ANTES DA BATALHA
Antes dos MUNDOS PARALELOS ® entrarem em colisão...
Depois de EM ALGUM LUGAR DA SIBÉRIA (já publicado)
Ano 1973.
(***)
...Depois, os novos aprenderam técnicas de combate em campo aberto, já que deveriam combater em desertos de areia.
Toda inovação aprendida deveria ser adaptada ao deserto.
Nos intervalos era possível para Bernardette e Sarrazin ter seus encontros furtivamente; ao pôr do sol, quando as sombras sobre o Mar do Japão se alongavam.
Um dia, a meados de junho, Sarrazin fez aquela pergunta que fazia tempo queria fazer:
–Como você veio parar nesta vida?
Bernardette pensou um pouco antes de responder. Seus olhos claros perderam-se no mar distante. Por fim disse:
–Talvez algum dia... Contar-lhe-ei.
*******.
Antes da Batalha.
No dia 15 de julho partiram por via aérea de regresso a Moscou, enquanto o material seguia por trem. O grupo aumentara, já que o coronel Lubakov uniu-se como observador. Seria dividido em dois com diferentes funções.
Pela hierarquia, o coronel Schneider comandava os dois grupos, sendo que o primeiro deles era comandado pelo imediato de Schneider, o capitão Wiessel, e o segundo, de palestinos seria comandado por Gamal El Zaki com Abdullah como seu imediato e Yussuf Bakri em terceiro.
Este grupo organizaria os palestinos que esperavam por eles em Cairo.
Logo depois de Wiessel a hierarquia continuava com Grigorenko, Sarrazin e Argot; Sotto, Bixby, Quayle, Harris e as mulheres.
Os pilotos russos Karenin, Diakonov e Salin, ainda esperavam em Madagascar, numas férias prolongadas, já que sua função seria de apoio. Não era o caso de Bixby, que era versátil em diversas funções, não apenas como simples piloto de helicópteros.
Em 5 de agosto, depois de descansar em Moscou, embarcaram por trem para Leningrado, onde os palestinos embarcaram pela Aeroflot para Varsóvia e o resto pela SAS para Estocolmo, de onde foram para Londres pela British Caledonian, e de Londres, pela Air France para Roma.
Em Roma, Schneider e o grupo principal partiram para Atenas pela Olympic Airways, mas Sarrazin e Bernardette embarcaram pela Alitalia para Rio de Janeiro.
De Atenas o grupo seguiria pela Olympic Airways para Ancara, na Turquia, e daí para Amán, na Jordânia, onde ficariam concentrados até o dia D.
Entretanto, no Rio de Janeiro, Sarrazin e Bernardette alugaram um carro e foram para uma pequena casa de campo rodeada de montanhas entre as localidades de Teresópolis e Nova Friburgo, onde pretendiam descansar, para aclimatar-se ao calor.
A “pequena casa de campo” com gramado impecável e uma piscina maravilhosa, era um haras; onde Bernardette criava cavalos com ajuda de um diligente casal de empregados.
Ele, Toninho, mineiro de Santana do Deserto, ela, Maria Aparecida, nativa da região. O casal tinha uma filha ainda bebê, de um ano.
–A casa e o sítio são meus – disse a francesinha – é uma das belas coisas que comprei com os lucros da minha... da nossa profissão.
Sarrazin adorou a piscina. Depois da Sibéria ele achou que era o paraíso. Nas semanas seguintes, os jovens se amaram e amaram a vida.
Mas em nenhum momento passou-lhes pela cabeça a idéia de ficar aí para sempre. Faltava ação na vida deles.
–Algum dia, quando me aposentar e cansar de Paris; virei aqui para dedicar-me exclusivamente à criação de cavalos. Isso se ninguém me matar antes.
–E quando cansarás de Paris, se ninguém te matar antes?
–Quando tiver bastante dinheiro e não precisar mais matar os outros para sustentar meus empregados e meu estilo de vida.
