O Corvo Relâmpago e os Reféns

A polícia rondava o local. Dentro, estavam dois suspeitos mascarados e armados com um refém. O caso já estava nos jornais e sendo filmado ao vivo, e parecia que iria levar um tempo para que as negociações chegassem a algum lugar. A cerca de 40 metros dali, um homem de aparência jovem e coberto de roupas pretas olhava a cena através de um binóculos. Decidiu que já estava na hora de agir. Pegou sua máscara, com formato de cabeça de pássaro, e a colocou no rosto. Nesse momento havia se tornado o Corvo Relâmpago.

Depois de observar a cena por mais 30 segundos, o Corvo desapareceu, como um vulto. Em seguida, surgiu dentro do local em questão, logo ao lado do refém. Os criminosos estavam olhando para o lado de fora e não notaram nada. Rapidamente, colocou sua capa em volta do refém, o segurou com ambas as mãos, e ambos desapareceram. Retornaram quase que instantaneamente para o mesmo local onde o Corvo estava anteriormente.

O refém estava extremamente confuso. Se debatendo e olhando para os lados, com uma mistura de medo e surpresa. Estava prestes a gritar, quando o Corvo fechou a sua boca com a mão.

- Shhhh... – O Corvo sussurrava, enquanto usava uma faca para cortar as cordas em que a vítima estava amarrada. – Está vendo a polícia ali? Ande até eles devagar e sem gritar, ok?

A vítima balançou a cabeça de cima para baixo. O Corvo o soltou.

- AHHHHHH!!! – A vítima correu gritando para a polícia.

Vários olharam para onde estavam, e o Corvo usou sua capa para se esconder, e depois desapareceu. Aparecendo novamente a uma certa distância dali, longe dos olhares. Suspirou de alívio. Por fim parece que tinha sido um trabalho simples, apesar de tudo. Agora que o refém estava a salvo, a polícia poderia lidar com os criminosos sem mais problemas. Tentou pegar o fôlego. Tinha usado seus poderes mais do que planejado, e agora estava começando a ficar cansado. Mas por sorte parece que não iria mais precisar usá-los por essa noite.

Começou a se arrepender do fato de não ter treinado como usá-los direito. Era capaz de desaparecer e reaparecer em outro lugar, ou de se teleportar, desde criança, e isso era algo quase natural para ele. Mas quando aprendeu que não poderia simplesmente fazer isso na frente dos outros sem causar confusão, acabou deixando de usá-los pela maior parte de sua vida. E agora que achara uma forma ideal de usá-los, estava enferrujado. Atualmente, poderia teleportar-se uma média de até 5 vezes por dia antes de desmaiar, mas depois de usá-lo apenas 3 vezes já estava começando a passar mal. Se tivesse pelo menos treinado o seu corpo, não estaria tão ruim, mas havia negligenciado totalmente atividades físicas nos últimos anos.

Tirou sua máscara, respirou bem fundo, e relaxou seu corpo. Antes que voltasse para casa, decidiu dar mais uma olhada na cena através de seu binóculos. Mas para sua surpresa, não havia mudado muito. A polícia ainda estava de fora do local, discutindo com os criminosos. Se perguntou se eles não haviam percebido que não havia mais reféns, entretanto, depois que olhou direito para o local novamente, viu que ainda tinha outros reféns lá dentro. Aparentemente, o primeiro refém era alguém importante, então eles o usaram como refém principal, mas havia outros lá que o Corvo não tinha visto.

Ficou decepcionado consigo mesmo, por ter entrado sem olhar a situação como deveria. Não havia resolvido nada, e agora os criminosos devem estar em maior alerta. A essa altura, talvez fosse melhor deixar tudo para a polícia. Entretanto, não iria deixar de terminar algo que tivesse começado, enquanto ainda era capaz.

Se aproximou a uma distância razoável novamente, e se preparou. Observando com o binóculos, decidiu que iria se teletransportar, pegar um dos reféns, se mover rapidamente para pegar o outro e se teleportar de volta. Deveria ser possível fazê-lo sem chamar a atenção dos criminosos e apenas se teleportando duas vezes, sem correr muitos riscos. Colocou sua máscara novamente, respirou bem fundo, e desapareceu.

