Um conto de highlander

O vento cortante açoitava o rosto de Macleod,que parecia não se importar com o frio.O guerreiro,que vagava sem rumo pelas terras altas,só queria esquecer a morte recente da esposa.

Em breve,o ano de 1574 chegaria ao fim.Um a mais que passava sem deixar em seu corpo as marcas do tempo.

Quando a chuva começou,seus olhos vislumbraram,centenas de metros a frente,uma caverna na base da montanha mais alta da região.Era a chance de passar a noite aquecido e seco.Instigou seu cavalo naquela direção.

Pouco depois,dentro da gruta,acendia a fogueira para cozinhar a lebre que abatera horas antes.

Após a refeição,tirou a sela da montaria,a última sobrevivente do rebanho que possuíra,ainda no tempo de casado.Foi até a entrada da caverna e coletou folhagens para o animal,que ficou pastando amarrado a uma rocha pontiaguda.Deitou-se num local mais elevado,de onde poderia monitorar a entrada da gruta.Havia ladrões demais por aquelas bandas.Exausto,adormeceu sentindo no ar um odor que não conseguiu identificar,levemente cítrico.

Acordou com os braços e pernas esticados e amarrados por cordas a quatro estacas,fincadas numa mesa retangular de madeira.Estava deitado de costas.Nu.A sua volta,apenas a luz bruxuleante de tochas fixadas nas paredes por suportes de ferro.

Quando seus olhos se acostumaram a penumbra,viu que estava no interior de outra caverna,bem menor do que aquela na qual adormecera.

__Está com frio,highlander?

Macleod assustou-se com a mulher alta que emergira de uma fenda na parede de rocha.

__Não tenha medo...__disse ela,enquanto cobria o corpo do guerreiro com uma pele de animal__Perdão;meu ajudante não sabe tratar bem os hóspedes.

Esquecendo por um momento que estava amarrado,ele disse:

__Mas que ajudan..__parou a frase no meio ao ver o homem de mais de dois metros que entrava na caverna pela mesma abertura.

__Este!__falou a mulher,apontando para o homenzarrão__Foi ele quem te carregou até aqui.

__Me solte agora!!__berrou,num misto de raiva e medo.

__Calma...

__Como vocês conseguiram me amarrar sem que eu acorda...

__Isso é um segredinho meu__interrompeu__...Mas tem a ver com o cheiro que você sentiu antes de dormir...

__Bruxa!__gritou,ao lembrar do odor cítrico.

__Sim;sou uma bruxa__a mulher riu baixo__Olhe!

O gigante,que havia desaparecido,voltou com um grande caldeirão nos braços e o depositou sobre achas de lenha dispostas no chão de forma circular.Logo depois encheu de água o artefato de ferro.Por fim,retirou uma das tochas do seu nicho na parede e com ela pôs fogo na madeira.

__Meu caldeirão mágico!__debochou ela __Toda bruxa tem o seu...

__O que você vai fazer comigo?

Sem dizer uma palavra,a mulher aproximou-se e retirou uma mecha do cabelo do prisioneiro usando uma faca de lâmina curva.

__isso vale ouro!__disse ela,segurando os fios castanhos entre os dedos.

__Desgraçada!!

Ela jogou a mecha no caldeirão,mais uma vez muda.Em seguida,pegou três frascos de vidro fosco com tampas douradas que estavam em cima de uma pedra quadrada,a poucos metros de Macleod.

__ Levei muito tempo até encontrar a fórmula ideal.__murmurou entre dentes;depois pegou uma outra faca,de lâmina reta,e ordenou ao ajudante que segurasse o prisioneiro.

O gigante imobilizou o braço direito do guerreiro,que se debateu em vão.A bruxa fez-lhe um pequeno corte no antebraço e coletou o sangue num vasilhame de madeira.Quando a sangria terminou,Macloed estava horrorizado.

__Vocês estão mortos!Mortos!__urrou

Ela verteu o sangue no caldeirão,assim como um pouco do conteúdo de cada um dos frascos.Depois de mexer diversas vezes a mistura com uma grossa colher de madeira,falou:

__Matar,morrer,viver...Desde a morte de Heather,tanto faz para você,não?

__O quê?Você conhecia minha espos..

__Eu sei muitas coisas sobre você.Na verdade,foi por sua causa que prolonguei minha estadia nesse lugar atrasado.

A mulher interrompeu a fala ao receber do gigante diversas folhagens,que foram acrescentadas à mistura.

