar um banho.
A dona da pensão cobrava um valor a mais de Aline pelo fato de criar cachorros. Vendo-a entrar com mais um, veio logo reclamar. Aline pegou uns trocados da bolsa e deu à mulher que calou a boca e saiu.
Aline não voltou mais no bar do seu Frederico. Tinha recebido o dinheiro do cliente e não fez o serviço. Sabia que isso sempre dava “boró”.
Ficou escondida por uma semana. Após isso, resolveu levar Tutti no Pet Shop porque ele aparentava está com coceiras. Pagou para que lhe dessem um banho caprichado.
Aline por ser alta, loira e muito bem produzida, passava por Madame quando ia ao Pet Shop. Era muito bem tratada. Ao vê o cachorro não acreditou no que via. Eles tinham tosado todo o pelo do animal, que mais parecia naquele momento um rato. Tutti se lamuriava sentindo frio, não se reconhecia, percebia-se o desespero do cachorro.
Aline se exaltou e começou a discutir com a atendente. Depois de muita discussão, a moça tentou segurá-la pelo braço. Ela - no instinto de se proteger -, empurrou a moça que veio a cair.
Ao olhar para o lado, viu que dentre as pessoas que observavam a cena tinha um senhor, que ela reconheceu imediatamente como sendo o conselheiro que ela acompanhava no bar do seu Frederico.
Não pensou duas vezes. Agarrou Tutti e saiu do local.
_ Meu bem! Coitada dessa moça! Se alguém fizesse isso com nosso cachorro eu ficaria possessa. Coitada! Disse D. Teresa para seu marido, Conselheiro Eufrásio.
Aline chegou em casa ainda zangada. Por uma semana, Tutti choramingou. Ao olhar no espelho, corria pra debaixo da cama. Sentia frio, só dormia com uma toalha sobre o corpo.
Na sexta feira, Aline teve que voltar ao batente. Ao retornar do trabalho, no dia seguinte, viu que o filho da vizinha estava torturando o cachorro. Ele pegava Tutti, pendurava- o pelo rabo e colocava uma gata para agredi-lo.
O moleque era “endiabrado”. Vivia aprontando. Como ela ainda estava com o sangue quente, deu logo uns puxões de orelha nele. Depois foi se deitar porque a noite tinha sido infernal.
Acordou com a polícia em volta da cama. A mãe do garoto a denunciou-a por agressão ao menor.
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O telefone na casa de D. Laura tocou. Era da delegacia dizendo que tinham resgatado alguns cachorros que estavam aprisionados numa casa, se poderiam ir à delegacia verificar se o deles estava junto.
Yuri saiu com o coração aos pulos para ir até a delegacia...
Continua.
Imagens do Google.