Rei do Pastel
Vai um pastel aí ?
Rodar por estas estradas, sem dia nem hora para chegar, sempre foi seu sonho. Filho de caminhoneiro, aprendeu desde criança, a sentir o cheiro do pneu, o gosto da poeira e a curtir o ronco do “possante” nome dado ao inseparável caminhão, um Chevrolet “queixo duro” de cor azul.
Chegada as férias, não havia nada mais desejado que uma viajada, de preferência para lugares novos e o mais distante possível, oportunidade que tinha de estar por mais tempo lado do pai. Atento a tudo que acontecia, guardava todo o sabor da aventura para poder contar aos amigos, que por certo morreriam de inveja.
Em uma destas viagens, passou a conhecer seu pai de uma forma diferente, percebeu que entre os amigos, ele era conhecido pelo nome singelo nome de rei. O pessoal da estrada o chamava “ Rei do pastel”. Não demonstrou nenhuma estranheza ao ouvir alguém chamá-lo assim, mas por seu olhar, percebia que ficara constrangido pelo tratamento recebido na sua presença.
Cheio de curiosidade, na primeira oportunidade que teve, procurou saber do pai, a razão daquele apelido. Este, após desconversar, mudou o rumo da prosa, justificando depois que era por gostar muito de comer pastel, coisas de quem vive na estrada, proibindo-o de comentar o assunto, em casa e muito menos na presença da mãe, que sempre reclamava por desconfiar que ele comia qualquer coisa que encontrava pelas estradas.
- Isto é pilhéria da turma, é conversa de caminhoneiro...
Não procurou entender, apenas concordou e para selar o acordo, ao final da conversa foram comer um autentico e bom pastel com caldo de cana. Um verdadeiro manjar... Por fim, sentia-se orgulhoso por guardar um segredo que parecia ser muito importante, e assim continuaram a viagem sem falarem mais no assunto.
Dias depois, de volta à estrada, foram surpreendidos por um problema no sistema de freios, que lhes consumiu as últimas horas do dia. Já era noite quando chegando a um lugarejo às margens da rodovia, pararam em um posto de combustível. Bastante enfadado, em estado de sonolência, permanecia deitado no banco tendo o colo do pai como travesseiro, sendo despertado uma vez ou outra por uma voz feminina que falava para o pai:
- Vai um pastel de cabelo hoje?