O despertar (2)
O despertar (2)
Quando tudo parecia estar em trevas e o viver representava
um tremendo turbilhão de tristeza, olhar em volta constatando
só melancolia, na ausência de belíssimas flores e dos pássaros,
principalmente dos que gorjeiam tão maravilhosamente e a morte violenta a rondar passo a passo, então surge a felicidade de existir o despertar!...
O lugar era terrível, quase sem vegetais parecia não existirem as belas flores, nem a presença dos majestosos pássaros, o ar seco deixava entrever a grande ausência de água. As montanhas salpicadas de pedras, ajudavam a tornar-se melancólica a vida das pessoas, delas pude notar a imensa tristeza, sem a perspectiva de alguns instantes de felicidade, os homens com barbas cerradas com vestes pouco tradicionais, vários panos enrolados pelo corpo em seus semblantes de aspecto duro notava-se a mágoa em todo o seu ser, ao passar a mão em meu rosto e olhando minhas vestes não me enquadrava com eles, mas por que? Eu estava ali no meio deles, era tudo uma interrogação! Um verdadeiro enigma!...
Nas ruas um turbilhão de pessoas que pareciam bonecos sem perspectiva de vida, as mulheres todas cobertas nem seus rostos deixavam aparecer, demonstravam-se resignadas com a sorte, o caminhar delas era taciturno, deixavam entrever a completa falta de liberdade de conversar, olhar as pessoas, pareciam proibidas até de pensar, mais uma vez pude notar que minha esposa não se enquadrava também neste quadro, a interrogação continuava...
A tela continuava se abrindo na minha frente: imensidão de crianças, todas pareciam ocupadas, seus aspectos eram bastante humildes porque ocupavam-se de tarefas muito duras. Os maiores já se portavam como adultos, os menores, alheios a tudo, eram alegres e cativantes; nesse momento lembrei-me de meus filhos, ao todo cinco, três rapazes e duas moças, mas não sabia onde estavam, minha mente era uma névoa densa.
No meio desse turbilhão, um estrondo! Pessoas apavoradas corriam sem direção, o que vi, era macabro: vários corpos em pedaços, homens, mulheres, jovens e crianças; homem bomba! Era o comentário geral. O lamento das pobres criaturas atingidas era comovente, quase que inimaginável.
Mas a situação macabra continuava, via várias casas sendo destruídas por bombardeios, gritos choros por todo canto era ouvido, então faço a pergunta: ---- porque meu Deus, está acontecendo isto aqui no Brasil? Brasil!... Dou um sobressalto da cama, acabava de ter um terrível sonho.
Não acreditando na realidade, conferi tudo e constatei que meus entes queridos estavam todos bem.
Madrugada à dentro continuei em meus pensamentos: --- estamos no ano 2006, nós brasileiros vivendo momentos difíceis, a distribuição de renda continua desproporcional, o dólar subindo parecendo controlado, mas e os assaltos estrondosos praticados por tantos poderosos? Deixando-nos sem esperança de um futuro promissor, pelo menos para os nossos descendentes, porque percebemos que no momento não existem opções de empregos, neste país gigante e tão privilegiado pela natureza! Esta grande falha acarreta infortúnios nos lares, tornando-se quase impossível para muitos comprar os gêneros de primeira necessidade. Vivendo na região sudeste, considerada uma das mais privilegiadas, consigo presenciar estes fatos, o que dizer dos irmãos brasileiros de regiões tão castigadas?
Regiões que seus filhos morrem à míngua, onde os pais envelhecidos pelos sofrimentos, sol e trabalhos duros nas terras que negam os alimentos para seu sustento; eles saem em busca desenfreada mendigando um pedaço de pão às suas crianças subnutridas, e algumas morrendo de inanição.
Será que estas desigualdades farão o Brasil tornar-se um país sombrio, onde os descendentes dos tão desamparados pela sorte, que sobreviverem dos infortúnios, conseguirão amealhar tanto ódio e poder, tentarão destruir os descendentes daqueles que tudo tiveram ou mesmo daqueles que nunca tiveram muito?
A madrugada passou, aí que despertei completamente porque nestas indagações, era como se estivesse naquele terrível sonho!...
Curiosamente quis ver o raiar do dia, ao abrir a janela vislumbrei com o raiar do sol que era deslumbrante e de uma luminosidade tal que jamais esquecerei, as montanhas que recebiam os raios, eram totalmente revestidas de verde, na minha memória, pude visualizar o belíssimo parque das Águas de minha magnífica cidade: São Lourenço, parque das puríssimas e benfazejas águas minerais, local totalmente cercado do verde que salvaguarda este líquido miraculoso e no centro o grande lago, possibilitando uma paisagem inebriante!...
Não satisfeito, quis observar as pessoas da minha rua, elas pareciam felizes e o cumprimentar era alegre e sincero, tinha a nítida impressão que elas davam a boa referência de todos os habitantes desse meu imenso país.
Aí pensei: o Brasil nunca será um país sombrio, de constantes desforras, que desencadeia medo e destruição, quer dizer! Assim espero!...
--- Ano 2006 ---
E agora em pleno ano de 2016, ainda espero que o Brasil não seja um dia um país sombrio!...
Mas, nossa! Já passou 10 anos e ainda sonho com os olhos abertos, consigo ver essa natureza linda, constato que o meu povo lindo, cheio de mistura, a bondade chega a contrapor tantas desigualdades que ainda faz meu povo sofrer.
--- Sim, ainda vejo uma sombra no ar!!!...
27/02/2016