CHUKUDU KRAAL

Antes dos MUNDOS PARALELOS ® entrarem em colisão...

Roger M.

Logo depois do primeiro ataque, o Alouette desceu ao leste, para os homens pular a terra. Quando o Oberst Schneider pulou, duas barracas de munições explodiam, espalhando metralha em todas direções, e outras duas estavam em chamas.

O Huey Cobra, suspenso no ar, continuou metralhando os alojamentos de onde fugiam os rebeldes apavorados, que eram impiedosamente chacinados pelas Miniguns. Os que tentavam escapar para o vilarejo, eram abatidos pelo grupo de Grigorenko, que avançava rapidamente para o leste.

Alguns rebeldes tentaram escapar pelo norte, mas o grupo de Wiessel estava esperando com uma barragem de fogo.

O Huey Cobra retirou-se para o leste, para ficar fora de alcance das explosões, dando um respiro aos rebeldes entrincheirados nas barracas, que em seguida saíram, para ser encurralados pelo norte e pelo oeste. Não podiam dirigir-se ao leste, que estava em chamas, e resolveram avançar para o sul, onde pretendiam fazer-se fortes na lomba.

Não chegaram subir.

O grupo de Sarrazin já estava atirando com tudo. Chegou um momento em que os rebeldes entraram em pânico. Sua desorganização agora era total. O ataque surpresa tinha sido um êxito. Mas os mercenários ainda não tinham encontrado o alvo principal.

O alvo principal estava dormindo numa casa do vilarejo. Acordado com o barulho da batalha, chamou os rebeldes que estavam espalhados nas casas, os que pegaram suas armas e saíram ao descampado em direção ao acampamento em chamas.

Roger-M não era covarde e saiu a meio vestir à frente dos seus capangas, gritando ordens em swahili, que custaram para serem obedecidas, logo que os rebeldes viram o espetáculo perante seus olhos. Não podia ser pior.

As barracas de alojamento estavam queimando e os gritos dos feridos dentro delas era apavorante, mas diminuíam á medida em que os atacantes iam de barraca em barraca, atirando granadas de fragmentação dentro delas.

Nada puderam fazer. O grupo de Grigorenko recebeu-os à bala pela frente, e o grupo de Sarrazin pela direita. Não sobrou nenhum da primeira leva. O alvo recuou protegido pelos seus guarda-costas até uma casa do vilarejo, sem parar de atirar, junto com um reduzido grupo de vinte rebeldes.

A maioria foi barrada pelo fogo do Huey Cobra que foi chegando perto desde o Nordeste como um açoite do céu com seu canhão articulado cuspindo fogo e dizimando-os como bonecos.

O artilheiro Simon Gart foi pouco a pouco silenciando os focos de resistência até que em minutos só se ouvia o barulho dos helicópteros e o crepitar dos incêndios por cima dos gritos dos feridos, que estavam sendo executados um a um. Finalmente apareceram os rebeldes com as mãos em alto em sinal de rendição.

–Sem prisioneiros! – gritou Harris.

–Não! Gritou Grigorenko – precisamos do líder vivo!

–Não está entre os vivos – disse Sarrazin que estava chegando à frente do seu grupo que já tinha dominado a situação.

–Procure entre os mortos – disse Grigorenko.

*******.

O sol já estava alto e ainda não tinham achado o que foram buscar.

–Não deixou rastros, coronel. Deve ter fugido no meio da batalha.

–Procurou no vilarejo, Herr Sarrazin?

–Fizemos pente fino nas casas e palhoças. Não está aí.

–Interrogue os prisioneiros.

–Sim senhor.

Os quinze prisioneiros sobreviventes estavam sentados no chão, em fila, amarrados de pés e mãos junto ao poço de água.

Alguns choravam e outros tinham se urinado ou defecado de medo com o macabro espetáculo dos temidos mercenários decepando cabeças que jogavam num dos onze caminhões capturados que ainda estavam inteiros, como se fossem melancias.

Os corpos decapitados eram arrastados pelos pés, deixando um rastro de sangue, e em seguida jogados ao fogo das barracas, que parecia crepitar de satisfação. Sarrazin e Argot aproximaram-se ao primeiro da fila.

–Where is its boss? – perguntou Sarrazin.

–I don't know – disse o prisioneiro com petulância.

–Don't you know? Then you are not serve for me – disse Sarrazin apontando a pistola, na cabeça do rebelde e acrescentando ao apertar o gatilho:

–He doesn’t serve me.

O rebelde caiu para trás espalhando sangue para todos lados, até sobre os seus apavorados colegas.

–Argot, sirva-se.

