A graça de Lë
Ora, passaram-se seis vidas humanas e Phel já havia contemplado toda a sabedoria dos Arctar que sua vida lhe pudesse dar, pois tamanha era o conhecimento das sagradas existências que a própria vida concedida aos Eris-sir por Lë Arcnir era insuficiente para compreender a magnitude de seus ensinamentos. Phel fora chamado no leito de um lago, cujo o nome é desconhecido aos Eris-sir, para se apresentar ao alto conselho dos sábios e o mesmo fora feito com Skelkor. Ambos então, camhinharam juntos até aos palácios magnificos dos Arctar e se curvaram frente a eles como cavaleiros ao seu rei – Oque os senhores dos sábios desejam conosco? – disse Phel. – Algo relacionado à nossa missão imagino. – Como sempre tu és astuto na arte da lógica, mas lhe falta paciência – disse um dos sábios. – Mas é verdade, chegará a hora de irem até teus lares e confortarem seu povo. Essas palavras ecoaram por todo o salão, mas Phel estava descontente, uma vez que, seus trabalhos sobre o estudo das estrelas enfrentava ainda muitas dificuldades e para finaliza-lo precisaria da orientação dos Arctar. – Meu senhor, peço-le que me de mais tempo para me dedicar ao meu labor intelectual. - Falou Phel. – Queres mais tempo aqui? Não está com saudade do seu lar? – disse um dos sábios – Eu sou apenas um cidadão do Kosmo meu senhor, pois o único lar que me agrada se encontra além da Physis e somente dedico esta minha vida aos Eris-sir pois essa é a centelha da minha existência. – disse Phel. O conselho permetiu que ele permanecesse sobre sua guarda até que concluisse sua obra. então Phel levantou-se e caminhou para o lado de fora do palácio dos arctar e seguiu sobre estradas de rochas avermelhadas até seu jardim que havia construído perto de onde morava e dizem que era este o lugar de seu isolamento onde exercia suas reflexões. Enquanto o caso de Skelkor, não demonstrava nenhum interesse sobre os aspectos daquela terra, embora demonstrasse grande respeito e honra aos Arctar, ele não entendia a tamanha benevolência e generosidade que cintilava sobre eles e por falta dessa compreensão a muito tempo já havia criado em seu mais obscuro aspecto; uma dialética maliciosa sobre o seu próprio povo. Mas não confunda; a empatia de Skelkor sobre os seres de Lë não era nenhum sentimento pecaminoso ou muito menos algo negro e sombrio, mas apenas os via como meros ingredientes para um banquete ou um simples fragmento de minério que poderia ser coletado e utilizado a fim de confeccionar algo maior e belo. Assim ele pensava e trajando sua vestimenta corriqueira disse: - Poderosos seja os Arctar, pois dedico minha vida em meus ensinamentos que recebi de Vós e apesar deste lugar não ter mais nenhuma serventia para a conclusão de minha obra prometo-lhes honrar tua sabedoria até o final. Em seguida se levantou, e fora embora daquelas terras e até então nunca mais foi visto por ninguém. Ora, chegaram a notícia que Skelkor havia escolhido seu caminho e esse trajeto era desconhecido tanto aos olhos dos Arctar quanto aos de Phel, embora os dois, antes da chamada dos Arctar já tivessem trocado algumas palavras que mais pareciam uma despedida, ele muito triste ficou, por seu amigo não ter se despedido de forma apropriada e ido embora sem lhe contar sobre nenhum aspecto de sua obra. E por muito tempo perdurou sobre seu animado jardim, com incríveis e belas arvores, uma cantiga de pássaros ao dia e ao anoitecer ruídos de corujas que ali eram atraídas por várias espécies de arbústos que conservava e estudava arduamente. E assim pensava. - Tudo mais apenas se pensa que existe. Os mundos são infinitos, sujeitos à geração e ao perecimento. Nada é gerado pelo não-ser e nada perece no não-ser. Os átomos são infinitos em tamanho e número; movem-se como num vórtice e geram assim todas as coisas compostas. O fim supremo é a serenidade da alma, que não é idêntica ao prazer, mas é a condição constante da calma e do equilíbrio da alma, não perturbada por desejos naturais