Férias Inesquecíveis
 
        O relógio marcou 18:00 "até que enfim" sussurrou Ana Carolina, juntando as pressas o máximo de coisas possíveis enfiando na bolsa e saindo depressa sorrindo para os colegas de trabalho que acenavam lhe desejando boas férias. Nem se quer olhou para trás, para as mesas ainda ocupadas pela maioria dos funcionários da grande editora em que trabalhava.
          
          Planejou aquela viagem por 6 meses, 2 deles só para tomar coragem, afinal de contas viajar de moto é perigoso por si só e sozinha, nem se fale.

          Morava num apartamento pequeno onde havia divido com o ex-noivo muitos momentos felizes, mas estes já faziam parte do passado. Ana Carolina sofreu muito com o término, mas não deixou que a dor tomasse conta da sua vida. A partir daquele dia prometeu a si mesma que faria a viagem que tanto sonhara e que o ex sempre se negou alegando falta de tempo, mas a verdade é que ele  nunca fazia o que não lhe agradava. E ela sabia disso.

          Abriu a porta ansiosa, jogou as chaves na mesinha e correu para o quarto. Tomou seu banho cantarolando, sorriu pra si no espelho dizendo:

          - Aproveita tua viagem menina, foi meticulosamente elaborada pra você se divertir e esquecer de prazos, metas e o estresse desta vida corrida. - se deu um beijo e saiu cantando.

          Iniciou um ritual, a roupa escolhida para a ocasião. Estava no início do inverno, tempo fresco, porém para andar de moto sabia que um ventinho virava um ventão, um friozinho, friozão. Jaqueta de couro escolhida a dedo para o dia, um jeans confortável, botas delicadas porém apropriadas, luvas e a maquiagem. Sem esta deixava de ser Ana Carolina. A mala havia sido feita e refeita até chegar ao volume ideal indicado num blog de um experiente viajante sobre duas rodas. Conferiu os documentos, cartões, dinheiro, celular, carregador, câmera fotográfica, água e o mapa com o seu roteiro, este não podia faltar!

          Desceu com dificuldade com o peso da mochila. O porteiro já conhecedor dos planos de Ana para aquelas férias lhe desejou boa sorte, pedindo a Deus que a acompanhasse. Sorriu e foi em direção à garagem ansiosa, tinha o mesmo sentimento da primeira viagem que fez sozinha com as amigas a 20 anos atrás, euforia, excitação, medo, ansiedade e muita adrenalina correndo nas veias.

          Não atendeu as chamadas do celular, já havia falado com os amigos, com os pais à tarde, já havia lido todos os recados nos sites de relacionamento dos quais estava cadastrada e respondido à todos, a maioria das amigas não concordava com aquela viagem, consideravam perigosa demais, sem graça demais, por semanas enviaram páginas de cruzeiros e belíssimas praias tentando fazê-la desistir. Por este motivo não deixou claro a data da viagem nem horário. Só quando travou o capacete e sentou na moto, enviou a mensagem: "Se inicia a minha jornada...". Ligou a sua moto pedindo a Deus proteção e deixou naquela garagem todo o medo e só levou consigo o espírito aventureiro.

          
 
 
              Os caminhões não davam trégua e a moto começou a perder velocidade e não atender a aceleração. Ana Carolina era experiente na pilotagem, só não tinha experiência em viagens tão longas quanto a que estava por fazer. Ela conhecia sua moto, ela esta não estava normal. O coração começou a ficar apertado não avistava nenhum posto ou sinal de que algum estaria próximo. Poderia parar para verificar, mas sabia do risco de assalto, preferiu continuar rezando para que a moto chegasse até o destino.
 
        Avistou luzes, deu um sorriso, um posto a frente, sinalizou e entrou. Estacionou desligou olhou mexeu, e tentou dar partida novamente. Nada, tudo apagado, nem se quer uma luzinha deu sinal de vida, a moto pifou!
 
        Esbravejou, xingou, chutou a moto, se jogou na calçada com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos entrelaçadas nos cabelos parecendo que iria arrancá-los, dizia pra si mesma: “- Foi praga da minha mãe, ela não queria, disse que eu desistiria!”. O coração apertado, vendo desfazer todos os seus planos. Não percebeu uma moto estacionar ao seu lado, só ouviu:
 
     - A moto parou? Posso ver se consigo te ajudar.
 
        O motociclista mexeu, usou de todo o seu conhecimento e experiência mas de nada adiantou. Se sentou ao lado dela e lhe disse:
 
        - Infelizmente não sei dizer qual é o problema da sua moto, não posso te ajudar.
 