Argot de imediato puxou sua faca de combate e decapitou o rebelde morto, atirando a cabeça para cima da carroceria do caminhão, enquanto Harris e Derot pegavam o corpo e o arrastavam para a fogueira.

Sarrazin virou-se devagar para o segundo da fila, que estava com os olhos desorbitados e perguntou calmamente:

–Where is its boss?

–I don't know! I don't know! – Chorou o prisioneiro.

–You don't also serve me. – disse Sarrazin apertando o gatilho. Desta vez, metade dos prisioneiros começou a chorar. Alguns se urinaram novamente.

–Argot!

–Tenente?

–Proceda.

–Será um prazer – disse Argot degolando prontamente o prisioneiro – mas está estragando as cabeças, tenente.

–Então vamos degolá-los direto para não gastar munição.

–É melhor.

Quando chegou ao terceiro, Argot colocou a faca na garganta dele, e Sarrazin perguntou mais uma vez:

– Where is its boss?

–Don't kill me! Mugawe caught a jeep and he fled to the desert. It should already be far.

-For what side?

–To the east, we have a hiding place to fifty kilometers.

–Thank you – disse Sarrazin – Harris!

–Tenente?

–Matem todos.

*******.

O Coronel Schneider estava contrariado, mas tomou a decisão correta:

–Diga a Bixby para vasculhar os arredores. Vá com ele.

Quando Sarrazin e Bixby atingiram uma altura considerável, conseguiram

divisar uma nuvem de pó ao leste.

–É ele! – disse Sarrazin.

O helicóptero mergulhou à máxima velocidade rumo leste, até divisar o Land Rover de Roger M. com ele mesmo ao volante, acompanhado dos seus guarda-costas, á máxima velocidade que o deserto permitia.

Bixby pegou o rádio:

–Achamos o alvo, coronel. Está a dez quilômetros ao leste de vocês.

–Vamos detrás dele, Bixby, antes que chegue ao esconderijo fortificado.

–Lamento mas não dá. Temos que voltar urgente.

–O que foi agora?

–Vamos cair em menos de quinze minutos – disse Bixby virando em redondo.

–Mas esta lata velha não pode aprontar agora que mais a precisamos!

–O combustível está no fim. Gastamos quase todo para vir de Serowe.

–Mas que merde! – disse Sarrazin.

–Nem sei se conseguiremos chegar a Chukudu Kraal. Apostamos tudo numa cartada só: a vitória. O coronel não cogitou uma retirada rápida, senão numa permanência demorada para classificar e pegar o material deles. Recém amanhã de manhã, o C-130 vai lançar o kerosene para os helicópteros, como combinado.

–Entendo. Era uma coisa tida como certa.

–E deu certo. Somos donos de Chukudu Kraal agora.

–Mas contávamos com pegar Roger M. Não poderíamos nem chegar perto?

–Estamos longe demais.

–Eu poderia pular encima dele.

–Eles te matariam em dois toques.

–Pede um jipe com bastante gasolina reserva para nos encontrar.

–Para quê?

–Vou atrás dele, Bixby. E acelera esta merde!

*******.

O Alouette quase que caiu, a menos de um quilômetro do local da batalha, marcado pelas colunas de fumaça dos incêndios. O combustível acabou e o motor foi perdendo rotação até tocar o chão com violência. Sarrazin estava furioso e bateu com raiva na lataria do helicóptero. Dois jipes Land Rover estavam indo ao seu encontro.

Schneider estava em um deles.

Após as explicações, Schneider autorizou a perseguição por terra. Transferiram toda a água, gasolina e munição de um jipe para outro. Sarrazin, Weber, Derot e Harris, partiram a máxima velocidade possível no deserto.

Já tinha passado o meio-dia, quando conseguiram ver a nuvem de pó que o fugitivo não podia evitar levantar.

–Me admira a resistência do sujeito – disse Weber, que estava na direção.

–A essa altura já deve saber que estamos atrás dele – disse Sarrazin – se preparem, o desgraçado é muito astuto.

–Mas é um simples nativo... – disse Derot.

–Um simples nativo que organizou essa merde toda e quer tomar o poder – disse Sarrazin – devemos ter cuidado. Os capangas dele são uns coitados, mas ele deve ser bem perigoso.

–Nós também somos – disse Harris.

–Não somos tanto – disse Sarrazin – vocês esqueceram de trazer a bazuca.

–O carro não é nosso. O pegamos às presas – disse Derot.

–O que temos? – perguntou Sarrazin olhando para trás.

–Além das armas, uma “Bren” com bastante munição e algumas granadas.

–Será suficiente, Derot – disse Sarrazin, trocando de lugar com Weber na direção sem diminuir a marcha do Land Rover.

