A Ilha da Morte - Parte V – Bonecos, Escalpos e Uma Armadilha Mortal
Depois de pisarmos pela primeira vez na tal ilha, avistamos algumas pessoas passando pela mata e desaparecendo. Na nossa frente, havia uma fonte de água perto de árvores retorcidas.
Todos nós estávamos com os nervos a flor da pele por essas desagradáveis surpresas e resolvemos, mesmo assim, ir em frente.
Cassandra resolveu então verificar o terreno com mais profundidade e viu outro vulto correndo a esquerda das árvores.
Mais a esquerda, havia outra árvore retorcida e notei algo esquisito em um dos galhos.
Era um boneco de palha semelhante a mim e pedi a Myrymia que usasse seus poderes para descobrir se havia algo de mágico no boneco e nada havia de anormal. Então o peguei do chão e guardei em um dos bolsos da calça.
Seguimos em frente e encontramos em outra árvore uma pessoa escorada no tronco sem sinais vitais. No lado oposto, Cassandra encontrou outra pessoa morta e ali encontrou evidentes sinais de escalpelamento.
Enquanto isso, Corinna e Myrymia detectaram magia nas proximidades do corpo e mais alguns vultos passaram por nós. Provavelmente seriam os espíritos dessas duas pessoas que falharam no teste e ainda não sabem que morreram. Eu ouvi falar que era comum isso acontecer quando sofrem uma morte violenta como esta.
Mas Albert estava alarmado.
Havia algo na mão do segundo cadáver.
Era outro boneco.
E tinha suas feições.
* * *
As coisas estavam ficando mais confusas.
Pessoas mortas, bonecos, vultos que se parecem com espíritos. Se isso era um teste, então foi muito bem planejado.
Depois de Myrymia não detectar magia no boneco de Albert e ele pegar os espólios do cadáver, andamos mais alguns quilômetros até encontrar uma cabana de madeira caindo aos pedaços.
Apesar disso, a cabana era simples e bem convidativa de se passar uma noite nela. Albert resolveu tudo com um pontapé na porta apenas para encontrarmos outro cadáver.
De repente, um grito de dor e um baque seco.
Era Cassandra que havia levado uma flechada nas costas.
Quando tentamos esboçar uma reação, outro grito horrendo de dor e outro baque seco.
Era a vez de Albert ser também atingido pelas costas com outra flechada.
Éramos alvos fáceis como bois no matadouro.
Tínhamos caído numa armadilha mortal.
E precisávamos sair daquela cabana.
O quanto antes.
* * *
Myrymia olhou para o teto da cabana e encontrou um vulto armado em cima dos buracos do mesmo.
Logo um plano foi concatenado com Corinna e eu preparando uma parede de escudos em cima de nossas cabeças para protegermos dos disparos do vulto misterioso enquanto a meia-elfa usava sua bola de fogo para aniquilar com ele que fugiu pulando o teto.
Albert teve então uma ideia inusitada, mas se tudo corresse bem, pegaríamos nosso “amigo” sem guarda e com ele totalmente cercado.
Ele deu um golpe em diagonal na sustentação da cabana com o objetivo de fazer o teto desabar com o homem junto.
Um estouro acontece e todos nós saímos da cabana para averiguar se o arqueiro misterioso tinha sido derrubado do teto, mas não encontramos ninguém.
E o nosso arqueiro oculto atacou de novo.
Myrymia sentiu um formigamento no peito e caiu de joelhos atingida por outra flecha.
Mas, ao fazer isso, acabou cometendo um erro grave e a luz da lua fez refletir seu rosto sendo facilmente reconhecível por nós.
Era um bandido.
E Cassandra não pensou duas vezes.
Escalou o teto e ficou cara a cara com o atônito bandido.
E começou seu ataque.