__Você é daqui?Qual é o seu clã?__perguntou o guerreiro,enquanto tentava,sem sucesso,libertar-se das cordas que o prendiam à mesa.

A bruxa riu tão alto que o som,amplificado pelo eco,penetrou como uma adaga de gelo nos ouvidos de Macleod.

__Na minha terra natal não era bem esse o tipo de divisão..Não na Pérsia..

__Pérsia?__repetiu o guerreiro,demonstrando ignorância.

__Não tente lembrar do que não conhece__debochou ela__Um selvagem como você jamais conseguiria imaginar a grandeza daquela civilização,a imensa glória dos Tempos de Ciro...

__Ciro?É o nome do chefe da sua tribo?

__Selvagem!Ignorante!__gritou a mulher,que pela primeira vez demonstrava irritação__Mas não se preocupe;em breve o seu tormento acabará.

__Você vai me esfolar como um porco...__o guerreiro encarou a bruxa nos olhos enquanto falava.

A feiticeira usou uma haste comprida de ferro para mexer nas achas e aumentar o fogo.

__Não.Não como um porco.__sibilou

__Olhe..__balbuciou Macleod,que sentia um desconforto terrível naquela posição__Eu tenho um pouco de ouro enterrado perto do...

__...Do túmulo da sua esposa!__completou a frase o gigante,que até então permanecera mudo,em pé ao lado da mulher__Eu o desenterrei há cerca de um mês atrás.

__Ladrões desgraçados!!__o cativo se debatia sem parar.

__Cale a boca!Desgraçado és tu,que recebestes o dom supremo e ,mesmo assim,se arrasta pela vida como um trapo sujo que a correnteza leva,sem direção nem destino!

__Eu nã..Não sei do que você está falando...__balbuciou Macleod

Antes de responder,a bruxa mexeu mais a poção.Em seguida falou:

__Tu és imortal!Nenhuma doença,ferimento ou magia pode ceifar tua vida!Agora,se tiveres a cabeça separada do corpo,perecerás.

Depois de um instante em silêncio,a bruxa continuou:

___Eu acompanhei a sua vida nos últimos quarenta anos.Presenciei seu casamento...E também a sua incapacidade de dizer a verdade para Heather!

__Mentira!!Eu nunca menti para Heather!!!!

__Omitir que você,como os outros imortais,era estéril,não foi uma mentira??

__Cale essa boca imunda!

__Você condenou sua esposa a uma vida sem filhos e nem sequer deu a ela o direito de escolha...Ramires te alertou,lembra?

A última frase paralisou Macleod.Aquela estranha sabia tudo da sua vida.Como isso era possível?Ele sempre escondera seu poder de todos,pois já conhecia as implicações de revelá-lo.Tentou afastar a confusão que se formava em sua cabeça e perguntou:

__Como você pode ter visto tudo isso e ser tão jovem?

A bruxa sorriu novamente,aspirou o aroma que saía do caldeirão e disse.

__Você vai entender tudo pela manhã...

Nesse instante,obedecendo a um sinal da feiticeira,o gigante tampou o nariz do prisioneiro com um pano úmido.O líquido que embebia o tecido branco o apagou em poucos segundos...

Ao despertar,o guerreiro viu que a penumbra da gruta dera lugar a uma luz intensa.Quando suas pupilas se adaptaram a claridade ele vislumbrou o céu da Escócia.Trajava uma túnica branca,estava deitado de costas sobre uma grande pedra achatada e seus membros continuavam presos,desta vez a quatro pilares de rocha que emergiam das extremidades da pedra.Encontrava-se no cume da montanha.

__Na antiga Pérsia não usávamos templos.__falou a mulher,que vestia uma túnica azul e estava ao seu lado__O alto das montanhas era o lugar ideal para nossos sacrifícios.

__Se eu vou morrer,quero saber o motivo!É justo,não?__exigiu .

__A justiça nem sempre nos acompanha,Macleod...

Em seguida,a feiticeira tirou uma faca prateada que levava num compartimento da túnica,olhou para o céu e falou em voz alta:

__Poderoso Ormuzd!Aceite este sacrifício e atenda mais uma vez a minha súplica!

Ela levantou a faca acima da cabeça usando as duas mãos.Em seguida a cravou,até o cabo,no coração do guerreiro,que não gritou,soltando apenas um suspiro ao cerrar os olhos.A mulher,sem demonstrar emoção alguma,pegou uma taça dourada que repousava sobre um suporte feito de madeira,jade e marfim,a ergueu aos céus,murmurou algumas palavras numa língua antiga e logo depois sorveu todo o líquido do seu interior.

