O ritual
Nos primórdios da civilização, quando o fogo havia sido recém-descoberto e os homens deixavam de se abrigar em cavernas para se abrigar em aldeias, existiam duas tribos rivais: a tribo Akita, localizada no sul da Ásia, e a tribo Malrar, localizada ao norte. O pai de Melgar, Anoki, lider da tribo Akita, estava muito doente, à beira da morte. Melgar sabia que seria nomeado o novo líder em breve desde que passasse pelo ritual com sucesso.
Três guerreiros fiéis a Anoki levam o jovem Melgar, de 21 anos de idade, aos arredores da tribo Malrar. Melgar ainda não sabia qual seria sua missão. Estava assustado, mas demonstrava coragem diante de seu destino, afinal de contas, ele seria o novo líder de seu povo e não podia fraquejar diante dos desafios, mas enfrentá-los com valentia. Alob, o mais velho dos 3 homens que levavam o jovem Melgar para cumprir o ritual, conversa rapidamente com o filho de Anoki:
― Melgar, filho de meu mais dileto amigo, Anoki. Você deve estar se perguntando qual é sua missão e o que você está fazendo aqui. Pois bem. Saciarei sua sede de curiosidade. Você deve entrar na aldeia de Malrar e trazer a filha de Naras, Neeva, até sua aldeia e torná-la sua esposa. Como você fará isso é problema seu. E você fará isso sozinho. Este é o seu ritual de passagem a grande líder.
― Mas e se eu não conseguir? ― pergunta, assustado com seu desafio, Melgar.
― Se você não conseguir será morto, ou por eles ou por nós. ― E após responder ao jovem Melgar, Alob chamou os outros dois homens e saíram em disparada pela floresta abandonando o filho de Anoki à própria sorte.
O sol já havia se posto há um bom tempo. O jovem Melgar se embrenhou na floresta com a ajuda de seu facão. Esta era sua única arma: um simples facão. O jovem da tribo Akita chegou o mais próximo possível da tribo rival. Não havia visto nenhuma sentinela. Mas, quando estava a menos de trinta metros da aldeia inimiga, acontece o inimaginável: Melgar cai numa armadilha! Ele não se machuca com a queda, mas não tem como sair do buraco sem ajuda, pois suas bordas são lisas e ele é bem fundo. Desesperado e sem saber o que fazer Melgar reza em silêncio. Após sua oração, pensa nas opções que dispõe para sair da situação desconfortável em que se encontra: se gritar por ajuda será imediatamente capturado e provavelmente morto. Se não gritar e não for descoberto morrerá de inanição ou sede. Após ficar matutando sobre qual é a melhor das duas alternativas, o sono chega e Melgar adormece. Quem dera se ele pudesse acordar e ver que tudo não passara de um sonho, ou melhor, de um pesadelo. Mas não era sonho, nem pesadelo, era sim a realidade cruel e fria como uma faca entrando na carne.
― Acorde! Quem é você? ― pergunta, com voz tonitruante, o homem alto e imponente que observa do alto o jovem Melgar dentro da armadilha.
― Eu sou Melgar, filho de Anoki, líder da tribo Akita.
― E o que você faz aqui? Está passeando? ― os guerreiros que acompanhavam Naras, o líder da tribo Malrar caem na risada. Mas Naras faz um sinal com a mão para eles se calarem e é prontamente atendido.
― O que você faz aqui?―pergunta novamente Naras, agora com o rosto sério.
― Eu vim cumprir uma missão. Um ritual de passagem.
― E que ritual é este que o traz justamente à tribo inimiga da sua?
― Eu vim raptar sua filha e torná-la minha mulher! ― respondeu sem pestanejar o jovem guerreiro.
― Oh! Responderam em uníssono os guerreiros de Naras.
― Tirem-no daí. Ele é inimigo, mas é valoroso. Não é um vil mentiroso. Vai poder lutar por sua vida honrosamente. Numa luta até a morte com Kaab, meu filho e sucessor.
Melgar é levado para a aldeia da tribo de Malrar. As crianças olham para ele e riem fazendo caretas. As mulheres ficam apaixonadas pelo belo rapaz de 1,92m de altura, músculos salientes e face de anjo. Mas uma mulher em particular o observa mais detidamente: Neeva, a filha de Naras.
Após 4 luas, chega o dia do esperado confronto. A aldeia da tribo Malrar está em polvorosa. Uma luta é sempre um evento aguardado ainda mais quando ela é de vida ou morte. Neeva observa o jovem inimigo de sua tribo com um misto de desejo e medo. Kaab, o jovem de 2,00m de altura, corpo e rosto viril observa seu oponente, Melgar. Cada um luta com uma faca bem afiada. Kaab é destro e Melgar canhoto o que torna o confronto ainda mais imprevisível. A luta começa. Kaab dá um pontapé na mão de Melgar e arremessa a faca dele longe. Melgar está desarmado, mas longe de estar vencido. E como um puma que luta pela vida de seus filhotes, torce a mão de seu oponente e coloca a faca debaixo de seu pescoço. Kaab está vencido. A morte seria seu destino. Mas Melgar não o mata. Ele pega a faca e a atira com força ao chão. Naras, com as lágrimas caindo, aplaude o gesto do jovem guerreiro. E diz: ―Acabo de ganhar um filho. E abraça o jovem Melgar. Kaab dá um sorriso tímido e parabaniza seu outrora inimigo com um aperto de mão.
Melgar passa de inimigo a aliado. E é inteirado de tudo sobre sua ex-tribo. Seu pai morreu uma lua depois de sua captura. Naras acha que ele foi envenenado. O que é bem provável. Alob tinha tudo a ganhar com a morte de Anoki e de seu filho, Melgar. O ritual nunca existiu. Foi apenas um meio lícito, um mero pretexto para Alob se livrar do herdeiro de Anoki e assumir o poder da tribo Akita.
Lutando lado a lado, Melgar, Naras e Kaab derrotam o traidor Alob. Ele não é morto. É deixado na floresta para viver como os animais: lutando por sua vida dia após dia. Melgar casa-se com Neeva diante dos festejos das duas tribos que viram uma só, governadas pelo justo e honrado Naras: o leão do norte.
FIM