Acordando duas vezes
- Acorde Jean... Vamos imprestável. Acorde e vá recolher lenha!
- Ah mãe, nem clareou o dia ainda, me deixa dormir!
- Perdão sua majestade, não queria interromper o seu sono real... PLAM... Um tapão na orelha arranca Jean das palhas onde dormia.
Acordar desse jeito era mágico, parecia que fazia horas que estava desperto. O mais rápido que pode saiu porta afora mesmo no escuro, antes de receber o segundo tapão ou ainda uma gamela na cabeça.
Era escuro e úmido e frio e medonho... Mas encarar sua mãe de mãos vazias seria pior.
Os galhos secos eram quase impossíveis de localizar, teriam que ser os menos molhados. Lembrou que deixara um amontoado ali perto... Sempre deixava alguns escondidos para lhe facilitar a vida. Mas percebera que o amontoado estava num canto muito escuro... Eram poucas aves que piavam ou cantavam ali e aqui. Sapos e grilos ainda se faziam presentes. Mas a cada passo que avançava, parecia que o silêncio aumentava. Aquilo não era bom sinal. Uma neblina se levantara naquele canto da floresta. Todos os sinais eram péssimos. Floresta escura, úmida, silenciosa ... A cada passo sumiam os sons restando apenas sua respiração ofegante, suas roupas e seus movimentos. Notou a marcação do amontoado. Estava bem perto, mas guardando aquilo que se havia se tornado um ninho, uma matilha de lobos se pôs em alerta sem dar tempo a Jean em pensar em nada além de correr para o rio... Esperava que desse tempo... Corria literalmente para salvar a sua vida, os lobos voltando da vigília noturna estavam prestes a se recolher para descansar, e essa foi a sorte de Jean. Apenas um filhote crescido conseguiu alcançá-lo antes de pular no rio, cravando seus dentes finos na canela fina de Jean, pouco antes de se lançar ao rio.
- ACORDE INFIEL! - Um balde de água fria desperta Jean na prisão. Lembrou que seria mais fácil escapar dos lobos de sua infância... Iriam começar mais uma sessão de torturas...