Racha na FKB
As férias prometiam aquele final de semana que não chegava logo... As irmãs de uma dos mais tradicionais sobrenomes da cidade que como a mãe se casara com um empresário de São Paulo, lá na capital moravam e pouco vinham para Itapê, estavam para chegar de férias e então... O coração bateria da turma toda bateria acelerado... Coisa da juventude... E foi falando desse assunto que o Peva, sempre ele o novidadeiro, chegou no meio da turma e disse:
- Adivinhem quem já chegou e “tão” no Sacyzinho tomando suco?
- Fala logo, “mardito”! retrucou o Orsi, num tom amigo de quem não aceita um não como resposta e que foi quase um eco dos demais da turma.
- As “mina” de São Paulo. O pai dela deixou elas lá “agorinha memo” lá!
O alvoroço foi geral na rapaziada até que um alguém sugeriu:
- “Vamô aprontá” alguma com elas, alguma coisa “de boa”!
Ideia daqui e dali ficou resolvido. Como a ideia do monstro na semana passada tinha dado errado, precisávamos reabilitar aquele monstro e ficou decidido assim:
- O La Luna que conhece elas faz o convite pra elas assistirem um “racha” na descida da FKB (nessa época, anos 90, era mão e contra-mão apenas), se elas toparem ir, “beleza”! O Peva vai de monstro com o Fabiano antes e fica escondido na caixa de água da chuva. O La Luna estaciona bem do lado, quase na beira do asfalto, colado na caixa. Sobem pra “tirar racha” o Fabiano e o Fábio e o resto fica do outro lado do trevo. Quando os carros estiverem bem no meio da descida o Peva saí da caixa e pula na porta do Opala do La Luna e grita, faz o diabo pra assustar elas. O La Luna, finge que o carro não pega e os outros fogem com os carros fingindo medo e fazem o trevo e voltam pra ver no que deu.
- Combinado?
- Combinado! Foi o grito geral!
Bem, já estamos no acesso da FKB e os carros lá em cima partem lado a lado fingindo um “racha”.
De repente um monstro (“mar feito”) surge na janela vindo da escuridão da caixa de água de chuva e soca o vidro do carro onde as duas garotas de São Paulo estavam! Os gritos delas são mais altos, o carro não pega na primeira vez, não pega na segunda, na terceira, mas pega na quarta vez e eu disparo com o carro... As garotas choram...
- Que foi aquilo? Que medo?
- Não sei, não entendi nada... Digo na maior “cara de pau”
- Quero ir pra casa. Diz a garota no banco da frente...
Eu redargui que não precisava e que podíamos voltar ao Sacyzinho e que era cedo ainda. Mas ela brava repetiu.
- Quero ir pra casa da minha Vó! E já!
- Calma... O que aconteceu?
Ela com toda a vergonha do mundo disse:
- Fiz xixi na calça de medo... Tô toda molhada...
A garota no banco de trás caiu na risada e eu... Bem, eu fiquei sem ação, pois o banco do meu carro, meu xodó, estava todo molhado de xixi...
É... Esse monstro não dava certo mesmo...