PARATY A MANGALARGA

Sonho de muitos dos nossos, dobrar a serra do mar a cavalo, sonhado e realizado.

Como já é tradição deste grupo começamos na Catedral de Aparecida, madrugamos, missa às 7:00 horas. Desta vez o padre não foi tão brilhante como das outras, não me lembro da prédica.

Abençoados, ficamos esperando os cavalos que atrasaram, mas aproveitamos para conhecer uma figura folclórica da região desta cavalgada, Seu Marcos e seu burro, os dois muito tranquilos, o animal refletindo a serenidade do dono. Quinze cavaleiros e 19 cavalgaduras, um desapaixonado diria que eram 34 cavalgaduras, (rs), mais 3 amigos no apoio.

Saindo do pátio da basílica em direção a Lagoinha logo uma parada, tem cavaleiro que faz a cavalgada só por causa das paradas. Vou fugir das nominações para não cometer injustiças.

Esta primeira perna foi a mais longa, 42 km, estrada de terra com subidas e descidas não tão brabas, mas cansativas. Tropa e cavaleiros ainda não “acostumbrados”, na parte da tarde mais para noitinha a pergunta e resposta que nos seguiria por toda a cavalgada:

- Falta quanto?

- 10 km.

Entre nós, descendentes do Barão de Alfenas, conhecido por ter iniciado a seleção de equinos que deu a origem à raça Mangalarga. Na tropa, com certeza, muito sangue daqueles pais da raça.

Chegamos à pousada de Lagoinha ao anoitecer, nos últimos quilômetros a prosa diminuía muito, os cavalos não queriam mais paradas, só queriam terminar aquela jornada puxada.

No dia seguinte, após uma noite reparadora, uma noticia triste, um cavalo está passando mal, deitado não se levanta, depois de muito soro aplicado se levanta cambaleando, o veterinário é chamado, mas demora muito, e o cavalo sofrendo demais, só restou a possibilidade de sacrifício do animal. Vejo muito sentimento nos donos do animal, é como se alguém querido tivesse partido, tal a sintonia entre cavalos e cavaleiros.

Com algum atraso seguimos para Cunha, seu Marcos e seu burro seguem nos orientando, com poucas palavras do cavaleiro, o burro sempre muito discreto no meio dos Mangalargas. A prosa regada com muita cachaça e alimentada pelo melhor quitute para mineiros, queijos de Cruzília e de Itajubá.

Uma novidade nesta cavalgada, de vez em quando, um drone levantava voo para nos filmar, parecia que um enxame de abelhas estava nos atacando. Interessante que a tropa não se assustava.

A marcha era entremeada por “passo a passo” e marcha picada. Nas paradas além da cachaça que era continua, havia as cervejas de marcas variadas, mas sempre bem gelada e muito bem vinda a todos.

Sentimos a ausência dos companheiros mais falantes, Cainho, Manolo, Gil e Roberto Leite, o colega Narciso se esforçou para substituí los. Quando queria ouvir o canto dos pássaros me distanciava dele, assim consegui ouvir por duas vezes o magistral canto da Araponga.

Tivemos sorte com o clima, não muito frio e sem chuva o tempo todo. A moçada mais nova nos divertia com os causos de sucessos e infortúnios amorosos. Trazendo-nos a memoria acontecidos semelhantes por que passamos. Saudosa memoria.

Alguém nos informou que o município de Cunha é o maior do Estado de São Paulo, de fato ficamos em duas pousadas em terras da cidade, a segunda era a Pousada do Antigo Caminho de Ouro, muito boas instalações e comida, mas o que a destacou foi a hospedeira, lembra-se de uma mulher grande? Esta era maior.

Neste dia andei em uma Ferrari. Emirson me empresta por um dia o Satiro, cavalo sacudido e cômodo, depois me desafia, “o cavalo é seu se você sozinho colocar o freio nele”. Sonho com isto. No dia seguinte consigo um punhado de açúcar mascavo que misturo com granola e penso “a Ferrari é minha”. Chamo o Emirson, vamos lá colocar o freio, posiciono o freio e ofereço o açúcar, Satiro abre a boca para comer o quitute, penso “está no papo”, puxo o freio para cima e ele fecha a boca incontinenti. Depois da várias tentativas desisto.

