-1- O Homem e o Cavalo
Nunca se viu por estas bandas um animal tão majestoso e dócil quanto aquele cavalo marrom que trazia o pobre homem em frangalhos. Seu andar cadencioso e preocupado não prejudicava ainda mais as mazelas no corpo do homem. Ambos lutaram na guerra, não se sabe qual dos dois melhor se apresenta. O cavalo morria de sede, o homem de medo. O cavalo cheirava a cansaço e o homem, sangue.
Tudo isso era testemunhado por um belo por do sol. O céu era tingido pelo bronze do sol. O ar rarefeito contrastava com rajadas de vento aqui e ali, e corvos agourentos grasnavam alegremente ao sentirem o cheiro agridoce de sangue. As nuvens, feito um lençol imaculado desciam sobre o morro cheio de pedras e encostas. Ouvia-se o estilhaçar de cascalhos feito pelos cascos cansados do cavalo. O homem não mais gemia.
O cavalo para e o homem reconhece que chegou em casa. O ar não enchia mais seus pulmões mesmo assim conseguiu sentir o aroma de pão sendo assado. Delicadamente, o cavalo dobra suas pernas dianteiras e deita no chão. O homem rola de lado e agora assentado sobre a terra úmida olha para o céu já escuro. Ele fecha os olhos não antes de notar dois rostos: um familiar, outro, mesmo desconhecido, ele sabia a quem pertencia. Vá para 61.