        Ela pela primeira vez levantou os olhos para dar de cara com aqueles olhos brilhantes que riam daquela cena, daquela mulher descabelada quase aos prantos porque sua moto havia parado de funcionar.
 
        Se ajeitou e fitou ele por instantes, como não havia percebido aquele motociclista chegar, onde ele estava? Ah, se lembrou com raiva da moto por tê-la deixado na mão.
 
        - Está viajando? - perguntou ele sem deixar o olho no olho.
 
        - Tentei, né? Planejei tanto e vim parar aqui, a 40 minutos de casa.
 
        - Fez a revisão antes de pegar a estrada? - continuou ele dessa vez com um sorriso sarcástico mostrando seus dentes brancos.
 
        - Hum? - desviando o olhar ela baixou a cabeça. - Acho que esqueci.
 
        Ele soltou o riso que estava preso.
 
        Ela admirou aquela risada gostosa naquele homem charmoso, mas ficou chateada, se levantou e caminhou um pouco.
 
        - Me desculpe. - disse ele. - Não quero ser mal interpretado, só achei engraçado. Coisa de marinheiro de primeira viagem. Acontece. - Se levantou com ar brincalhão.
 
        Ana se voltou para ele achando graça nas suas palavras e pode ver melhor como era bonito, charmoso, cabelo comprido, rosto bronzeado, barba por fazer e um sorriso branco encantador. “Estou sonhando! Estava num pesadelo, agora estou num sonho!”, disse em pensamento.
 
        - Não posso te ajudar com a moto, mas posso te pagar um suco, uma água. Vamos entrar, assim você alivia um pouco a tensão, pode ligar para virem te buscar, buscar a moto.
 
        Ana sem pensar duas vezes seguiu para a loja de conveniências, aceitou um suco, ligou para a central do seu seguro e saíram conversando, ela deixou que ele falasse, mas se revelou muito pouco. Ele também estava de férias, mas diferente dela tinha experiência em viagens deste tipo, conhecia tudo a respeito. A conversa fluiu sem que ela percebesse os minutos correrem o guincho chegou para buscar a moto. Quando este estacionou ela sentiu, não queria ir, não queria deixá-lo, como era interessante, gentil, engraçado, que companhia! Daquelas difíceis de se encontrar.
 
        - Agora você está a salvo. Vai descansar em casa e da próxima vez não esquece da revisão!
 
        - Não, não esquecerei. E nem desta noite, pena que minha aventura fica pra próxima. - disse baixinho, acreditando que ele não fosse ouvir, pois já colocava o capacete para pegar a estrada novamente.
 
        A moto dela já estava em cima do guincho e bem presa. Ela ajeitava a mochila no banco para poder entrar e voltar com a sua moto pra casa, quando ele acelerou parou próximo da porta do guincho, retirou o capacete e disse:
 
        - Vem comigo, vem curtir a viagem que você queria fazer!
 
        Ana Carolina perdeu o fôlego, um pé estava no degrau e outro esticado paralisado no meio do caminho, por segundos ficou a olhar para ele sem responder. A cabeça ficou confusa, um misto de surpresa, euforia, medo e vaidade lhe invadiu. Pensou consigo: “- Vou deixar os 'nãos' e dar oportunidade aos 'sins' que nunca tive coragem de dizer! Que seja o que tiver que ser, vou nessa!”. Puxou a mochila que estava acomodada no banco e pegou o capacete, anotou o endereço para o motorista do guincho e desceu sorrindo para ele que lhe devolvia na mesma intensidade.
 
        - Pra onde estava indo moça? Pra onde quer ir?
 
        - Quero ir pra onde você for, sem destino, sem roteiros.
 
        - Vem, monta ai e vamos nessa então!
 
        Travaram os fechos dos capacetes e ela se ajeitou na moto grande e diferente, bem diferente da dela em tamanho e modelo, porém muito confortável a garupa. Arrumou a mochila nas costas e deu sinal que estava pronta, ele acelerou devagar para saírem do posto, ao passar perto do latão de lixo, Ana retirou o seu mapa do bolso amassou e jogou. Ali começava a sua aventura de verdade. Uma acelerada colocou os dois na rodovia, que estava mais calma, pelo menos ali da garupa ela não sentia tanto a pressão dos carros grandes e caminhões, dali era só curtição, dava para apreciar o céu estrelado, e sentir o perfume dele.
        Ela deixou no posto qualquer medo como havia feito na garagem quando saiu do seu apartamento, e só levou o espírito aventureiro. 

P.S.-As férias continuam num conto erótico que será publicado em breve.
 
       
 
 
Anne Valentine
Enviado por Anne Valentine em 20/05/2018
Código do texto: T6342044
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