A GUERRA DAS TORCIDAS ORGANIZADAS - O INÍCIO
Por volta de 1955 eu morava na Vila Santo Estevão, um bairro além do Tatuapé, em São Paulo.
Éramos um grupo de uns 15 meninos, entre 9 e 12 anos.
Certo dia, chegou um dos mais velhos e disse,
As mamonas já estão no ponto, está na hora de fazer a guerra com a turma da Vila Carrão.
Eu não sabia do que se tratava, morava ali só há 6 meses, então me falaram que todos os anos eles faziam esta guerra contra a turma da Vila Carrão.
Fui convocado para participar. Não quis ao saber como era, mas ajudei na preparação.
Atravessamos a mata Paula a Souza, que era bem grande, com árvores frondosas e bem fechada, era mata mesmo! Sempre num grupo grande, se topássemos com o outro grupo, o pau comia, era briga mesmo.
Seguimos por uma trilha no meio da mata até chegarmos na Vila Formosa, lá na casa de um homem compramos os estilingues.
Voltamos já armados. Marcaram o dia do confronto, que seria num campo de futebol, três quadras de minha casa.
Colhemos bastante mamonas que eram abundantes nos terrenos vazios ao redor do campo de futebol. Que nem era cercado.
No dia marcado, depois do almoço, partiram para o combate, eu só de longe observando. Era uma guerra mesmo!
Começavam, um grupo de cada lado do campo e iam se aproximando, atirando o mais rápido possível as mamonas.
Nosso grupo por ser mais ágil , começou a levar a melhor, eles começaram a recuar. Neste momento um dos meninos que recuavam caiu, e foi o alvo de quase todos do nosso lado, eram tantas mamonadas, que ele se encolheu na posição fetal para proteger o rosto.
Eu que só assistia de longe, corri e gritei para que parassem, iriam machuca-lo muito, mas não me deram ouvidos, por sorte acabou a munição, eles voltaram para colher mais mamonas e deu tempo para os outros meninos ajudarem o colega caído, e fugiram. Foi um alegria total do nosso grupo, fiquei sem comemorar, nunca tinha visto tanta violência e selvageria. Após um ano mudei dali e nunca mais tive notícias deste grupo.
Hoje ficou pensando: será que isto não era o início da guerra das torcidas organizadas de hoje? Será que os genes violentos dos meninos daquela época foram transmitidos ao jovens de hoje?
É bem possível! Eu acredito que sim!