O TEMPO CORRE RÁPIDO

*Sineimar Reis

Eu nasci no ano de 1987, não sou muito velho assim, mas posso dizer que sou das melhores décadas vividas. Pode ser coincidência ou não, mas hoje em dia o calor parece soar cada vez mais forte. Uma chuva fina e passageira cai lá fora, lembro-me agora das trapaças que fazia na volta da escola, adorava vir com meus amiguinhos e passar no boteco mais próximo para comprar o refrigerante Baré cola ou guaraná, sentados em um passeio alto, contávamos causos verídicos de criança e comíamos salsichas cruas pelas calçadas. A água da chuva faz-me lembrar do dia em que passeamos de bicicleta até o centro da cidade debaixo de uma trovoada para ir brincar no pólo esportivo central, chegamos “ensopados”, gostava de andar descalço pelos corredores de água tentando fazê-la parar com os pés e fazendo barquinhos de papel para flutuar nas águas turvas do quintal da casa onde moram meus pais, gostava de ver a corrente forte das águas carregando montanhas de lixo. Como é bom lembrar-se de minha infância. Para falar a verdade, chuva era e é sinal de diversão, em muitos casos. Andar de bicicleta e sentir a chuva bater forte no rosto é como sentir uma imensa saudade de infância me beijando em silêncio, brincar na enxurrada, correr na água para tapar os buracos de sua saída não tinha preço. Quem foi criança nos anos 80 e 90, sabiam o que era brincar. Tudo servia como brinquedo, apesar de quase ter perdido a visão com um berimbau amarrado a uma linha, era tudo muito simples, pneus velhos, balanço de quintal, latinhas, vidro de perfume, círculo de lata, jornais, latinhas, folhas usadas de cadernos – as brincadeiras aconteciam.

Um copinho de iogurte com água, um talo de mamona, (ou de mangueira velha) e sabão em pó. Pronto! Estava pronta a diversão. Era só enfiar o objeto perfurado na água ensaboada e soprar. Dezenas de bolinhas transparentes, pequenas e outras grandes bailavam-se no ar até desmanchar. Muitas das vezes engolia até a água com sabão. Hoje fico pensando, “eu era feliz e não sabia”, como era feliz fazer uma criança feliz naquela época!

Carrinho de rolimã, de papelão, de lata de óleo, (confesso que, íamos a lotes vagos procurar latas de óleo para fazer carrinhos). Tudo se transformava em brinquedo ou brincadeira, graças a nossa criatividade a diversão era garantida por um longo período. Empinar pipas, papagaio, era diversão garantida.

Gosto de lembrar isso tudo não com melancolia, mas com aquele sabor de nostalgia, de saudade. Sem lamentar a infância sem “mesada”, com poucos recursos…

Brincava com, amigos, tios, irmãos, primos (as), brincavam juntos (meninos e meninas) brigava, sim! Qual criança que não briga? (“meia hora depois, estávamos de “bem”) Tive apelido de “Ceguinho” devido ao desastre do berimbau, mas também coloquei apelido que perambula até hoje. Não se conhecia a palavra bullying, e essas perseguições vergonhosas ainda não era coisa que traumatizava tanto.

Toquei campainha e saí correndo, roubei mangas do vizinho, ralei joelho e tive pontos, arranquei a tampa do dedão, furei o pé com prego enferrujado, briguei na escola, toquei o sinal sem a diretora perceber, fiquei de castigo, apanhei de chinelo, de cinto, de mangueira de chuveiro, etc...

