Ruffus e a menina voadora
Ruffus e a menina voadora
Cada lugar em que eu passo ouço uma história diferente e mesmo as pessoas afirmando que a história é verdadeira e realmente aconteceu, a gente ainda continua com um gostinho de dúvida se tudo o que nos foi contado tenha sido apenas uma criação do contador de histórias.
A história que eu vou contar pra vocês realmente aconteceu. Podem acreditar que é pura verdade!
Em um lugar muito especial vivia um grande cavalo preto correndo livre, sua velocidade era tanta que ele parecia planar ou voar em longos saltos. Um lugar tão especial como esse deve ser dentro de um grande coração.
Tudo o que eu falei até agora é pura verdade!
Lá no passado, bem lá no passado nasceu um cavalo preto que cresceu e corria feliz em um pequeno vilarejo. Todo dia ele passava ao lado da casa de uma menina de cabelos dourados, e toda vez que passava com seu galope barulhento a acordava. Ela acordava meio que ainda sonolenta e ficava confusa se o cavalo fazia parte do sonho dela. O nome da menina é July.
Tantos dias acontecendo a mesma coisa, ela sonhando e o cavalo passando, até que a menina de cabelos dourados resolveu descobrir se era mesmo verdade, decidiu descobrir de fato se o cavalo existia mesmo ou não.
Aquela noite a menina não dormiu e ficou com os olhos arregalados e grudados na vidraça da janela do quarto apenas esperando o cavalo passar. A madrugada trazia uma neblina muito forte e no meio dela surgiu repentinamente o grande cavalo preto correndo e saltando todos os obstáculos que via pela frente.
Foi amor à primeira vista. July se apaixonou pelo cavalo no momento que o avistou. Ele parecia voar em cada salto. Ela pulou pela janela e saiu correndo atrás dele. O cavalo preto correndo e saltando na frente e a menina de cabelos longos e dourados correndo atrás. Os cabelos dela chegavam a voar com a velocidade que ela corria, mas não foi capaz de alcançá-lo. Cansada ela parou e resolveu se preparar melhor e deixar para a próxima madrugada.
Ela pensou! Pensou! Pensou! Pensou. Já sei! Amanhã vou esperar esse cavalo preto com umas cenouras na mão e vou tentar fazer amizade com ele.
Na madrugada seguinte a menina de cabelos dourados pegou várias cenouras nas duas mãos e foi ao encontro do cavalo. Ela ficou esperando por um longo tempo, mas o cavalo não apareceu. Ela percebeu que tinha alguma coisa errada acontecendo por ali e resolveu verificar o que estava acontecendo.
A madrugada estava quieta e muito silenciosa, apenas um barulho estranho de tempo em tempo ecoava do final da rua.
A menina desceu a rua cautelosamente para não atrair a atenção e ao chegar no final da rua teve uma grande surpresa, pois encontrou o cavalo preso em um grande terreno. Ela olhou entre as madeiras e viu o grande cavalo preto encurralado caminhando em círculos sem encontrar a saída.
O terreno estava escuro e ela conseguia ver apenas o vulto negro do cavalo com seus dois grandes olhos brilhando refletidos pela luz forte da lua.
Tentando acalmá-lo, a menina de cabelos dourados colocou a mão com uma grande cenoura para dentro do terreno usando uma fresta entre as madeiras e começou a fazer barulho com a boca para atrair a atenção do cavalo.
Usando a língua ela fazia: Noc..noc....noc...noc...noc...noc... O cavalo olhou para ela e levantou as orelhas. Com os olhos arregalados ela olhava aquele grande cavalo preto com o rabo erguido. O cavalo com seus grandes olhos via aquela menina estranha com cabelos dourados atrás da cerca de madeira.
Ela pensou rápido! Eu preciso arrumar um nome para ele! E como se viesse do coração ela falou Ruffus! Seu nome vai ser Ruffus!
Ela chamou Ruffus! Ele levantou mais as orelhas como se tivesse gostado. Parecia estar prestando atenção.
- Vem Ruffus! Pega essa cenoura! Como você foi parar aí? Pulou para dentro e agora não sabe saltar para fora!
Ruffus tentou evitar a menina, mas como não conseguia encontrar a saída foi se aproximando muito desconfiado.
No escuro ela percebia pelo barulho das patas o cavalo se aproximando, até começar a comer as cenouras que estavam em sua mão. Ele comia as cenouras e lambia a mão dela, assim foi pegando confiança.
A menina acariciava a cabeça do cavalo com o rosto bem colado na abertura entre as madeiras da cerca e falava baixinho:
- Ruffus! Eu preciso tirar você daí.
O cavalo lambia a mão dela pedindo ajuda.
O portão estava trancado com uma corrente e um cadeado. A menina subiu no portão apoiando os pés nas fendas das madeiras e chamou o cavalo:
- Vem Ruffus! Vem Ruffus!
O cavalo se aproximou do portão e ela montou se agarrando ao pescoço dele. Ficou quietinha para não espantá-lo e deixa-lo bem calmo e confiante.
- Ruffus! Você deve ter pulado por algum lugar, agora nós vamos ter que pular para fora. Vamos! Vamos! Vamos! Vamos! E ela conseguiu dominar o medo do cavalo.
Ruffus caminhou até encontrar uma distância para o salto. A menina se agarrou ao pescoço do cavalo que saiu em disparada no escuro quase sem visão, apenas os barulhos do galope eram ouvidos pela menina, que estava de olhos fechados. De repente voou, planou e decolou por cima do portão, pousando do lado de fora da cerca. Correndo feito um doido com os cabelos dourados da menina voando sumiu na escuridão.
Eles vivem correndo e saltando sobre as madeiras e sobre a água até hoje.
Garanto para vocês que essa história é verdadeira, se tiverem dúvidas, basta procurar a menina de cabelos dourados e ela confirmará tudo o que aconteceu, mas leve uma cenoura para o Ruffus que ele gosta.
Paulo Ribeiro de Alvarenga
Criador de Vaga-Lumes
Iluminando Pensamentos