Robert estava desaparecido há horas!
O semblante de Morgana, antes austero e sombrio, se refez sereno e encantador. Sabia desfazer o nó da garganta com um sorriso que ia-se tornando angelical e franco, na medita em que ela enclausurava sua dor numa cela e jogava a chave fora.
O clima era tenso.
Daniel repetiu o que dissera antes:
— Podemos cancelar nosso cruzeiro.
— Quero ouvir o canto da sereia.
Ele entendeu a que canto da sereia Ravenala se referia. Mas não gostou da intimidade dela tratando Robert Bobinho, afinal, Bob e Ravenala foram quase casados. E procurou expulsar, da sua mente, a cena quando na Basílica Santa Terezinha, entregara Ravenala a Robert, como Abraão entregou Sara ao faraó.
A história se repetia. Assim como o faraó devolveu Sara a Abraão, também Robert devolveu Ravenala a Daniel. Mas, o ciúme represado, tentava romper as barreiras do passado e lançar águas turbulentas na beleza do projeto de vida que tinham para dos dois. Daniel não permitiu que o ciúme atrapalhasse o projeto de vida que tinha a dois. E voltou a refletir sobre o mundo encantado da sereia: A lenda pode vir de uma realidade relacionada com as baleias. A baleia canta, normalmente, na época de acasalamento, daí, os antigos atribuírem o misterioso canto a um ser desconhecido e fantasioso chamado Sereia. Assim, ficção acabava influenciado na vida real e os marinheiros, atormentados que eram pela solidão de meses a fio, sem contato com o mundo exterior, resistem ao desânimo, na esperança de que a qualquer momento, possa surgir das águas uma encantadora mulher com cauda de peixe.
Percebendo que Daniel orbitava um mundo diferente daquele que no momento viviam, Ravenala disse-lhe docemente: ‘Volte, meu filho! É hora do embarque.”
—Desculpe-me. Estava pensando como seria a vida de um marinheiro.
— Ora, Dan! Com certeza dando nó de marinheiro e contanto gaivotas. Afora isso, só céu e mar. Tormentas, ribombar das águas quebrando na costa noticiando que estão prestes a desembarcar.
— Gostei do ribombar. Parece que o movimento do mar agitado, guarda sintonia com o baticum do coração, quando se aproxima o desembarque.
— Poético e verdadeiro. Agora venha depressa, o Paraíso nos convida a passear.
A mão estendida do comandante apontava a direção do embarque.
— Bem-vindos ao navio mais seguro que o homem já construiu. Nem Deus afunda o Paraíso Sutton Hoo.
— De Deus não se zomba, disse baixinho, Ravenala. E fez o sinal da cruz na testa.
Sem entender muito bem o significado daquele gesto, Daniel repetiu os movimentos dela e traçou também sobre a sua testa o sinal dos cristãos.
— Não gostei dos modos do comandante.
— Que modos?
— Esquece. Dan.
O comandante continua a recepcionar os passageiros: "Venham realizar sua melhor fantasia, embarquem no Val Paraíso Sutton Hoo e conheçam o mundo que poucos tiveram a oportunidade de ver. Embarquem no navio mais seguro do mundo.”
— Bem-vindos a bordo — disse a marinheira em cujo casaco, podia ver-se duas divisas e uma medalha dourada na lapela.
— Aquela marinheira te olhou de modo diferente, resmungou Ravenala.
— Para Ravinha...
Ravenala e Daniel ocupam o camarote que outrora pertencera ao rei Sigebert. Viajaram sete dias e sete noites, encantados com o entardecer em alto mar: Montanhas de águas se elevam e se quebram barulhentas chocando-se com o costado do navio. Vez por outra, a monotonia é quebrada pela presença de golfinhos que seguem a embarcação.
Durante os primeiros dias, navegaram sem maiores problemas, nada mais do que um susto, para ‘marinheiro de primeira viagem’. Mas... No sétimo dia, naufragam. Nadaram durante muitas horas, agarrados nos destroços do navio, até alcançam a praia.
— Meu bem, não te desgarraste nem por um momento, de sua maleta. Não te preocupas em salvar minha vida?
—Sem a maleta não poderei salvar a ti nem a mim mesmo. Aqui estão meus inventos, e algumas peças que podem tirar-nos de uma ilha deserta.
— E quem disse que quero sair da ilha? Vamos procurar alimentos, construir um abrigo. Ter filhos...
— Criar um novo mundo?
— Digamos um mundo novo! Sem violência e sem guerra. Não aguento mais o inferno em que se transformou a vida na cidade. Dou glória a Deus pelo naufrágio, que salvou nossas almas do inferno.
Daniel não questionou, de fato, aquele inferno ele conhecia:
... paparapapapá...
Vila Isabel fizera festa.
O helicóptero da Polícia Militar foi abatido. “Oh, quão desumano é o convívio com os humanos...”
***
Adalberto Lima, "Estrela que o vento soprou."