__Corte a cabeça dele!Rápido!__ordenou ao servo

O gigante,postado ao lado da bruxa,levantou acima dos ombros o enorme machado que segurava;mas antes que desferisse o golpe,um zumbido cortou o ar.O servo largou a arma,gemeu e desabou ao chão.Ao correr para ajudá-lo,a bruxa constatou,surpresa,que ele estava morto;havia sido flechado.Desviando o olhar para as rochas próximas,a mulher viu três homens caminhando na sua direção:dois ruivos e um de cabelo tão negro quanto o dela.O ruivo mais baixo segurava numa das mãos um escudo targe e na outra empunhava uma espada bastarda,o outro carregava nas costas uma enorme espada montante.O de cabelos negros apontava um arco carregado para ela.

__Òtima pontaria Duncan!__disse,rindo,o que carregava o escudo.

__Se foi!__ratificou o da montante,igualmente feliz.

__Era impossível errar.__minimizou o arqueiro,sem desviar a mira da mulher enquanto caminhava__O infeliz era enorme!

__Malditos sejam vocês!_gritou a bruxa,levantando-se.

Tudo aconteceu muito rápido:a mulher tentou alcançar a fenda que a levaria para o interior da caverna,mas foi interceptada pelo ruivo da montante,que a jogou no chão com uma bofetada.

__Eu serei o primeiro__bradou o ruivo alto,enquanto depositava a grande espada em cima de uma rocha próxima e começava a tirar o quilt.

__Por que fazer no chão imundo?!__indagou o arqueiro__Vamos usar a mesa de pedra!

Imediatamente os dois ruivos cortaram as amarras que prendiam Macleod à rocha e jogaram seu corpo inerte na relva escura.

O de cabelos negros ficou de guarda primeiro,enquanto os outros dois revezavam-se na tarefa de estuprar a feiticeira em cima da rocha...

À noite,quando os três já estavam saciados,a bruxa foi amarrada de forma igual a Macleod. Sua túnica agora estava vermelha da cintura para baixo.

Indiferentes ao sofrimento da mulher, o homens bebiam,se alimentavam e entoavam canções em volta de uma fogueira.

__Vocês acham que ela aguenta outra rodada?__provocou o arqueiro,entusiasmado.

__Ela não tem querer!__respondeu o ruivo da montante.

__Ela é nossa escrava!__completou o ruivo da espada bastarda,enquanto sorvia mais um gole de bebida.

O três gargalharam,inflamados pela luxúria e o álcool.O arqueiro perguntou:

__Vocês tiraram o punhal do corpo daquele infeliz?Me pareceu a distância ser uma arma de qualidade.

__Tens razão__disse o ruivo do escudo,levantando-se com dificuldade e pegando um galho incandescente da fogueira para usar como tocha__Vou pegá-lo.

Quando chegou ao local onde haviam jogado Macleod não havia corpo algum,só a relva tingida de sangue.

__Ei!__Gritou para os outros dois__Ele sumiu!

__Não fale besteira,Homem!__debochou o o ruivo da montante__Ele está morto!Não poderia sair andando!

Intrigado,o ladrão usou a espada bastarda para cortar alguns tufos mais altos da relva,direcionou a chama do galho em várias direções,mas nada achou.Quando virou-se para chamar seus companheiros,deu de cara com Macleod.que parecia um fantasma:rosto pálido e túnica ensanguentada.A luz escassa da tocha improvisada contra o rosto do guerreiro dava-lhe uma expressão demoníaca.

__ELE ESTÁ VIVO!CORRAM AQUI!__gritou pedindo ajuda,ao mesmo tempo em que tentava golpear seu oponente com a bastarda.

O álcool e o estômago cheio,porém,o impediram de desferir um golpe eficaz.Macleod esquivou-se facilmente da lâmina e cortou a garganta do ladrão de lado a lado usando o punhal que o matara horas antes.

Quando o arqueiro e o ruivo da montante chegaram,já encontraram Macleod empunhando a bastarda e o corpo do ruivo no chão.As mãos e pernas da vítima ainda tremiam,e pequenos esguichos de sangue saíam do seu pescoço.