* * *
O bandido recuperou-se do choque e havia se virado para Cassandra com sua adaga em punho pronto para estripa-la quando uma bola de fogo havia passado a milímetros dos cabelos dele dando tempo suficiente a Cassandra nos alertar sobre a presença do bandido.
Albert já estava a postos para atacar com sua Katherine quando outra bola de fogo foi disparada por Myrymia de forma certeira fazendo o bandido cair do teto urrando de dor e fugindo feito o infiel da lua crescente.
Ela ainda tentou reunir forças para outro ataque, mas agravou seu ferimento e novamente caiu de joelhos.
Tinha a intenção de ajudar Albert a acabar com aquele bandido, porém ele reagiu com raiva e pediu, aos palavrões, que eu ficasse protegendo Myrymia.
Cassandra e Corinna, por sua vez, já tinham partido atrás do bandido, mas o mesmo já tinha ido embora e voltaram a cabana.
Decidimos então nos reagrupar e curar nossos ferimentos com Corinna usando seus poderes ao máximo.
Estávamos bastante irritados com aquele bandido.
Myrymia mais uma vez me repreendeu por tê-la deixado quase as portas da morte.
E senti-me como um verdadeiro idiota por ter feito um ato tão estúpido.
* * *
Havia um forte clima de tensão no ar quando deixamos a cabana.
Albert havia encontrado um caminho mais curto e resolvemos seguir por ali.
O tempo começou a mudar com nuvens mais ameaçadoras que chamavam chuva e a temperatura havia caído rapidamente.
Por sorte, havíamos encontrado outra cabana embora suas paredes estejam deterioradas pelo tempo.
Havia uma lareira no canto esquerdo e no meio da sala, havia uma mesa detonada e no quarto, uma cama destruída com o colchão só com a espuma.
Enquanto Albert levantava a mesa para tapar a janela e garantir nossa proteção da forte tempestade, eu fiz o fogo e Corinna usou a sua magia da água para abastecer os cantis que Albert e Cassandra haviam obtido dos cadáveres.
Comemos nossa ração e fizemos turnos de vigia para garantir que nenhum outro vulto estranho nos atacaria.
A chuva apertava lá fora e o fogo começou a reduzir-se até ficar em situação de escuridão total.
Albert e Corinna dormiam tranquilamente e Cassandra também dormia na cama destruída.
Myrymia e eu estávamos de vigília quando senti uma dor forte no peito e um formigamento em todo o corpo.
Mal consegui ouvir os gritos de desespero de Myrymia e Cassandra, que havia despertado com meu brado agonizante.
Só ouvi um baque seco.
Tinha levado uma flechada no peito.
* * *
O que se seguiu então foi uma confusão total.
Myrymia atacou o vulto com uma bola de fogo e graças a isso e ao reflexo de um relâmpago, ele foi descoberto e Cassandra subiu no teto para tentar captura-lo mas o bandido acertou um forte golpe na ladra fazendo-a cair do telhado e desmaiar com o impacto da queda.
De repente, outras sombras surgiram do nada e atacaram com flechadas de todos os lados acertando uma em Albert que o deixou grogue e duas em Corinna deixando-a seriamente ferida.
Outra sombra surgiu e atirou outra flecha em Myrymia que passou de raspão dando tempo suficiente para que a elfa se curasse usando uma de suas poções de cura.
O reflexo de outro raio revelou a forma de nosso perseguidor e estava mascarado.
Outra saraivada de flechas veio e uma delas atingiu Myrymia de novo, jogando-a de encontro a uma parede.
Tentei protege-la com meu escudo mas minhas forças se esgotaram e caí no chão com meu ferimento do ataque anterior se agravando ainda mais.
Corinna usou suas últimas forças para tentar curar-se mas caiu no chão crivada de flechas.
Assim como Albert e Cassandra.
Todos mortos.
Falhamos em nosso teste.
O mundo estava perdido.
Pedimos perdão aos nossos mestres pelo fracasso.
Tudo estava terminado.