Brinquei de esconde-esconde, passa-anel, batata-quente, morto-vivo, adoletá, amarelinha, cobra-cega, pau no toco, pula-sela, corre-corre, perna de pau, policia e ladrão, pular corda, pião, bolinha de gude, finca, nota falsa na rua, rodei pneu, tive balanço no quintal de casa, e muito mais. Brinquei na terra, no barro, na lama, na areia, pegava peixinho no litro na Várzea das Flores, coloquei chinelo na enxurrada, troquei garrafa de coca-cola em pintinhos, tomava chup-chup de “Ki-suco” e andava de carrinho rolimã. Tomei banho de mangueira, arejei os pés com areia para tirar a “Caracas”, tomei banho na Várzea e peguei micose. Meus machucados foram curados com Merthiolate, que ardia muito, tomei sulfato ferroso, (ferro tiamina, vitamina B1), na escola a professora já colocou álcool em meu machucado, já usei Mercúrio-cromo (que tingia a pele), Água Oxigenada (era legal ver a espuminha borbulhando). Criança brincava com criança, com ou sem brinquedo. Usávamos a imaginação e criatividade.

Poucas vezes usei band-aid, pois era muito caro, jogava açúcar no local ferido, os ferimentos eram cobertos ou amarrados com tiras de pano ou, com esparadrapo, que parecia que não iria desgrudar nunca mais.

Penso que, a infância de hoje em dia está muito solitária, antes as crianças eram mais livres, os pais deixavam os filhos brincarem na rua sem ter medo de serem atropelados. As meninas brincavam de bonecas até os 15 anos na maior inocência e depois se encontrava com o namorado no final de semana. Hoje isso está mudando, tem crianças de 10 anos namorando, usando maquiagem e salto alto. Parece que o mundo de hoje não permite que as crianças tenham infância e muitas vezes os próprios pais acabam com este momento por terem medo da violência. Muitos pais trabalham e entregam os filhos em qualquer local para serem vigiados, nestes locais, as crianças são carregadas de energias negativas e assim sendo, os pais esquecem de dar carinho, atenção, amor, confiança... Certo é que quanto o pai ou a mãe tem que trabalhar para manter um bom padrão financeiro e sobra pouco tempo para conviver com os filhos, tornando numa tendência cada vez maior os casais optarem por terem apenas um filho, no qual a criança acarreta uma rotina solitária ou muito atribulada.

Tudo isso sem contar nas armadilhas tecnológicas que prendem as crianças em frente a TV, ao computador ou vídeo game e ao pior de todos, o “celular”. Este está sendo a praga do século. Alunos levam para a sala de aula e não querem saber de estudar, no meu tempo de escola nem sabia o que era este objeto, pois ele não existia, aliás, só para ricos. Na minha casa, por exemplo, não tinha TV. Certo dia fui indagado por uma pessoa por nunca ter visto o filme lagoa azul, fui conhecer este filme depois de grande. Quando assistia Uga-Uga, Rei Leão, Dragon Ball-Z, Sítio do pica pau amarelo, R-x, Power Rangers etc.. Era na casa da Lia, (uma simpática vizinha onde minha tia tomava conta, pois ela morava em São Paulo e deixou a casa para ela cuidar) ou no espaço cultural do bairro!

Tratando-se do celular, em todos os locais e mesas existe uma ou mais pessoas que não largam este aparelho. Seja para conferir suas redes sociais, ficar de olho em ligações, publicar fotos no Instagram ou fazer checkin no Facebook é difícil encontrar pessoas que não estão viciadas em tecnologia de alguma forma esse vício será cada vez mais comum. Pesquisas já comprovaram que o vício em tecnologia pode ser semelhante ao vício causado por drogas, cientistas afirmaram que em casos mais graves de vício as pessoas passam a sentir sensação de pânico, confusão mental e isolamento extremo. Ainda bem que faz três ou mais anos que não tenho e nem carrego celular. Vamos viver um pouco mais, nossa vida é muito curta. Divirta-se.

Eu fui uma criança feliz! Por esse motivo, eu sou um adulto feliz! Simples, não é mesmo?

Sineimar Reis
Enviado por Sineimar Reis em 29/10/2016
Reeditado em 29/10/2016
Código do texto: T5806835
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