___Demônio!__berrou o ruivo da montante,enquanto com as duas mãos girava a grande espada por sobre a cabeça preparando um golpe.

O barulho de metal contra metal ecoou pela noite.O bandido de cabelos negros tencionou o arco,mas os dois espadachins lutavam tão próximos e estava tão escuro que ele não conseguia uma mira precisa.

__Morra,criatura das trevas!__gritou o ruivo,ao aplicar toda a sua força num golpe poderoso.

Ao esquivar-se,o guerreiro das terras altas teve a chance de encerrar a luta,pois a lâmina da grande espada prendeu-se na fenda de uma rocha,impossibilitando seu manejo.Enquanto o homem de cabelos vermelhos tentava liberar a espada,Macleod cravou a bastarda na barriga do oponente,que caiu inerte.

Com o segundo ruivo estirado,o arqueiro teve a chance de lançar a flecha,que atingiu Macleod na coxa esquerda.

__É o seu fim,maldito!__berrou o bandido,enquanto colocava outra flecha no arco.Ao levantar o olhar e mirar novamente na direção de Macleod,porém,não viu o guerreiro,que já havia pulado para detrás da mesa e soltava um grito de dor ao tirar a flecha da perna usando as mãos.

__A próxima será no seu coração!__bradou o arqueiro,ao caminhar na direção do oponente.

Quando estava a poucos metros da mesa,o arqueiro viu Macleod levantar-se e arremessar-lhe um pedregulho.Ao mesmo tempo em que o homem de cabelos negros atirava uma nova flecha e acertava o guerreiro no ombro esquerdo,era atingido pela pedra bem no meio da testa e caía de costas.

Com a flecha cravada no ombro e sentindo uma dor lancinante,o guerreiro das terras altas pulou sobre o oponente,transfixou seu pescoço com a bastarda e,depois de vê-lo estrebuchar,desmaiou ao lado do inimigo.

Quando acordou era novamente dia.Foi até o local da fogueira,da qual só restavam cinzas,e procurou a água dos bandidos para aplacar a sede que o consumia.Ao dar o primeiro gole no cantil feito de pele de cordeiro ouviu um sussurro:

__S...so... soc..socorrro"

Era a bruxa,que continuava amarrada.Enfraquecido,caminhou lentamente até ela.Ao encarar o rosto da mulher tomou um susto.Ela aparentava agora ter uns setenta,não;oitenta anos!

__O que aconteceu com você?__perguntou ele,esquecendo por um momento que aquela mulher o havia matado horas antes.

Depois de tossir várias vezes e cuspir um sangue grosso,a mulher falou,num fiapo de voz:

__Me leve de volta para a caverna que eu lhe contarei tudo.Você quer saber a verdade,não quer?

A curiosidade foi mais forte do que a raiva e o guerreiro levou a feiticeira para dentro da gruta.Deitada da mesma mesa em que ele estivera,ela começou a narrar sua história:

__Fui esposa de um mago poderoso,servo do rei Ciro,da Pérsia.Meu marido sabia tudo sobre os conhecimentos antigos: alquimia,astrologia,encantamentos....Nada lhe escapava!Sua meta era descobrir o segredo da imortalidade...__parou de falar e soltou mais uma golfada de sangue.

Enquanto isso,o guerreiro tirava a flecha do ombro e enfaixava os ferimentos usando pedaços de tecido que encontrara na caverna.

Depois de recobrar o fôlego,que parecia estar no fim,ela continuou:

__...E foi quando ele descobriu que existiam homens iguais a você...

__Como?__Macleod se arrependeu de ter interrompido a mulher;tinha medo de que a bruxa não conseguisse concluir o depoimento.Mas ela prosseguiu:

__...Guerreiros que sobreviviam aos ferimentos mais graves nas batalhas,náufragos que reviviam depois de permanecerem submersos por horas no mar..pessoas imunes aos piores venenos....Foi aí que ele começou a procurar um jeito de adquirir esse,digamos,talento.

Mais tosse.Golfadas.Enfim continuou:

__...Anos depois,quando ele estava quase descobrindo a fórmula ideal,que combinava praticamente todo o seu conhecimento,foi assassinado por um imortal que estávamos caçando.