–Não há ninguém esperando por você em Paris?
–Meu pai, um empresário que não sabe o que faço. E minha mãe. Ela ainda pensa que sou consultora de moda e por isso viajo tanto.
–Claro.
–E você? Tem alguém em Montevidéu lhe esperando?
–Minha mãe, que pensa que estou fazendo pós-graduação em Paris.
–Deve ter mais alguém – insistiu ela risonha.
–Tinha, sim. Mas deve ter cansado de esperar.
–Isso não é bom.
–Não ligo mais.
–Quando pretendes parar?
–Não sei.
–Isso também não é bom.
*******.
No pequeno sítio da serra, Sarrazin tomou conhecimento de alguns dos mais destacados serviços que ela tinha realizado na Líbia, Kenya, Uganda e Rhodesia, e pelas datas ele pode saber que foi na mesma época em que ele esteve por lá.
Ele então soube que ela era A Assassina, a mortífera mão silenciosa que limpava o caminho antes da passagem dos mercenários quando era necessário.
Grandes figurões morriam misteriosamente por todo o mundo, em acidentes de carro, afogados em piscinas, caindo de edifícios, engasgados com comida, e quando não restava outra opção, com balas explosivas na cabeça, ou degolados com silenciosas facas.
–Quando comecei, foi de longe, com mira telescópica. Depois que adquiri mais experiência, pistolas com silenciador. Até que achei que podia usar facas, o que requer chegar perto do alvo. Isso é muito perigoso. Finalmente, no estágio final; aprendi a matar com as mãos. Não todos os alvos são tão fáceis.
–Teve um mestre, presumo?
–Sim. Ele era o melhor da Inglaterra. Eu era apaixonada por ele.
–Interessante.
–Com ciúmes? Era mais velho do que eu e me tratava como filha.
–O que foi dele?
–Na França tentou matar o presidente e um policial o crivou de balas.
–Fascinante. Como o conheceu?
–Em Londres. Ele estava indo para o Cairo para matar dois indivíduos e eu presenciei quando matava um funcionário do aeroporto. Tentou me matar, mas não conseguiu. Eu fugi e ameacei com delatá-lo se não me ensinasse sua profissão.
–Muito perigoso.
–Sim. Ele deve ter gostado do meu jeito. Eu tinha quinze anos e estava de férias.
–Muito perigoso, repito.
–Eu o esperei no seu apartamento quando voltou do Egito. Ficou admirado por tê-lo identificado. Ameacei-o com uma pistola. Ele riu. Eu disse que não me interessava delatá-lo, que meu pai era rico e eu não faria chantagem com ele por dinheiro; o que eu queria mesmo era aprender a profissão. Ele pensou um pouco e concordou.
–Brincou com fogo, ma cheri.
–Hoje sei disso. Chego a me arrepiar só de lembrar.
–Ele deve ter gostado de você. Coisa rara na profissão. Teve muita sorte.
–Ainda tenho. Só por isso estou viva.
Sarrazin e Bernardette fizeram planos pela manhã, para desfazê-los pela tarde. Tudo era hipótese. Ainda precisavam fazer aquele trabalho perigoso, o qual seria o primeiro trabalho de campo para Bernardette, que sempre tinha trabalhado nas sombras.
Por esse trabalho especial no Oriente Médio, receberiam farta recompensa por adiantado, que poderiam desfrutar se não morrerem.
Em 10 de setembro embarcaram pela Varig para Dakar, onde encontrariam o camarada Bixby, com o qual prosseguiriam por mar para Trípoli.
Em Trípoli tiveram que esperar uma semana antes de seguir para o Cairo, onde o resto do pessoal esperava impaciente por ação.
O dia estava chegando.
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PRÓXIMO: A DERROTA (já publicado)
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O conto ANTES DA BATALHA - forma parte integrante do romance inédito HISTÓRIA DE MARTIN ® – Volume II, Capítulo 17; págs. 51 a 53.