Entre Universos
OU
O Mantra da liberdade
Liceu Bernardo infringe-se contra as chamas que nascem do solo. Queimando e ferindo sua pele, mas a liberdade fala em seus ouvidos e da ponte do perigo ele se liberta, lançando ao caos o seu grito de fúria... desejoso daquilo que lhe é precioso.
Fatigado pela empresa que manteve cai entregue em solo quente. Fitas de suor dançam pelo seu rosto. Buscando forças para levantar o seu corpo, em estado crítico, escuta de longe um grito frágil e desesperado de uma mulher, em seus cinquenta anos, marcas de vida em seu rosto, olhos marejados e os ombros carregando de um lado a culpa pelo pecado e no outro a sina de viver:
- Querido, longe vás pela imensidão, não parta de meu seio aflito, desejo a morte ante te perder...
O jovem arrastando sua fraqueza para o precipício do acaso levanta-se estampando no rosto moreno um sorriso fundo, profundo... beija a testa da mulher que lhe gritou aflita, acariciando sua face tristonha para dizer-lhe...
- Além-mundo me pertence, deixo tudo hoje para trás, um homem sem aventuras carrega o medo... medo da vida.
A mulher em prantos recebe o último abraço daquele que em luz se dissipa. O jovem aponta para o futuro, por além do céu, além do vale, além da floresta... onde o mundo a ele oferta a liberdade.
- Para onde está indo, que nos deixa em prantos? - Ainda indaga conformada pela partida de seu amor...
- Para onde os ventos me levarem - Respondeu entristecido, porém com fibra, o liberto.
Com um salto do alto precipício rumo ao nada despede da antiga vida que o balançou entre negações. Não seriam as dores da perda capazes de limitá-lo, muito menos qualquer sentimentalismo. Para ideais ele vivia e em seu mar de fúria se entregou. No entanto, não antes de recitar seus versos:
"Vou voar pelos ares da esperança e atravessar o vale da pequenez, embrenhar-me no emaranhado da loucura... lá onde jaz o poder dos deuses."
E se desfazendo entre sombras e luzes, a massa de seu corpo torna-se invisível, entre a mulher saudosa e o resto de civilização que lá sobrou ele grita:
"E que o acaso nos guie!"