Trocando de lugar de hora em hora, estavam bem descansados, o que sem dúvida não aconteceria com seu inimigo. Eram já as seis da tarde, e o jipe inglês pulava nas irregularidades do terreno, com Sarrazin apertando o acelerador a fundo e estava conseguindo diminuir a distância, fato que só podia significar uma coisa:

–O alvo está em dificuldades.

–Mais um pouco e é nosso – disse Harris.

–Não sei, não – disse Weber – A noite está chegando e esses demônios são melhores do que nós na escuridão.

–São apenas as seis – disse Sarrazin – Ainda há tempo de pegá-lo.

*******.

Às seis e meia, já estavam a tiro de fuzil do alvo. Com o binóculo, Harris pode ver que Roger M. não estava só.

–São três.

–E nós quatro. Ainda temos superioridade.

–Um é aquele capanga grandalhão das fotos que vimos. O outro...

–O outro...? – Sarrazin tirou os olhos da estrada para cravá-los em Harris.

–É uma mulher enorme.

–Deve ser a amante dele – disse Sarrazin, voltando sua atenção à frente.

–Não. Uma mulher desse tamanho, careca, fardada de camuflagem e carregando mais armas do que um homem, deve ser uma lésbica. Parece um macho!

–Então deve ser o dobro de perigosa – disse Derot.

–Abaixem-se! – gritou Harris tirando o binóculo do rosto – Vão disparar!

Adiante, o Land Rover dos rebeldes tinha parado e os três ocupantes apontavam suas AK-47. A primeira rajada perdeu-se na areia.

Os mercenários pularam do carro que Sarrazin tinha deixado atravessado para ser usado como barricada sem que o motor fosse danificado e responderam ao fogo com seus fuzis M-16, ao mesmo tempo em que Sarrazin montava o tripé da possante Bren.

A distância entre os dois grupos não era mais do que quatrocentos metros, com o que os disparos podiam ser bastante perigosos e certeiros. Sarrazin apoiou o tripé da Bren no capô do Land Rover e apertou o gatilho.

*******.

Quando a Bren falou com sua voz rouca e profunda, destacando-se entre os secos latidos das AK-47 e os agudos estalos dos M-16; o inimigo soube que havia mais um fator apavorante com o que não contavam. Os três rebeldes já começavam a intimidar-se com aquele som e com os pesados projéteis que batiam cada vez mais perto.

Sarrazin estava enquadrando o alvo com tiros de ensaio. Os rebeldes suspenderam o fogo e agora sua maior preocupação era grudar-se ao chão, antes de revidar e perder a cabeça. Weber avançou pela direita, enquanto Derot fazia o mesmo pela esquerda. Harris resolveu ir pelo centro, do lado direito da linha de fogo de Sarrazin, que disparava curtas rajadas espaçadamente.

Harris esperou até que Sarrazin esgotasse a munição.

Aproveitando a troca de carregadores, ficou de pé e correu como um possuído até uma pequena depressão do terreno bem a tempo, já que os rebeldes revolveram disparar com tudo.

Foi bem calculado, já que em seguida Sarrazin recomeçou a barragem de fogo e os rebeldes recolheram-se ao chão. Mas Harris já estava em segurança, arrancando os pinos de duas granadas de fragmentação.

Quando Sarrazin esgotou o segundo carregador, Harris ergueu-se e atirou a primeira granada que foi cair bem perto, na frente dos rebeldes.

Após a explosão, Harris aproveitou para ficar de pé e correr mais uns metros até umas pedras, detrás das que se protegeu, atirando a segunda granada com mais precisão.

Imediatamente após a segunda explosão, se fez o silêncio, então Sarrazin enfiou no braço uma sacola com carregadores de Bren e carregou esta no ombro, enquanto puxava sua pistola para cobrir-se, já que a Bren era pesada demais para ser disparada no braço.

–Harris! Já estou indo!

*******.

O carro dos rebeldes estava tombado pela força da explosão, bem encima das pernas do guarda-costas de Roger M. O enorme nativo ainda vivia e lutava para engatilhar uma pistola Tokarev.

Derot já estava chegando quase encima dele e não pode evitar ser atingido pelo rebelde que apesar do ângulo de tiro acertou-lhe dois tiros nas pernas.

Gritando de dor, Derot descarregou seu fuzil no descomunal corpo do rebelde, que antes de morrer ainda acertou dois tiros no mercenário sul-africano; que ainda resistia caído, lutando para recarregar.

Então, a suposta amante de Roger M. e suposta lésbica, que estava ferida e fingindo-se de morta, levantou-se repentinamente, coberta de sangue e disparou uma rajada de Kalashnikov nas costas de Derot.