A tropa continua firme, mas desconhece o que a espera, último dia da cavalgada. Vamos descer a serra pelo antigo caminho do ouro, mas antes de descer vamos subir um pouco, como diz o seu Marcos “vamos ataiá”, uma subida pequena, mas bruta. Nem tão pequena, mas bruta, e bota brutalidade nisso. Antes de pegar a trilha de subida, uma recomendação, puxem os arreios pra frente e apertem as barrigueiras, pois depois não será possível fazer isto. Seu Marcos e seu burro seguem em frente nos exemplando, e nos atrás, rezando. Os cavalos de apoio decidem voltar, a coisa está feia, mas não vão longe, ficam embaraçados nos cipós. Meu pai dizia que “mineiro sem canivete não é mineiro”, coisa das antigas, sorte que tínhamos colegas antigos com a gente, munidos de canivetes libertam os animais, que são compungidos a escalar a montanha. Chegamos ao topo, ai pensei “para baixo todo santo ajuda”, não foi bem assim, demos muito trabalho para os nossos anjos da guarda.

A antiga estrada do ouro era calçada com pedras, estilo “pé-de-moleque” com muito musgo em cima, pensem num lugar liso, aqui era mais. A previdência do presidente foi vital neste momento, toda a tropa estava ferrada com ferraduras com rampão, para os leigos, é uma dobra ressaltada da ferradura para evitar escorregões do animal. Se não fosse a tropa de raça e muito saudável a coisa não terminaria bem.

- Quantos quilômetros faltam?

- 10 km.

Paraty está logo ali, para mim, um misto de alegria e tristeza.

Pensei que fossemos fazer muito sucesso, afinal 15 cavaleiros bem montados e paramentados em Paraty – RJ, mas não foi assim, parece que a cidade está acostumada com cavaleiros. Senti certo desconforto dos ciclistas com a nossa invasão às ciclovias. Atravessamos o centro e paramos para fotografia na igreja e no mercado de escravos, históricos. Depois fomos à praia, os cavalos loucos por água, tivemos que deixa lós descobrir que aquelas não são apropriadas para saciar a sede.

Na praia simulamos uma pequena corrida para fotografias, a tropa não aquentaria muito mais do que isso.

Por ser uma cavalgada histórica vou nominar os cavaleiros e na medida do possível caracterizar suas montarias, depois vocês complementam.

Presidente – Dr. Flavio e o cavalo Luar – Agora presidente Emérito.

Diretoria:

Alexandre

Emirson, e a Ferrari Satiro

Professor Edval, e seu cavalo Dado, que não se olha os dentes.

Coronel Ronaldo, e o Poney

Eduardo,

Julinho, em cavalo viadeiro, emprestado ( pode?)

Narciso, em sua bonita égua pampa Aquarela.

Paulinho,

Marquinhos, um cavalo diferente em cada cavalgada, sempre querendo vender para mim. Mal sabe que não tenho palmos de terra, se não fosse a gentileza do Narciso para a minha meia égua.

Marcos Pamplona, e seu imponente castanho, e seu Drone.

Dr. Rafael, perdeu seu cavalo Bruto na viagem. Nossos sentimentos.

Oliver, e seu bonito baio,

Dermeval, na monumental Jade do Narciso.

Seu Marcos e o burro muito discreto.

Pessoal de apoio: O insubstituível João, leão marinho, Flavinho sempre disposto a substituir alguém, e o escudeiro de Julinho o Ticaí.

Sei que nos acompanhou por toda esta viagem em pensamento e orações: Cainho, Gil, Manolo, João da Gráfica, Roberto Leite e o inesquecível Senador.

Todos Cavaleiros da Soledade.

Defranco
Enviado por Defranco em 23/08/2017
Reeditado em 29/08/2017
Código do texto: T6092431
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