OS MONSTROS DO MATO

 
Voltando para o passado, chegamos ao ano de 1950 e eu com oito anos de idade. Tinha combinado com meu amigo de pousar na casa dele... Mas naquela época precisava autorização dos pais. Posso ir pai?  Espere filho! Esta ficando escuro e antes de chegar à casa do teu amigo tens que atravessar um mato e mato no escuro apresenta alguns perigos... Ta pai, mas eu já estou bem grande já tenho oito anos e não vai ser um mato que vai me assustar.... Posso ir? Ta bom! Vai e amanhã bem cedo esteja de volta.
   Entrei no mato e ele estava realmente escuro... Depois teria de andar por um campo até chegar à casa do meu amigo. Senti medo! Sim mas fui enfrente afinal eu já tinha oito anos e cheguei à casa do  meu amigo... A primeira etapa da minha aventura estava concluída, ou quase. Mas não havia ninguém! Na casa. Bati na porta, dei uma volta no chalé e nada de encontrar gente, provavelmente a família que deveria ter ido passear e iria voltar, mas se demorasse muito? Um caso para ser resolvido por uma criança de oito anos.
 Olhei o campo que havia percorrido até chegar ao mato ele estaria completamente escuro. Teria de tomar uma decisão ou ficar no escuro em volta do chalé ou enfrentar o mato. O que valeria mais a pena?  Atravessar o mato valeria a pena?... Claro não teria problema, mas para uma criança onde o susto está na mente, seria um problema.
  Eu decidi voltar... Correr pelo campo foi fácil, criança gosta de correr, mas quando eu entrei no mato transformado, no meu pensar que só existia monstros no chão uns preparados para me dar bote, outros só ficaram me olhando com o intuito de aumentar o pavor, e tinha alguns pendurados nas árvores e ainda teria os problemas de tropeçar e ser mordidos por cobras que não eram pequenas... Eu consegui transformar aquele mato cheio de vidas naturais em um covil de monstros.
Então tive uma  ideia de garoto assustado... Pensei nas músicas que mais conhecia e comecei a cantar em voz alta e desafinada, combinado com uma corrida desesperada e ao mesmo tempo sempre olhando para tentar ver o final do mato que parecia ter aumentado de tamanho. E os monstros imagináveis continuavam ali, produzidos na minha mente, mas eu consegui voltar para a minha casa com os cabelos em pé. E como sobrevivente, de uma grande aventura aos oito anos.  E uma lição aprendida.  Não entro sozinho em mato no escuro.  Nem agora.

 
Scaramouche
Enviado por Scaramouche em 23/05/2017
Reeditado em 03/03/2021
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