Sem um grito, Derot tombou para frente, feito um chafariz de sangue. Weber já estava perto e disparava uma rajada nas costas da enorme mulher, que cambaleou mas não caiu, senão que girou o corpo e disparou duas rajadas em Weber.

O peito de Weber pareceu florir de rosas vermelhas e sua boca encheu-se de sangue, mas não afrouxou o dedo no gatilho, furando o ventre da rebelde, que caiu para trás, dobrada ao meio.

Harris e Sarrazin já estavam chegando perto, e viram Roger M. correndo para o leste. O esconderijo não podia estar muito longe.

Enquanto Weber tombava morto, Harris fincou o joelho em terra e fez pontaria nas pernas de Roger M., para pegá-lo vivo, mas não chegou a apertar o gatilho, porque a rebelde ferida endireitou-se novamente e disparou seu último tiro nas costas de Harris, que tombou para frente.

Dando um grito de raiva, Sarrazin disparou sua pistola quatro vezes na horrível cabeça raspada da mulher, espalhando ossos e miolos.

–Não deixa o desgraçado fugir! – Gritou Harris, caído no chão, onde se contorcia de dor.

–Não, não deixo – disse Sarrazin apoiando o tripé da sua arma no chão e disparando em direção ao fugitivo.

Roger M.; que pensava aproveitar a confusão para vencer os poucos metros que o separavam do esconderijo onde havia munição e mantimentos; sentiu que seu plano não daria certo, assim que as pesadas balas da Bren começaram a levantar nuvens de pó perto dos seus pés.

Atirou-se ao chão irregular que o protegeria, mas até quando?

As pesadas balas já estavam aplainando o terreno e fatalmente uma poderia atingi-lo em seguida, com certeza. Sarrazin sabia que todo dependeria de sua rapidez para trocar os carregadores. Não olhava para trás. Sabia que Weber e Derot estavam mortos e que Harris pouca ou nenhuma ajuda poderia presta-lhe.

Sem dúvida, Harris estaria ferido gravemente, mas de momento não podia atendê-lo. As balas terminaram. Como um raio, Sarrazin trocou o carregador, mas antes que conseguisse engatilhar, o líder rebelde já estava atirando. Afortunadamente ele não era muito certeiro, mas as colunas de pó levantadas pelas balas da AK-47 já estavam chegando cada vez mais perto.

Então a raiva contida pela morte dos seus camaradas extravasou num ódio intenso e frio. Tão frio que não se importava mais do fogo do inimigo tão perigosamente perto.

Engatilhou a Bren.

*******.

Apertou o gatilho com suavidade, quase que com carinho. Seu olhar parecia acompanhar cada bala em câmera lenta; balas certeiras que fizeram Roger M. abaixar-se apresadamente. Mas já o rebelde não tinha mais como se esconder. As balas aplainavam o terreno rapidamente, levantando poeira.

Em seguida ficou claro para ele que aquele mercenário, apesar da crueldade demonstrada e da fama de não fazer prisioneiros; não queria matá-lo. Havia uma esperança.

Roger M. não era um covarde. Mas quem luta e fica vivo, pode lutar depois. Quando sua munição acabou, decidiu jogar sua última carta.

–I surrender!

-Come here, you black son of a bitch! – Gritou Sarrazin.

Roger M. avançou sob a mira da Bren, e quando esteve mais perto, o mercenário sacou sua pistola Beretta de 9mm e apontou bem no meio dos olhos do líder rebelde. Sem deixar de aponta-lhe com a pistola e procurou com a mão esquerda dentro das suas inúmeras algibeiras um par de algemas de arame.

–Hands in the head! To the ground!

O rebelde obedeceu. Quando esteve no chão, Sarrazin colocou um pé nas costas dele e o algemou. Depois lhe amarrou as pernas com uma correia de fuzil.

–Agradeça ao Schneider que quer você vivo. Se por mim fosse você já estava com um quilo de chumbo nas tripas – disse Sarrazin em espanhol, sem importar-se se o outro entendia ou não.

Só então foi ver como estava Harris. O infeliz estava deitado de lado. Seu peito e costas estavam ensanguentados.

–Está com sorte, soldado – disse depois de examiná-lo – a bala entrou e saiu.

–Percebi. Da-me alguma coisa para parar o sangue.

–Deixa ver se atingiu algum ponto vital.

–Acho que não. Não tenho dor. Passou encima do pulmão.

–Parece que sim. Vamos colocar sulfa e uma bucha de gaze.

