NOITE DE EXPOSIÇÃO
Era uma sexta noturna e me arrumei para ir à exposição de quadros de vários pintores da cidade. Coloquei aquela saia preta com a blusa branca bordada de manga comprida e sandália de tiras da cor mostarda a combinar com a bolsa. Estava bela e perfumada e segui rumo ao meu destino.
Ao adentrar no recinto vi que os olhares se voltaram para mim. Os convidados já estavam com sua taça de espumante na mão e o garçom passava com os apetitosos doces e salgados.
Aceitei minha taça de espumante e fui me ajeitando entre eles até que encontrei um amigo que há muitos anos não via. Foi aquele abraço gostoso, mas que incomodou seu amigo do lado. Conversamos um pouco e eles foram se afastando para outra parte do recinto. Passei então a apreciar as telas.
Os quadros tinham temas bem diferenciados. Uns abstratos com cores vibrantes, outros com traços em preto e branco, outros com rostos de crianças, outros mulheres brancas e negras, outros paisagens deslumbrantes.
Fui me envolvendo com as obras de tal maneira que não percebi que estava ficando tarde e as pessoas indo embora.
O espumante estava delicioso e já estava na quarta taça quando senti que minha sandália incomodava muito e não tinha aonde sentar. Encostei-me numa parede suando frio, tirei as sandálias e com sensação de desmaio, fui escorregando até sentar no chão e adormeci.
Ali permaneci por algum tempo e quando acordei não havia mais ninguém, somente eu e os quadros. Levantei e vi um feixe de luz que vinha debaixo da porta da cozinha. Andei até lá pelo escuro e encontrei um gato comendo o resto de comida que não tiraram do lixo. Não tinha como sair, tudo trancado.
Fui até o banheiro e percebi que a janela dava para fora. Criei coragem, subi na privada e consegui sair por aquela minúscula janela. O alarme disparou, mas alcancei rápido o meu carro e fui embora correndo.
Conclusão, cheguei em casa exausta com a blusa imunda, a saia rasgada e a sandália deixei por lá. Talvez passe amanhã para buscar.