e não-necessários, outros ainda, nem naturais e nem necessários. Esse estado se chama também de bem-estar e lhe dá muitos outros nomes. Esse foi seu pensamento, e dizem que muitos anos permaneceu aderiva nesse pensamento. Porém, Lë Arcnir, sentiu o pensamento de Phel se entrelaçar com o teu e ficou perturbado e essa perturbação não era uma qualquer, ou seja, carregada com más acões, mas algo radiante que refulgia com uma luz branca azulada. Lë Arcnir por um instante parou e se maravilhou com esses pensamentos como alguém que admira pela primeira vez o belo. E quando as reflexões de Phel pararam sua consciência focou o Erai e passou a observá-lo por muito tempo, embora seus pensamentos ainda estivesse completamenta sobre a Physis e o Kosmo. Por muitos anos Phel estudou a natureza das coisas e descobriu como capturar uma estrela e fundi-la em algo. Mas o elemento que pretendia utilizar não existia nem mesmo na compreensão dos Arctar, assim ele comtemplou a completa aniquilação de seu trabalho. Ele ajoelhou-se e lamentou por muitas noites, pois sua obra não mais poderia seguir adiante. Ora, Lë Arcnir, soube da lamentação de Phel e, no exato momento em que se lamentava, Lë dirigiu-lhe a palavra; e Phel ouviu tua voz e amudeceu. E a voz de Lë Arcnir lhe disse: - Porque está triste Erai de Galin Eled? Por que se lamenta sobre sua obra completada? – que ser é vós? – disse Phel. – Eu sou Aquilo que é dia e se torna noite e a noite que se torna dia, aquilo que é semente e torna-se arvore e a arvore que torna-se semente, aquilo que nasce e está destinado a ser, aquilo que deve ser e não ser e não outra coisa. – disse Lë. – por muito tempo observei tu e tua obra, embora tu seja apenas um ser do cosmo, tua obra em seu pensamento permitiram-me amar ainda mais minhas criações, assim vou lhe conceder uma graça. Não como qualquer outra, mas uma que somente a você ela obedecerá. – Senhor do cosmo, peço-lhe com toda minha lealdade aos meus valores que agora, estão além de seus domínios, conceda-me um elemento que me permita capturar o poder de uma de suas estrelas, para forja-lá e lapida-lá. – disse Phel ajoelhado. Lë Arcnir fixou as palavras do sábio, então em meio a um brilho estrondoso, ergueu-se um magnífico fragmento que assemelhava-se com vidro espinhoso como um diamente, no entanto mais denso e duro do que qualquer outro material conhecido: - Contemple tua obra ó sábio supremo dos Elis-sir. – disse ele, o presenteando. Ao sentir em suas mãos aquele fragmento, lagrímas escorreram sobre seu rosto e despencaram ao chão como chuva escorrendo na superficie, e disse: - A palavra é a sombra da ação. Então Phel pegou o fragmento e dirigiu-se até a mais inexpugnável das forjas dos Arctar, onde em sua morada existia um grande vulcão; Chaledrin; o artesão de cobre. E secretamente, começou a forja-lá fora do conhecimento dos Arctar. Dizem que Phel, primeiro lapidou o fragmento, em seguida o transformou em uma gema e fundiu seu espírito, sua essência e sua vontade a ela. Demorou sete dias e sete noites para que a pedra fosse forjada e jamais descansou, pois demais profunda era sua felicidade em cada vez que martelava aquela gema. Por fim, correu até o topo do vulcão, ergueu bem alto a gema e ela sobrevoou como uma estrela cadente até alcançar as estrela que ele tanto admirava. A gema colidiu e absorveu toda a energia emitida pela estrela. Dizem, que primeiro a gema capturou a luz, depois absorveu o calor e por fim confinou as chamas que eram brancas e azuis. Após isso, uma gigantesca explosão no meio do vazio com incontáveis cores e tons fora vista em Vários mundos. Então a gema retornou até seu mestre como um meteorito em orbita. Em suas mãos ele segurava a gema, porém Phel não sentira nenhum calor ou chama, mas seus olhos contemplavam um brilho incandescente. Então ergueu bem alto a gema, sobre um solo úmido e gelado com incontáveis gotas deitando-se ao chão e disse – contemplem minha obra ó poderosos e se desesperem.