A PESCARIA
A linha esticou de repente, uma forte puxada quase me jogou no Rio, me refiz do susto, segurei com firmeza a vara de bambu já bastante curvada pelo peso, firmando os pés no casco da canoa, talhada numa tora de madeira apropriada da região do Xingu.
Senti que a presa era grande pela força que impunha, confiante que a linha agüentaria, mas não tinha idéia do que fora fisgado pelo anzol, estranhei a forma de como puxava, diferente de quando fisgara Pacus, Pirararas, Tucunarés, e outros peixes “brigadores”
Por vezes abrandava, outras dava solavancos, fiquei intrigado com aquilo, o local não era fundo, uns dois metros de profundidade, mas as águas verde-escuras não deixavam identificar a espécime que talvez estivesse abrigada sob alguma raiz
Estava próximo a margem ao lado de uma imensa pedra, polida pelo vento que soprava aliviando o calor da tarde, com uma vara mais longa tentei desentocar a “coisa”, aos poucos fui enrolando a linha com muito esforço, vi aparecer aos poucos uma sombra sob a água, era enorme, nunca vira nada igual, mesmo estando sob a canoa suas bordas passavam uns cinqüenta centímetros em ambos os lados , quase na linha da água, dava medo só em imaginar o tamanho do seu ferrão ao ouvir o barulho que fazia ao roçar na madeira!
Mesmo cansada, ainda oferecia resistência, aos poucos fui encurtando a linha, não poderia sozinho colocá-la para dentro, corria o risco de afundar, puxei a linha e amarrei na proa, pude ver com admiração a beleza do animal, ao mesmo tempo sentir receio da imensa e afiada serra de dupla face, que balançava de forma ameaçadora. Próximo a sua base estava fixado o anzol, motivo pelo qual não escapou.
Dava pena vê-la agora tão indefesa, não queria capturá-la, muita gente aprecia sua carne, mas preferia que fosse um peixe comum, resolvi deixá-la livre, com cuidado para não esbarrar no seu perigoso dardo, era de dá arrepios , lembrei do dito popular, que “não existe dor maior” o mais sensato seria usar de cautela, com muito jeito, e apoio de um pedaço de tábua do banco da embarcação, consegui cortar a linha deixando-a seguir seu curso, por uns instantes ficou imóvel, ao dá-se conta da liberdade, chacoalhou a água como uma grande ventosa, submergiu, deixando um imenso vácuo ao sumir nas águas correntes.
O dia se despedia, os raios do sol já rentes as margens, transformava o Rio num majestoso espelho avermelhado, me contentei com algumas piranhas e um surubim, apanhados pela manhã já garantiam um bom caldo no jantar das crianças!
Remei rumo ao porto mais próximo de casa, decidido a não mais pescar por ali, com receio de encontrar novamente aquela imensa arraia que levara no dorso o meu anzol.