Os ladrões de Galinha

Em outros tempos, não muito distante destes que vivemos hoje, a molecada gostava de ficar fazendo bagunça durante a noite. Em Igarapé-Grande, vila com cerca de 200 famílias, ocorreu o fato que contarei.

Nesses lugares, saber conviver em harmonia é de extrema relevância, pois todos se conhecem e falam da vida de todos. Em tempos de semana santa, escolhem a pessoa mais ranzinza para receber o espantalho de Judas — o traidor de Jesus. Geralmente colocavam o espantalho pela madrugada na porta da casa da pessoa. Pela manhã, ao abrir a porta a pessoa era surpreendida levando o maior susto.

Eram sempre os mesmos bagunceiros que aprontavam, e como era pela madrugada e as pessoas se recolhiam cedo, pouco sabiam quem eram tais. Outra coisa que faziam era roubar galinha. Os autênticos ladrões de galinha. Raposas da madrugada. Mas essas coisas eram de vez em quando que aconteciam, e era uma galinha no máximo que roubavam. Geralmente se reuniam as margens do igarapé para saborear o fruto do roubo. Não se via maldade, era mais para diversão e adrenalina.

Só que as coisas começaram a fugir do controle, seu Jucelino estava prestes a dar queixa na polícia, pois já não aguentava mais ver suas galinhas e patos sumindo a cada noite. Raposa não era, pois já rondara por tudo e nem sinal de tal animal. Só poderia ser mesmo a molecada da madrugada.

— Janilson, alguém terá que ficar uma noite de butuca para descobrir o porque nossas galinhas estão sumindo.

— Mas pai, não precisa, depois pára de sumir, sempre foi assim...

—Dessa vez tá demais.

Outros moradores também estavam dando falta de suas criações. Dois dias se passaram depois da conversa entre Jucelino e seu filho Janilson.

— Não adianta, temos que meter bala nesses filhos da peste — Falou com ódio nos lábios Jucelino para seu compadre Batista.

— O senhor tem razão. Hoje a noite nós dois vamos ficar de butuca.

— Vamos sim, compadre Batista. E digo mais, quando pegarmos, vamos amarrá-los e dar uma surra para ficar a marca e nem conseguirem botar a camisa, e assim andarão mostrando a marca da vergonha. Esses moços aí, em vez de ficar até tarde fazendo coisa que não presta, poderiam estar em casa dormindo. Que nem meu filho Janilson, um exemplo de pessoa trabalhador, dorme cedo para estar pronto para a roça no dia seguinte, não faz e nem gosta de nada do que é errado.

— Até a noite, compadre Jucelino!

—Até compadre, prepare a espingarda.

Chegada a noite, ambos falaram para as suas famílias que iriam caçar lá pelo capoeirão e que só voltariam no dia seguinte. Igarapé-grande não tinha luz elétrica, quando chegava as 6 horas da tarde tuda começava a escurecer. Os dois compadres ficaram escondidos perto da vila, encima de uma mangueira. Por volta das 10 horas da noite a vila já estava toda em silêncio. Ao longe se ouvia gargalhadas e vozes.

— Está ouvindo compadre — Falou Batista — é a molecada.

— Vamos nos aproximar e ficar escondido para ver o movimento deles.

Aproximaram-se e se esconderam atrás de uma escola. Não dava para conhecer a voz de ninguém. Mas percebia-se que estavam tirando na porrinha.

— Vocês dois perderam, vão. Nós iremos para o acampamento preparar o fogo e a cachaça.

— Estar ouvindo — disse sussurrando Jucelino — Estão planejando o roubo.

— É. O senhor segue o grupo que eu sigo os dois.

— Não. Eu sigo os dois e o senhor segue o grupo. Hoje esses ladrõezinhos me pagam.

— Ok!

Os dois jovens se dirigiram para o quintal de Jucelino. Ele tentava reconhecer, mas na escuridão era impossível. Nem vulto conseguia ver. Deu um jeito e chegou a frente dos dois, pondo-se dentro do galinheiro. Um dos jovens entrou. O outro ficou do lado de fora. O que entrou, pegou a galinha mais gorda. Parece que já sabia qual era, pois não teve dificuldade na escuridão. O cachorro começou a latir. O ladrão saiu desesperado do galinheiro. Jucelino na encalço:

— Eu te pego seu desgraçado — Gritou. O jovem começou a correr. Jucelino deu um tiro em direção ao jovem. O que ficou do lado de fora do galinheiro, desapareceu na escuridão.

Depois de cinco minutos de perseguição, o jovem cansado e com medo de levar um tiro, caiu no chão com a galinha debaixo do braço. Jucelino mirou a espingarda bem na cara dele e ligou a lanterna que trazia consigo.

— Janilson! — gritou incrédulo.

— Pai!

No dia seguinte os compadres conversavam:

— Pena que deu tudo errado, né!

— É verdade, não conseguimos pegar. Bobagem nossa culpar os jovens. Estavam somente planejando uma pescaria de tarrafa. -- Concluiu Jucelino dando uma piscadela para Janilson que passava atrás do compadre Batista.