O semblante de Morgana, antes austero e sombrio, se refez sereno e encantador. Sabia desfazer o nó da garganta com um sorriso que ia-se tornando angelical e franco, na medita em que ela enclausurava sua dor numa cela e jogava a chave fora.
O clima era tenso.
Daniel repetiu o que dissera antes:
— Podemos cancelar nosso cruzeiro.
— Quero ouvir o canto da sereia.
Ele entendeu a que canto da sereia Ravenala se referia. Mas não gostou da intimidade dela tratando Robert Bobinho, afinal, Bob e Ravenala foram quase casados. E procurou expulsar, da sua mente, a cena quando na Basílica Santa Terezinha, entregara Ravenala a Robert, como Abraão entregou Sara ao faraó.
A história se repetia. Assim como o faraó devolveu Sara a Abraão, também Robert devolveu Ravenala a Daniel. Mas, o ciúme represado, tentava romper as barreiras do passado e lançar águas turbulentas na beleza do projeto de vida que tinham para dos dois. Daniel não permitiu que o ciúme atrapalhasse o projeto de vida que tinha a dois. E voltou a refletir sobre o mundo encantado da sereia: A lenda pode vir de uma realidade relacionada com as baleias. A baleia canta, normalmente, na época de acasalamento, daí, os antigos atribuírem o misterioso canto a um ser desconhecido e fantasioso chamado Sereia. Assim, ficção acabava influenciado na vida real e os marinheiros, atormentados que eram pela solidão de meses a fio, sem contato com o mundo exterior, resistem ao desânimo, na esperança de que a qualquer momento, possa surgir das águas uma encantadora mulher com cauda de peixe.
Percebendo que Daniel orbitava um mundo diferente daquele que no momento viviam, Ravenala disse-lhe docemente: ‘Volte, meu filho! É hora do embarque.”
—Desculpe-me. Estava pensando como seria a vida de um marinheiro.
— Ora, Dan! Com certeza dando nó de marinheiro e contanto gaivotas. Afora isso, só céu e mar. Tormentas, ribombar das águas quebrando na costa noticiando que estão prestes a desembarcar.
— Gostei do ribombar. Parece que o movimento do mar agitado, guarda sintonia com o baticum do coração, quando se aproxima o desembarque.
— Poético e verdadeiro. Agora venha depressa, o Paraíso nos convida a passear.
A mão estendida do comandante apontava a direção do embarque.
— Bem-vindos ao navio mais seguro que o homem já construiu. Nem Deus afunda o Paraíso Sutton Hoo.
— De Deus não se zomba, disse baixinho, Ravenala. E fez o sinal da cruz na testa.
Sem entender muito bem o significado daquele gesto, Daniel repetiu os movimentos dela e traçou também sobre a sua testa o sinal dos cristãos.
— Não gostei dos modos do comandante.
— Que modos?
— Esquece. Dan.
O comandante continua a recepcionar os passageiros: "Venham realizar sua melhor fantasia, embarquem no Val Paraíso Sutton Hoo e conheçam o mundo que poucos tiveram a oportunidade de ver. Embarquem no navio mais seguro do mundo.”
— Bem-vindos a bordo — disse a marinheira em cujo casaco, podia ver-se duas divisas e uma medalha dourada na lapela.
— Aquela marinheira te olhou de modo diferente, resmungou Ravenala.
— Para Ravinha...
Ravenala e Daniel ocupam o camarote que outrora pertencera ao rei Sigebert. Viajaram sete dias e sete noites, encantados com o entardecer em alto mar: Montanhas de águas se elevam e se quebram barulhentas chocando-se com o costado do navio. Vez por outra, a monotonia é quebrada pela presença de golfinhos que seguem a embarcação.
Durante os primeiros dias, navegaram sem maiores problemas, nada mais do que um susto, para ‘marinheiro de primeira viagem’. Mas... No sétimo dia, naufragam. Nadaram durante muitas horas, agarrados nos destroços do navio, até alcançam a praia.
— Meu bem, não te desgarraste nem por um momento, de sua maleta. Não te preocupas em salvar minha vida?
—Sem a maleta não poderei salvar a ti nem a mim mesmo. Aqui estão meus inventos, e algumas peças que podem tirar-nos de uma ilha deserta.
— E quem disse que quero sair da ilha? Vamos procurar alimentos, construir um abrigo. Ter filhos...
— Criar um novo mundo?
— Digamos um mundo novo! Sem violência e sem guerra. Não aguento mais o inferno em que se transformou a vida na cidade. Dou glória a Deus pelo naufrágio, que salvou nossas almas do inferno.
Daniel não questionou, de fato, aquele inferno ele conhecia:
... paparapapapá...
Vila Isabel fizera festa.
O helicóptero da Polícia Militar foi abatido. “Oh, quão desumano é o convívio com os humanos...”
***
Adalberto Lima, "Estrela que o vento soprou."