FOGO DA DONZELA
Joaninha era a coisa mais linda da região do maciço de Baturité, morena, olhos verdes, torneada, bunda nas medidas e beata. Era da igreja para o sítio do pai. Até o dia de acabar com a esperança da legião de homens pé de serra, casou-se com um jovem praiano, de nome Cícero. Foi paixão à primeira vista e ninguém pode fazer nada, somente lamentar. O casamento já tinha três meses, e não se sabe o motivo (comenta-se lá que era o fogo da moça ), o sortudo amunfiou, foi minguando e morreu no quarto mês. A esperança voltou a circular nas hastes serranas, logo afastada pela moça que dizia para quem quisessem ouvir
--não caso, não quero, nem vou ser de mais ninguém, nem que a vaca tussa!
Não foi por falta de conselhos contrários, ela continuava fiel ao defunto. Sua própria mãe falava
-- Joana, filha, larga essa besteira e sai desse luto, o tempo vai fazer você esquecer de tudo isso.
-- vai não mãe, num vai mesmo!
Pra reforçar suas crenças, mandou fabricar por um artesão local uma estátua de madeira em tamanho real e colocou no seu quarto, não conformada com isso, pediu ao vigário para benze-la. Coisa que deixou o vigário com muita raiva, falou assim
--Joana,filha, não vou cometer tal sacrilégio, o Bispo iria me descomugar, isso já alisando a beata.
Joaninha foi morar só, levou a estátua de Cícero e colocou no quarto, contratou um empregada e prosseguiu com a vida, sempre limpando e cuidando do finado. Assim o tempo foi passando. Um dia, a empregada notou a falta de zelo com a estátua, ela não limpava mais e o Cícero já estava coberto de poeira. Um belo dia chega um moço na casa da Joana, essa toda faceira mandou ele entrar e falou para a empregada.
--faz um cafezinho pro Ricardo
A empregada entro, depois voltou e sorrateiramente chamou a patroa e disse
--patroa,o que faço agora, acabou a lenha.
Joaninha pensou, pensou e falou.
Toca fogo no Cícero.