O COCHE DE MADEMOISELLE
Jaqueline, chamada de Mademoiselle, de ascendência francesa, filha de um rico fazendeiro do século XX, que tinha uma grande e extensa fazenda de citricultura, denominada Limoeiro. A filha de Charles e Heloíse era habituada a andar no seu coche (carruagem com tração animal), importada, com uma cabine fechada, por muitos arredores da propriedade, com seu cocheiro Leôncio, muito competente e experiente na lida e no trato com animais, empregado e criado na fazenda desde menino.
No dia de Santo Antonio que era muito festejado e Padroeiro da localidade, ia haver uma festa na Capela, num povoado não muito longe dali. Essa festa era anual e muito concorrida e que Mademoiselle ia todos os anos com seus pais no seu coche e com o cocheiro da família, Leôncio e que nesse dia estava doente e febril e não daria para levá-la à festa.
Obstinada, a jovem insistiu que queria ir e os pais, que por força maior não poderiam estar juntos, cederam e autorizaram a viagem da filha com sua prima Alícia e que o jovem irmão do cocheiro, não tão experiente como Leôncio, levasse as jovens à Capela. Vez ou outra, o jovem cocheiro levava Jaqueline a lugares mais próximos e essa viagem era mais longa, a vinte quilômetros dali.
Naquele tempo eram poucas as ocasiões de encontros com jovens de outras localidades, afim de encontrar seu par, um de seus pretendentes chamado Robert, de ascendência inglesa, filho de um fazendeiro da região, que dias antes tinha enviado um bilhete à ela, dizendo: estarei na festa, espero te encontrar lá...Robert.
Era costume naquela época, os pais dos jovens interessados darem seus consentimentos ao namoro e ao noivado, chamado de casamento de conveniência entre filhos de fazendeiros conhecidos e bem situados financeiramente, para que os capitais continuem entre as famílias dos nubentes.
Saíram bem cedo e havia um pouco de névoa na estrada, Leôncio que estava dormindo e logo que soube da viagem, mesmo doente, aflito encilhou o melhor cavalo e foi atrás do coche que logo iria pegar um desfiladeiro perigoso. Ao longe percebeu que os cavalos estavam desgovernados, numa disparada insólita. O cavalo de Leôncio era muito ligeiro não demorou a alcançá-los, emparelhado com o coche e de cima da montaria conseguiu pegar as rédeas do irmão e parar os cavalos, bem próximo do rio com uma ponte estreita e sem guardas de proteção.
As jovens estavam muito assustadas e chorando muito, demorou a se acalmarem mas, ninguém se feriu, o coche teve pequenos danos e até dava para continuar mas, resolveram voltar para casa.
Joaquim, irmão de Leôncio disse que os cavalos se assustaram com uma revoada de pássaros que saíram de trás de um capinzal, muito próximos dos cavalos. Os pais de Jaqueline e tios de Alícia, frios e experientes na lida não ficaram tão assustados, pois já haviam passado por casos semelhantes.
A festa de Mademoiselle, mesmo triste e contrariada, ficou para o ano seguinte.