A geladeira e seu bilhete.
O amoroso despertou
E escreveu um bilhetinho que se alegrou e destacou-se entre tantos outros bilhetinhos
Este, feliz saiu pela janela voando
E agarrou-se na mão roliça da criança chorona, que sorriu
O pai arrancou-o do seu amado filho e marejou os olhos ao ver o que tinha escrito
Chegando em casa, colou-o na geladeira, que ao receber este recado derreteu-se o gelo, levando o bilhete ao chão.
E o chão brilhou, como se ali tivesse encerado
O bilhete deslizou e passou por baixo da porta que dá para a rua
E voou
E colou na camisa de um
Na bolsa de outro
No copo de mais outro
E todos tentavam prender o bilhete
Todos queriam usar o bilhete
Para entregar a pessoa amada
E o bilhete se dava
Mas ali não dormia
Ficava apenas o tempo dos olhos nos olhos
E voava
E colava
E ria
E voltava para o seu escritor amoroso
Que te deu vida
A geladeira, jamais imaginaria que o fato de apenas conservar o alimento, seria um motivo para receber tal mensagem... e depois deste dia, nunca mais gelou... hoje, ela vive num ferro-velho, servindo de armário ouvindo músicas melancólicas sobre desamor.