Sarrazin tirou a camisa de Harris, lavou as feridas com o resto do Scotch que tinha sobrado de Gwai e colocou sulfa e gaze. Depois amarrou uma vendagem em torno ao tórax do camarada. Por último ajudou-lhe a colocar a camisa e pegar suas armas.

–O alvo... está morto?

–Está bem amarrado. Pode caminhar?

–Acho que posso. Não se confie nele. Vai tentar fugir.

–Não, não vai. Levanta!

–Ah! – gemeu Harris, mas ficou de pé – Melhor dar um tiro na cabeça dele. Morto ainda vale dez mil.

–Só se não houver outro remédio. Schneider o quer vivo.

–Schneider que se...!

–Quieto! Ou vai sangrar de novo. Vou trazer o carro até aqui. Cuide dele.

–Faça o que quiser. Mas a cabeça dele vale dez mil.

*******

Vinte e dois anos depois, em 1995, quando os MUNDOS PARALELOS entraram em colisão, Sarrazin lamentaria não tê-lo matado.

Seu prisioneiro viria a ser um ditador sangrento que transformaria o país num inferno.

*******.

Após comprovar as mortes de Weber e Derot, Sarrazin endireitou o carro tombado dos rebeldes, para evitar que a gasolina se perdesse toda. Recolheu toda a água que pode encontrar, inclusive dos cantis dos mortos, e todas as armas e a munição.

Inutilizou as armas dos mortos e conservou a Bren e as granadas. Buscou o carro que tinha ficado longe e carregou tudo. Retirou a gasolina do jipe dos rebeldes e uma lata sobressalente. Depois estragou o motor a bala.

–Harris, está em condições de vigiar o prisioneiro enquanto dirijo?

–Estou.

Sarrazin emendou duas correias de fuzil de maneira que formaram uma corda de dois metros. Amarrou uma ponta aos pés do prisioneiro e a outra ao gancho de reboque do Land Rover.

–Vamos levá-lo de arrasto? – disse Harris dando uma risada que se transformou numa tosse.

–Calma que assim você morre antes de chegar. Procure não sangrar.

Sarrazin fez o rebelde sentar-se na borda do jipe com as mãos amarradas nas costas. Se caísse ao chão, seria arrastado pelos pés o resto do caminho.

Para evitar isso, Roger M. devia empregar toda sua concentração e força para manter-se sentado, coisa que além de cansá-lo terrivelmente não o deixaria com margem para tentar uma fuga. Além do mais era uma ótima forma de tortura.

*******.

Por fim, após dinamitar o depósito de armas dos rebeldes, empreenderam a marcha para o oeste.

Após duas horas, depararam com uma coluna de pó vindo do sul, fracamente iluminada pela luz da lua. Então perceberam que estavam muito ao norte da linha Chukudu Kraal - Serowe.

A perseguição ao rebelde tinha-os levado bem longe da rota. Aquela coluna de pó só poderia ser a caravana de caminhões capturados pelo coronel Schneider em caminho para Serowe.

Sem dúvida o coronel não perdeu muito tempo por lá. Avançaria e ao mesmo tempo visaria alcançar o grupo de Sarrazin. Grupo que agora estava reduzido a apenas dois homens, um deles ferido. Sarrazin desligou o motor.

Agora podia ouvir-se o rugido de quase vinte veículos, entre caminhões e jipes. A noite estava tão clara que, entre o pó, era possível divisar com o binóculo, as negras silhuetas dos veículos com as luzes apagadas.

–Será que eles nos viram? – perguntou Harris.

–Nossa poeira é menor que a deles. Vou levar o carro para cima da duna e fazer sinais de luz ao coronel.

–Boa idéia – disse Harris – assim talvez não nos mate.

Pouco depois, Sarrazin fazia sinais com a luz alta dos faróis em código Morse.

Três curtas, três longas três curtas. Repetiu duas vezes, e a coluna se deteve. O caminhão da frente acendeu duas vezes as luzes longas.

–Nos viram. – disse Harris.

–Agora vou dizer quem somos – disse Sarrazin.

Três curtas; uma curta e uma longa; uma curta, uma longa e uma curta; uma curta, uma longa e uma curta; uma curta e uma longa...

Antes de completar s-a-r-r-a-z-i-n, acenderam as luzes de todos os veículos e soaram todas as buzinas.

–Escapamos desta vez, camarada – disse Harris.

*******.

Próximo: A DOUTORA

*******.

O conto CHUKUDU KRAAL - forma parte integrante do romance inédito HISTÓRIA DE MARTIN ® – Volume I, Capítulo 7; páginas 59 a 66

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 26/12/2016
Reeditado em 26/12/2016
Código do texto: T5863728
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.