1024-FUGINDO DO INFERNO -
Capitulo 11 da saga “O Desaparecimento do Coronel Fawcett
Madrugada na aldeia dos Kala-Paios, índios antropófagos. A fogueira do centro da praça, que não se apaga nunca, estava quase extinta. Uma sentinela estava postada na abertura da oca dos prisioneiros, tapada por uma esteira pesada. Estava agachado, aparentemente dormindo, mas atento a qualquer ruído ou movimento estranho.
Na taba cessaram os movimentos. Após a bacanal canibalesca, satisfeitos e bêbados, alguns índios dormiam ao relento. Não se via movimento algum, não se ouvia nada além dos sons da floresta. Antes que a fogueira fosse alimentada por mais galhos e folhas secas, sorrateira e silenciosamente, uma figura se aproximou nas sombras, por trás da sentinela, agachado como uma onça. Deu um salto, alcançou a boca do índio com a mão esquerda e cortou o pescoço de onde brotou uma mina de sangue. O guarda ainda resistiu por instantes. A força do atacante foi acompanhando os estertores do índio ao sucumbir e cair ao chão. Como a “porta” era tapada por uma esteira pesada, os que estavam dentro da cabana não viram o que se passou a menos de um metro.
Súbito a esteira da porta foi jogada para um lado e surgiu uma figura nas sombras. Os prisioneiros que não haviam conseguido dormir se assustam. A figura cochichou alguma coisa com os índios e se pôs freneticamente a cortar as tiras, liberando mãos e pernas.
— Xan Kiorá nosso irmão livra todos nós. — cochichou um índio para Fawcett e Raleigh. — Vamos sair. Vigia morto.
Os dois brancos e os quatro Kui-Kuros saíram de rastros pela abertura traseira, acompanhando o salvador. Arrastaram-se silenciosamente nas sombras até chegarem à beira da mata. Novamente os Xan-Kiorá cochichou aos seus irmãos de tribo, algo que Fawcett compreende. Então, passou o aviso para Raleigh.
— Está dizendo que vamos correr daqui prá frente até abeira do rio.
E assim fizeram. Xan Kiorá e os índios Kiu-kuros corriam rapidamente e de tempos em tempos tinham que esperar os dois brancos, mais lentos pela a dificuldade do caminhar a selva.
Nem sabem o quanto correram. Exaustos chegaram á margem de um rio, onde diversas pirogas estavam amarradas ás árvores das margens.
— Igara – Piroga – fala o índio Kiu-Kuro, enquanto Xan-Kiorá fez um gesto para pararem ali, ainda sob as sombras das árvores. Observou atentamente um lado e outro, a ver se havia sinais dos Kala-Paios.
De repente, saltou para frente acenando aos outros para o seguirem.
Correram para o local das amarras das pirogas. Xan-Kiorá mostrou a maior delas, onde todos os fugitivos se aboletaram, enquanto Xan Kiorá cortava as tiras das outras pirogas, deixando-as livres para descerem a correnteza do rio.
Pulou para a piroga maior, onde os fugitivos o esperavam. Já tinham desamarrado também a piroga em que estavam. Pegou o remo e fez com que a pequena barca avançasse para o meio do rio, onde a correnteza forte os levava para longe dalí.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 13 de julho de 2017.
Conto # 1024 da Série MILISTÓRIAS PLUS