PRIMEIRA MISSÃO
Antes dos MUNDOS PARALELOS ® entrarem em colisão...
Primeira Missão.
Na segunda quinzena de janeiro, Sarrazin e Sotto, junto com quatro russos da Legião, desembarcavam no Cairo, mostrando seus belos passaportes cubanos e suecos, fabricados em Antuérpia para sua primeira missão, fantasiados de turistas, sentindo de repente a diferença de sair do frio para entrar no calor.
Deviam incorporar-se a uma expedição arqueológica da UNESCO, onde eles se identificariam ao chefe da mesma, o professor V.G. Satrov. Foram de carro até Gizeh, onde Martin finalmente conheceu as pirâmides e a Esfinge.
Dois quilômetros à frente, estavam o acampamento da UNESCO, as escavações arqueológicas; e também o renomado professor Satrov que era um velho distraído de cabelo branquíssimo, que tinha uma vaga semelhança com Albert Schweitzer.
Sua assistente, N.I. Dimitrovna era uma loira alta, sensual de grandes peitos e belas nádegas, com os carnudos lábios sempre úmidos apesar da secura do Sahara.
O professor ficou satisfeito de receber mais quatro colaboradores russos de porte atlético, mas não tanto quanto sua assistente ao ver os dois exóticos latino-americanos, que os acompanhavam, bem mais bonitos do que esses árabes pouco atraentes.
*******.
–Bem-vindos, camaradas – disse o professor – eu sou Satrov. A camarada Nadia Ignatevna indicará onde podem armar suas barracas.
–Ótimo – disse V.I. Grigorenko, que liderava o grupo mercenário – mas não ficaremos muito aqui, Vladimir Gregorovitch. Temos que empreender uma marcha para o oeste em uma semana para nos encontrar com o resto dos camaradas, porque viemos separados em vários grupos para não dar nas vistas.
–Não faz mal, Viktor Ilitch – respondeu Satrov – mas se quiserem nos ajudar em nosso trabalho na parte autêntica...
–Da! Da! Ajudaremos-lhe, Vladimir Gregorovitch. Temos que aproveitar esta semana para nos aclimatar ao Sahara.
–Ótimo, camarada Viktor Ilitch! Agora se espalhem por aí para não dar nas vistas. A camarada Nadia Ignatevna tomará conta de tudo.
Realmente que a camarada Nadia Ignatevna Dimitrovna tomou conta de tudo, tudo mesmo. Sarrazin que o diga.
Antes que a semana terminasse, ambos já passeavam abraçados nas incríveis e frias noites estreladas do deserto, para inveja dos outros.
*******.
Meses depois, a pé em Kalahari com quarenta e cinco graus à sombra, e à beira da morte, na sua segunda e terrível aventura, Sarrazin tomaria outro gole daquela água ferruginosa do radiador do Land Rover, delirando e lembrando da russa maravilhosa, à respeito da qual escrevera, após sua partida do Egito:
Nadia.
De longe, sob o sol,
Parecias uma miragem.
Teu cabelo era ouro puro,
Que brilhava deslumbrante.
Ao longe as pirâmides,
Com seu silêncio milenar
Testemunharam os nossos encontros.
Nossas mãos se tocaram
Teus dentes perfeitos brilharam:
–Seja bem vindo tovarich!
A noite fria de Gizeh
Nos reuniu ao redor
Da fogueira acolhedora
Cobertos pela manta parda
Do exército soviético
Enquanto teu velho professor
Em eruditas palestras
Noite adentro se estendia.
E saímos da roda
Deixamos os nativos
Com seus cânticos e músicas
Para caminhar em silêncio
Por lugares que outrora
Os faraós pisaram.
Assim eu te ouvi
Emocionada falar
De Moscou, de Leningrado,
Da tua universidade...
E tu me ouviste contar
Do meu país e minha casa,
Do meu lugar a meio mundo.
E ambos choramos
Pela distância, pela saudade...
Das nossas terras distantes.
A muda Esfinge de Édipo
Testemunha foi de nosso beijo
Nossas línguas se encontraram
E na areia caímos
Acobertados pelas estrelas.
Na frente dos fantasmas
Ramsés, Keóps e Nefertiti,
Que indignados contemplavam
As duas metades do mundo
Unir-se nas areias sem tempo.
O sol finalmente assomou
Abrindo nossos olhos
Para nossa felicidade com areia.
Felicidade que durou
Até que aquele Tupolev
Decolou rumo a Moscou.
*******.
Próximo: O MASSACRE DAS CRIANÇAS
*******.
O conto PRIMEIRA MISSÃO - forma parte integrante do romance inédito HISTÓRIA DE MARTIN ® – Volume I, Capítulo 4; páginas 32 a 33.