- Minha Primeira Trilha e/ou Traumas de Infância 1!
Meu pai, trabalhando em uma madeireira multinacional (*),
nos levou a passar a infância no interior, onde havia bastante matéria prima para o seu trabalho.
Mesmo morando em vilas de casas construídas pela serraria,era possuído por um amor indescritível pela mata fechada, onde com o facão, abria caminhos em verdadeiras trilhas, abrindo picadas (*) e/ou novos caminhos em busca de cascatas, frutas ou até apenas pelo símples prazer de respirar aquele ar puro, cheiro de mato que muitas pessoas até hoje não conseguem sentir...
Lembro-me de muitos desses passeios na mata, até mesmo de quando inadvertidamente deu uma facaozada(**) em seu próprio joelho, o que nunca o impediu de parar com os mesmos...(Mas isso é outro conto)!
Não raras vezes levava seus filhos para acompanhá-lo nessas jornadas pelas matas, e por incrível que pareça, nunca sentimos medo de nada, visto que ele com passos firmes e determinação, nos passava uma confiança inabalável em suas jornadas.
Hoje analiso com temeridade essas caminhadas, quando acordo com pesadelos que me perseguem desde então!
Junto às boas lembranças, como a de que na volta das trilhas, me colocando dentro da cesta de pique-nique, cobriam-me com guabirobas, araçás, butiás e/ou jabuticabas, frutas abundantes naquela região, uma visão terrível ainda me assombra.
Caminhando às margens do rio, e levando-me em seus ombros, em determinado momento tropeçou, escorregando pelo barranco para dentro do rio, onde milagrosamente continuou em pé,segurando-me pelos tornozelos, (Atitude que abomino até hoje)!
Até hoje sinto o seu desespero em tentar me devolver, pedindo-me para ficar em pé nos seus ombros e até mesmo na sua cabeça, de onde tentava içar-me para cima.
Após escorregar de volta várias vezes, segurando em moitas de capim que se soltavam, consegui escalar com as mãos
chegando até o topo, mas aquela sessação de ter a terra embaixo das unhas, me acompanha até hoje (***), desde os dois anos de idade.
Vendo-me a salvo, meu pai conseguiu sair em um lugar onde as margens eram mais baixas, voltando para onde estávamos...
Pensas que aí terminou nosso amor pelas trilhas ?
Nã-nã-ni-nã-nã-nã!
Essa aventura, foi somente a primeira de muitas outras!
Ruthmar/ Diógenes Paraná (In Memóriam)
(*) - LUMBER DO BRASIL.
(**) - Gíria para trilhas, usadas no interior de Santa Catarina.
(***) - Gíria para golpe com o fação, utilizada no interior de Santa Catarina.
(****) - Quando trabalho com massas como ao fazer pão, por exemplo.
Nota da Autora: Conto baseado em Fator Reais!
Florianópolis - Santa Catarina - Brasil - 2016.