UMA VIAGEM DE TREM
Era muito cedo, não, não era cedo, diria que muito tarde. O jipe Willys do seu João já buzinava na frente da nossa casa, mamãe já tinha embalado tudo. -- seu João, bom dia, tenha cuidado com essa caixa grande, tem coisas que podem quebrar. -- pode deixar, Dona Terezinha, vou ter cuidado. Depois de todos acomodados, seu João e mamãe na frente, eu no colo dela e meus irmãos, temão e Calu, iam na parte de trás, sempre brigando. Ainda era noite, o sol não aparecia, eu ainda tava meio que atordoado, a viagem até à estação era longa, o trem saía as 4 da manhã em ponto, mamãe olhou no relógio, 3:00 horas, dava tempo. Mamãe levava para a viagem duas galinhas deliciosamente cozidas e misturado com farofa, dentro de uma lata de leite ninho das grandes, agua, bolachas da padaria e papel higiênico, pois Temão, meu irmão, vivia se cagando o tempo todo, tinha problemas de estômago, pensava eu. Chegamos na estação ás 3:30 h, fomos direto para o nosso vagão, era logo no meio do trem. Nosso lugar era no fim do vagão, já perto da porta, visinho ao banheiro, por causa do meu irmão. Era um banco de tiras de madeira que cabia 2 pessoas, dois bancos, um de frente para o outro, mamãe e eu de um lado, e as pestinhas do outro, aliás já estavam brigando para quem ia na janela, mamãe já deu uma lapada em alguém e a confusão parou. 4:00 horas em ponto tocava um sino, depois vinha o apito do trem, depois tinha uma pancada seca lá na frente, essa pancada vinha se alastrando pelo trem, passava pelo nosso vagão e chegava no último, aí o trem começava à andar. Passava no cemitério, Temão já me fazia medo, mamãe falava que era besteira e a viagem continuava. Temão já queria ir no banheiro, mamãe puxava sua orelha e dizia -- te aqueta aí, só pode ir quando sair da cidade, agora o banheiro ainda tá fechado. Passamos na vila são José, mamãe mostrava onde morava tia Margarida, e a viagem continuava. Quando já ia amanhecendo vinha a primeira estação, Guaiúba, ela já tava lotada de vendedores, que ficavam gritando. -- café, café, tapioca, banana, banana, laranja, siriguela, pitomba, rapadura, cocada, alfenim e água. Era um mundo fantástico, um verdadeiro mundo de fantasia, minha mente viajava literalmente, nunca mais vou ter uma viagem daquelas. Tempos muito bom.