SOBRESSALTO
Já se aproximava o final do dia, o tempo ainda bastante fechado, as nuvens densas encobriam o sol, dando uma aparência antecipada do início da noite. O frio cruelmente maltratava meu corpo já cansado, o vento assobiava pelas frestas da cabina, olhava repetidamente a quilometragem percorrida, devia faltar pouco para chegar a próxima cidade, a chuva , agora fina, mantinha a estrada escorregadia.
Desisti de contar os atoleiros, a caminhonete, Toyota bandeirante, companheira de muitas jornadas não me deixara na mão, o peso de algumas sacas de cacau ajudava a rodar com mais firmeza, procurava manter a velocidade constante, embora baixa. Era difícil continuar na trilha mesmo com as rodas acorrentadas, por vezes inevitavelmente atravessava no barro liso.
Fora assim o dia inteiro, contrariando a expectativa de que o tempo melhoraria, que seria apenas nuvens passageiras, e ao chegar o sol, a viagem se tornaria tranquila, que chegaria ao destino no tempo previsto.
No meio de uma grande subida, avistei um caminhão que descia lentamente, aos poucos percebi o esforço do seu condutor para segurar seu madeireiro, um Bi-trem, carregado com imensas toras, a situação era assustadora, em condições normais, no barro seco, mesmo beirando ao máximo, poderíamos passar cautelosamente sem maiores riscos. Porém, com o solo escorregadio, o perigo do caminhão derrapar, me levar ladeira ou abismo abaixo era real.
Era impossível retornar, não havia tempo e condição para essa manobra, engatar uma ré e tentar voltar seria inviável, logo abaixo havia uma curva perigosa, o caminhão aproximava-se, o motorista gesticulava com os braços, aflito ante a um iminente acidente, podia ouvir o barulho dos freios, e ver que os mesmos não segurariam a máquina pesada na íngreme descida
O Condutor numa manobra desesperada tentou encostar batendo na parte do morro que ainda poderia deter a imensa máquina, infelizmente, o peso da carga pressionou o primeiro reboque fazendo-o atravessar, com a inclinação do mesmo, os cabos não seguraram as toras, que num estrondo precipitaram-se ladeira abaixo, rolando em minha direção.
A adrenalina veio a tona, num ato desesperado saltei do carro em direção a ribanceira. Senti o tombo no chão, um pouco estonteado, ouvi a mulher perguntar:
_ O Que foi homem? O que faz aí nesse chão gelado? Levanta, volta para cama!