1017-A EMBOSCADA -
O Desaparecimento do Cel Fawcett – 5º. Capítulo
Xan Kiorá era curioso mas nunca desatento. Subiu mais arvore acima, pois onde estava, o seu cheiro seria sentido pelos índios. Ou poderia ser visto pelos olhos atilados, acostumados a pesquisar a mata com cuidado.
Embaixo, o caminho era desprovido de mato, local de pasto para veados. Os brancos movimentavam-se lentamente na clareira.
A tarde ia a meio, talvez umas três horas. Muitas horas haviam se passado desde a última parada. A caminhada era árdua, tinham de usar facões para irem abrindo uma picada por onde passar.
Fawcett parou bem no centro da clareira, passou a mão pela testa enxugando o suor, e disse aos companheiros:
— Vamos descansar um pouco. — E deixou cair no chão o grande saco que carregava.
Jack e Raleigh fizeram o mesmo.
Sem que eles percebessem, um grupo de índios armava silenciosamente uma emboscada, fazendo um grande circulo ao redor da clareira, escondidos pela mata, armados de flechas e lanças,.
De repente, Irromperam de todos os lados gritando, lanças em riste, fechando os exploradores numa roda selvagem e ameaçadora.
Fawcett, ainda de pé, sacou de seu revolver e atirou, derrubando um índio, quase ao mesmo tempo sendo atingido por violenta pancada com lança, na cabeça, que o deixou atordoado.
Jack também usou sua arma e atirou. Pegou outro índio. Raleigh havia se sentado e estava ainda com a lança que lhe servia de bengala para caminhar. Manejou-a com rapidez, atingindo um feroz índio que lhe vinha diretamente pela frente, mas outro índio deu-lhe uma pancada de tacape na cabeça.
Os brancos, apesar da coragem e das armas de fogo, estavam em grande desvantagem numérica, e foram logo dominados pelos vinte ou mais atacantes. Fawcet e Jack caíram sob as pancadas das lanças, que os atingiam nas cabeças e nos ombros. Raleigh gemia de dores., também abatido a refrega.
Feridos, Fawcett, Jack e Raleigh foram dominados. O sangue das feridas escorriam pelos rostos e as roupas mostravam as manchas de onde haviam sido feridos. As mãos foram amarradas com fortes embiras. E pelas cinturas foram amarrados uns aos outros, de tal forma que podiam caminhar todavia sem chances de fugir.
Os índios gritavam e quando trocavam palavras, era numa linguagem ininteligível ao três exploradores. Eles não estavam a fim de matar os brancos. Queriam fazer prisioneiros. Já conheciam o homem branco e sabiam como tratá-los: primeiro, dominar, depois conversar.
.O que parecia ser o chefe, apossou-se das armas que os homens brancos traziam à cintura, dos facões e facas de caça. Sabia para que serviam.
Abriram os sacos e embornais dos exploradores. Cheiravam tudo e não gostaram do odor da farinha de milho nem da carne seca, que lançaram longe, no meio do mato. Os panos, lonas e telas usados pelo exploradores para se abrigarem quando acampados, foram rasgados,e divididos entre eles.
Ainda que sofrendo dores, Fawcett sentiu-se aliviado por eles não terem se apossado do mapa que mantinha sempre dobrado e dentro de uma sacola chata, mais parecendo um envelope de couro, com papeis e alguns lápis, amarrada em torno de seu peito e sob a camisa e o gibão.
Depois do saque, puseram-se a caminho. Fizeram com que os três ficassem no centro do grupo dos índios. O Chefe ia à frente, e na retaguarda, outros carregavam os três corpos dos guerreiros mortos na refrega.
Foram algumas horas de caminhada. Os brancos, resignados,. conversavam entre si em monossílabos, pois a cada vez que falavam mais alto, as pontas da lanças por vezes encostavam-se nos corpos suados de Fawcett, de Jack ou de Raleigh, provocando gemidos e imprecações. Raleigh caminhava com dificuldade, a perna lhe doendo cada vez mais.
Anoiteceu. A noite trouxe sons de animais que vagavam pela mata. Perderam a conta de quanto caminharam. Assim foram levados para o mais profundo da floresta, daquele verdadeiro inferno verde.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 17 de junho de 2017 .
Conto # 1017 da Série MILISTÓRIAS PLUS