Logo estava ao lado de um dos reféns. O segurou pelas cordas que o prendiam, mas quando começou a se mover para o outro refém rapidamente, viu uma arma apontada em sua direção. O Corvo congelou. Parece que um dos criminosos estava constantemente de vigia nos reféns. Não era a primeira vez que tinha se envolvido contra criminosos, mas era a primeira vez que tinha uma arma apontada para ele.

- Não se mexe, seu merda! – O criminoso falou para o Corvo enquanto mirava em sua direção.

Mesmo que não tivesse dito isso, o Corvo não se sentia capaz de se mexer. Sentiu um desejo de abandonar a missão. Naquele momento, descobriu que não estava disposto a arriscar a vida por estranhos. Quando o criminoso se mexesse, o Corvo fugiria dali. E ainda teria salvado metade dos reféns, o que é uma vitória não importava como visse. Entretanto, a situação estava estática.

O criminoso continuava com a arma apontada para o Corvo, que suava sem conseguir se mexer. Também não sabia se seus poderes o fariam se mover mais rápido que uma bala. Enquanto esperava, percebeu que o outro refém olhava para ele, com um rosto cheio de lágrimas. Tinha sua boca amordaçada, mas era fácil entender o pedido de socorro vindo dos seus olhos. O Corvo já não sabia mais o que deveria fazer. E antes mesmo que pudesse se decidir...

- Tem alguém mais aí dentro!? – Um policial gritou.

O Corvo percebeu que deveria sair de lá naquele instante ou encontraria confusão. Quando estava prestes a se mover, o criminoso que apontava sua arma para ele se mexeu para o lado, respondendo algo para o policial. O Corvo não se deu o trabalho de escutar, em menos de 1 segundo em que a situação ocorria, se teleportou para o segundo refém, com o outro ainda no braço, e se teleportou novamente para fora dali com ambos. Logo em seguida, ouviu-se tiros vindo do local. Os policiais correram para a ação.

Ao reaparecer, o Corvo estava caído no chão. Já não tinha forças para se levantar. Havia passado dos seus limites. Sentia-se tonto e prestes a desmaiar. Um dos reféns conseguiu se livrar das cordas sozinho, salvou o outro refém e ambos correram para os policiais, deixando o Corvo sozinho no chão.

- Como fugiram de lá? – Perguntou um dos policiais que esperava fora do local aos reféns.

- U-Um maluco de másc- Um dos reféns começou a falar, gaguejando, mas o outro interrompeu.

- Achamos uma saída que dava em outra rua quando eles se distraíram. – O outro refém, que o Corvo havia salvo por último, respondeu.

O policial não estava totalmente convencido, mas não havia porque discutir isso agora que estavam ali. Levou os dois para dentro do carro.

O Corvo tinha reaparecido em um corredor escuro, e a essa hora da noite, era improvável que alguém simplesmente passasse por ali. 30 minutos depois, o tumulto tinha acabado e o Corvo já era capaz de se mexer. Tirou sua máscara, revelando seu rosto suado e pálido, e retornou mancando para casa.

No próximo dia, Victor Edmund lia artigos na internet. Estava decepcionado que tinham capturados fotos sua em ação, apesar de ser tão cuidadoso. “O Corvo Relâmpago salva 3 reféns”, dizia o artigo. Parece que até um fan club havia sido criado da noite pro dia. Victor suspirou. Não que não goste do nome que deram a seu alter ego na internet, mas ficou apreensivo das consequências dessa notícia se espalhar por aí. Tinha apenas 24 anos, e na verdade não queria ter expectativas estranhas postas nele por enquanto, já que ainda estava muito ocupado com a faculdade e tentando arrumar um emprego para poder sair como vigilante todos os dias. Queria que ser o Corvo Relâmpago continuasse apenas como algo que fizesse uma vez ou outra, quando tivesse vontade ou achasse necessário. Suspirou e desejou que isso tudo não tivesse uma grande repercussão, mas tinha a sensação que não seria tão simples assim.

RCS
Enviado por RCS em 17/06/2017
Código do texto: T6029967
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