___Não culpo esse imortal...

__Cale a boca!__ganiu a mulher,que fechou os olhos logo em seguida.Quando parecia que não iria mais abri-los,ela prosseguiu:

__A minha sorte é que eu havia acompanhado suas pesquisas e pude continuar o trabalho até obter a fórmula definitiva,pouco tempo depois..

__...Que também precisava de um sacrifício,não é?

__Sim.É a única forma de se prolongar a vida além dos limites humanos.A poção que meu marido descobriu e que eu aperfeiçoei permite aos mortais absorver a energia liberada pelos corpos dos imortais após a decapitação;mas,ao contrário de vocês,não conseguimos retê-la indefinidamente,e o ritual precisa ser refeito de tempos em tempos ...

__...Matando outro imortal..__..Desta vez,Macleod não se preocupou se a bruxa ia continuar falando ou não.Já ouvira demais.Estava enojado.

__Sim...Alguém sempre tem que morrer...Estávamos te monitorando,eu e meu servo,há tempos,aguardando a oportunidade certa...Minha energia,como pode ver,estava no fim....meu último ritual de transmigração de poder foi ha mais de quarenta anos...Um habitante desta mesma terra foi o doador...Ao descobrir você,resolvi ficar por perto e te usar quando fosse preciso... __a bruxa esboçou um sorriso macabro.Seus dentes,outrora brancos,haviam adquirido a cor cinza amarelada.Seus lábios carnudos agora não passavam de duas tiras de carne azulada,apodrecida.O odor fétido que saía de suas entranhas reforçava essa impressão.

__Quei...Queime o meu corpo em cima da mesa de pedra....Era o costume da min...Da minha ..Terra...__sussurrou a bruxa,antes de ter uma grande convulsão que levantou seu tórax a alguns centímetros da mesa.Deu mais uma golfada de sangue e parou de se mexer.Aparentava mais de cem anos agora.A pele escura e enrugada parecia que ia ser rasgada pelos ossos,de tão fina que estava.

Um cansaço extremo o dominava.Ele ficou ali,em frente ao corpo esquálido,por algumas horas.

Mais tarde,surpreso consigo mesmo,cremou o cadáver da bruxa.Ia deixar os corpos dos três bandidos apodrecerem a céu aberto,mas lembrou-se que,se não fosse por eles,teria sido decapitado.Sepultou-os em três covas e pôs uma cruz em cada.

Ficou na caverna por alguns dias até seus ferimentos sararem.A magia funcionou mais uma vez.

Encontrou seu cavalo amarrado,e assustado,no mesmo lugar.Macleod passou os dedos pela crina da montaria,procurando acalmá-la.Quando ia colocar a sela,ouviu um barulho de trote vindo de fora da caverna.Um bando de cavalos selvagens passava correndo pelas imediações.O guerreiro não pensou duas vezes:tirou a sela,os arreios e soltou o garanhão.Que ele vivesse livre nos seus anos derradeiros!

Ao se afastar a pé da montanha,que por muito pouco não se transformara no seu túmulo,ele passava os dedos pelo tecido colorido de seu quilt.A cores da malha especificavam seu clâ,sua origem,o início da sua jornada.

Encantou-se com a beleza das terras altas como há muito tempo não fazia.Agora,porém,era chegada a hora de visitar outras paragens,conhecer o mundo.

Rumaria para o sul,até encontrar o grande mar de que ouvira falar por tantos anos.

Entoando uma antiga canção escocesa,pensava em Heather.A bruxa havia sido cruel acusando-o de mentir para esposa.Quando Ramirez o alertou,já estava casado há anos

Vivera intensamente aquele amor,que ainda habitava seu peito.

Então notou que,pela primeira vez em muito tempo,a lembrança da esposa não vinha acompanhada só de dor.As boas recordações de uma vida inteira juntos,que ele conseguia ver agora,o confortavam.

Olhou para o horizonte,viu como a sua jornada seria longa e um medo repentino o assaltou.

Recuperou a calma ao lembrar que,para ele,tempo não era problema.

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Nota do autor:

Resolvi escrever esse conto pois sou fã do filme "Higlander";na minha opinião,um dos melhores filmes dos anos oitenta.

Apesar dos efeitos especiais de qualidade duvidosa,o longa marcou época com uma história criativa e uma trilha sonora fantástica.

As continuações foram bem inferiores,assim como a série de televisão ,estrelada por Adrian Paul.

Mas isso é uma outra história...

Bom, feriado à todos!

arqueiro
Enviado por arqueiro em 21/04/2017
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